Título: Apostas do DEM para vice
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2009, Política, p. 5

Ciente de que dificilmente Serra e Aécio formarão chapa juntos em 2010, partido cobra a fatura da aliança presidencial aos tucanos e pleiteia a preferência na definição do nome para vice da coligação. José Agripino é o favorito, mas custa a desistir da reeleição ao senado

Diante da impossibilidade de o PSDB formar uma chapa com os governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais) para disputar a Presidência da República, o DEM encontrou uma brecha para cobrar a fatura da aliança: reivindicar a vaga de vice-presidente. Essa definição seria bastante simples se não esbarrasse na falta de nomes agregadores e capazes de render votos em âmbito nacional na eleição do ano que vem. O nome mais forte nessa corrida interna renasceu das cinzas desde o último pleito presidencial. O líder no Senado José Agripino (RN) desponta como favorito por ter uma qualidade que em 2006 era vista como seu ponto fraco.

Agripino é a aposta por ser o nome que une a ala jovem e a histórica do DEM (que remonta aos idos do PFL). Funciona como ponte entre o presidente da legenda, Rodrigo Maia, e o cacique Jorge Bornhausen. Na última eleição presidencial, Agripino perdeu para o ex-senador José Jorge (PE) a candidatura de vice de Geraldo Alckmin por ser considerado desagregador (estava às turras com Bornhausen) e vir de um estado pequeno (não conseguiria agregar votos).

Agripino hoje é o oposto de 2006. O senador potiguar é lembrado por ser hábil em discursos e capaz de contrabalançar a timidez excessiva de Serra. ¿O Agripino é um trator num palanque. Ele tem uma posição que conciliaria as posições do partido¿, afirmou o líder na Câmara, Ronaldo Caiado (GO).

O senador, no entanto, diz não estar convencido a trocar a reeleição por uma incerteza presidencial. Alguns democratas dizem que ele colocou obstáculos para aumentar o cacife na negociação. ¿Será natural o DEM oferecer o nome¿, disse o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, apontado como outro dos concorrentes nessa briga interna. ¿O DEM, como o maior partido de oposição, com o mesmo tempo de televisão e de rádio que o PSDB, com quadros nacionais para participar do projeto eleitoral, tem que participar da chapa majoritária como vice¿, disse Caiado.

Palanque carioca

Outros dois nomes são lembrados pelos caciques do DEM. O próprio Caiado e o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O líder do partido na Câmara é apontado como azarão e Arruda, como carta fora do baralho, por estar focado na reeleição. Cesar Maia, como os outros cotados, também não quer abrir mão de seu projeto. ¿Sou candidato a senador¿, sustentou. Quem aposta nele como vice considera o fato de ele estabelecer um palanque forte no Rio de Janeiro para o PSDB. Principalmente levando em conta que PV, do deputado Fernando Gabeira, rompeu com os tucanos para se lançar na campanha da senadora Marina Silva (AC) à Presidência.

O impasse pela escolha do vice e a opção preferencial por um nome descartado em 2006 são indícios do clima complicado para a oposição em 2010. O presidente democrata Rodrigo Maia pressiona (1)pela definição ainda este ano do candidato tucano e saia em defesa da candidatura de Aécio Neves, por considerá-lo mais agregador do que seu correligionário, enfurecendo a turma paulista do PSDB. Num desabafo, Maia chegou a culpar o personalismo paulista de José Serra pelas rusgas entre os aliados.

1 - A toque de caixa Na avaliação dos democratas, é preciso acelerar o processo de escolha para emparelhar o jogo com a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão. A petista já fechou pré-aliança com o PMDB, selando compromisso de indicar o vice. No DEM e no PSDB, o sentimento majoritário é que os governistas largaram na frente. ¿Todos já fecharam aliança com o PT. É um processo que não volta mais¿, afirmou Ronaldo Caiado. Para o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, não há mais espaço para trabalhar por uma aliança que absorva outros partidos além de PPS e DEM. ¿Nessa altura, não creio¿, afirmou.