Título: Os herdeiros de Dilma
Autor: Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 02/11/2009, Política, p. 3

Movimentação nos bastidores é intensa na tentativa de encontrar o nome ideal para substituir a ministra da Casa Civil durante a campanha eleitoral. Funcionários de carreira e figuras ilustres do Partido dos Trabalhadores se destacam no quadro de apostas

A provável saída da ministra Dilma Rousseff do governo para concorrer ao Palácio do Planalto levantou o debate sobre quem será seu sucessor na Casa Civil(1). O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), abriu a temporada de especulações após sugerir, no início de outubro, que a pré-candidata do partido se ausente do cargo logo após o congresso da legenda, marcado para fevereiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, já afirmou que quer a ministra ao seu lado no cargo até o limite do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral, no início de abril.

Os nomes de Erenice Guerra e Miriam Belchior surgiram, inicialmente, como sucessoras naturais. Ambas compõem a estrutura da Casa Civil e são de confiança da petista. Erenice é secretária executiva da pasta e assume as tarefas na ausência de Dilma, fato cada vez mais frequente com a retomada de viagens de Dilma pelo país na comitiva presidencial. Miriam é secretária executiva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um dos projetos mais importantes para o governo, além de ser amiga de longa data de Lula. Mas o próprio presidente e a ¿mãe do PAC¿ têm em mente outras opções.

Para Dilma, o ministro Paulo Bernardo é um bom nome para ocupar a função durante o período da disputa eleitoral. O titular do Planejamento, amigo da ministra, não teria resistência em receber sugestões e críticas da antecessora. Assim, Dilma manteria influência sobre as decisões da Casa Civil. Apesar de algumas broncas mais duras que já recebeu da candidata de Lula, Paulo Bernardo e a ministra têm bom relacionamento. Mas, na visão do presidente Lula, o nome certo poderia vir do PT paulista.

Fator Ciro De acordo com o cenário da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o deputado federal Antonio Palocci (SP) pode ser uma opção. O parlamentar faz parte do grupo disposto a fortalecer uma aliança nacional para dar sustentação à candidatura de Dilma. Para isso, a legenda pode abrir mão de um candidato próprio ao governo de São Paulo e apoiar o nome de Ciro Gomes (PSB-CE) no estado.

O deputado, no entanto, afirmou que a decisão será tomada somente no próximo ano. Palocci poderia optar, ainda, por concorrer à reeleição na Câmara, mas o desgaste com o caso da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa ¿ mesmo com a rejeição da denúncia pelo Supremo Tribunal Federal ¿ pode atrapalhar seus planos. O cargo de ministro da Casa Civil surgiria, assim, como uma boa solução. Na visão de Lula, Palocci não estaria submetido às opiniões de Dilma ¿ o que deixaria a candidata do PT mais focada na corrida presidencial.

Petistas sugerem, ainda, o nome do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, coordenador informal da pré-candidatura de Dilma. A opção também depende de uma melhor definição da disputa pelo governo de Minas Gerais. Pimentel concorre com o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, pela indicação do partido. Ambos, entretanto, são pressionados a apoiar a candidatura do peemedebista Hélio Costa, titular da pasta de Comunicações.

1- Assessoria presidencial A Casa Civil surgiu em 1938 como Gabinete Civil, chefiado pelo secretário da Presidência da República. Na década de 70, o titular da função ganhou status de ministro e, duas décadas depois, o termo Casa Civil foi ratificado em lei. A instituição coordena as ações do governo federal e presta assessoria direta ao presidente da República. Cabe ao órgão, por exemplo, garantir a constitucionalidade de propostas encaminhadas pelo Congresso à sanção presidencial e a publicação dos atos oficiais. No governo Lula, o primeiro a assumir a função foi José Dirceu, ex-deputado federal do PT que teve os direitos políticos cassados sob acusação de ser o mentor do mensalão. Recentemente, em depoimento à Justiça, a ministra Dilma Rousseff, sua sucessora no cargo, afirmou que o colega de partido foi injustiçado.