Título: Eterno celeiro
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2009, Economia, p. 10

Estudo da FGV mostra que participação de produtos primários nas exportações brasileiras aumenta a cada ano. Mesmo em um período de crise mundial, o Brasil não dá sinais de que avançará na venda de produtos mais elaborados

A participação das commodities nas exportações brasileiras vem crescendo substancialmente nos últimos anos. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra um avanço de 13 pontos percentuais na parcela de produtos agrícolas e minerais vendidos ao exterior entre 2006 e 2009. Há três anos, este grupo de mercadorias respondia por 41% do total das exportações. Em 2008, por 48%. E em 2009, os resultados até julho registram uma participação de 54%. Assim, o Brasil distancia-se do ¿sonho¿ de fortalecer-se como um exportador de produtos mais caros (leia análise da notícia).

De acordo com a economista Lia Valls, coordenadora do Centro de Estudos do Setor Externo da FGV, por ter um peso tão grande na balança comercial brasileira, o que acontece com as commodities acaba repercutindo sobre a conta total das exportações. Assim, no ano passado, o bom desempenho das vendas de produtos agrícolas e minerais foi responsável por 64% do aumento das exportações. Neste ano, enquanto as exportações caíram 24%, a venda de commodities (1)teve redução de apenas 15%.

O estudo mostra ainda que nos sete primeiros meses deste ano contra igual período de 2008, o grupo específico das commodities apresentou uma queda de 20,6% em seus preços, consequência, segundo a economista, da crise econômica mundial. Parte desta redução dos valores obtidos com as vendas destes produtos é decorrente da desvalorização do real entre outubro de 2008 e abril de 2009. Por outro lado, com custo mais baixo para os compradores, houve um aumento de 7,5% na quantidade vendida.

Tipos

O levantamento conduzido pela economista aprofundou a análise das commodities, dividindo o grupo de acordo com suas características. As commodities minerais apresentaram queda de 7,2% em seus preços. As combustíveis ¿ gasolina, petróleo em bruto, etanol, etc ¿ tiveram baixa de 51,2%; e as agrícolas, de 13,5%. Um comportamento diverso do ocorrido com os volumes vendidos. A procura por commodities combustíveis aumentou 16,6% e pelas agrícolas, 13,8%. Mas as minerais tiveram queda de 13,2%.

De acordo com Lia Valls, com base em seu estudo, o aumento das quantidades exportadas dos produtos agrícolas e dos combustíveis explica o incremento na participação e na contribuição das commodities nas exportações brasileiras nos sete primeiros meses deste ano.

Ao analisar as informações sobre preços e quantidades vendidas ao longo de dois anos (2007 a julho de 2009), o estudo apontou a tendência para cada grupo de commodities. Para as agrícolas, por exemplo, a estatística desenha uma curva de redução acentuada das quantidades vendidas a partir de maio deste ano, retornando ao patamar de junho de 2008. Mas os preços começam a aumentar gradativamente a partir de abril, ficando ainda distante do pico registrado em julho de 2008.

Já os dados referentes às commodities combustíveis apontam tendência de evolução de preços e quantidades exportadas. Em julho passado, em uma rápida recuperação, as quantidades vendidas ficaram pouco abaixo do pico deste período, registrado em novembro do ano passado. Os preços, porém, começam a reagir paulatinamente a partir de dezembro do ano passado, sugerindo uma tendência de alta desde então.

Por fim, o estudo mostra que a tendência das commodities minerais não é positiva. Preços e quantidades desenham uma linha reta, demonstrando tendência de estabilidade. Mas, analisando um período mais longo, a tendência dos preços é de queda a partir da cotação máxima alcançada em julho do ano passado. Desde então os preços só caem. Já as quantidades vendidas, depois do pico de baixa em dezembro do ano passado, se recuperaram um pouco, alcançando em julho passado o patamar de janeiro de 2007.

1 - A lista As principais commodities de exportações brasileiras são soja em grão; farelo de soja; óleo de soja em bruto; suco de laranja; açúcar em bruto; açúcar refinado; celulose; alumínio; carne suína in natura; carne bovina in natura; carne de frango in natura; semimanufaturado de ferro e aço; laminados planos; couro; fumo em folhas; minério de ferro; gasolina; óleos combustíveis; petróleo em bruto; algodão; milho; e etanol.

Análise da notícia Pesquisa e tecnologia

A balança comercial brasileira está cada vez mais baseada na venda ao exterior de commodities e menos em produtos manufaturados. Talvez seja esse perfil das exportações que tem levado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a manifestar com certa frequência seu desejo de ver os empresários acrescentando ¿valor agregado¿ às mercadorias ofertadas no mercado internacional. Para isso, no entanto, é preciso investir forte em pesquisa e tecnologia, o que não vem ocorrendo. De acordo com um ranking de inovação tecnológica elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa o 42º lugar em uma lista de 48 nações desenvolvidas e emergentes. Nesse rol, o país está à frente apenas de México, África do Sul, Argentina, Índia, Letônia e Romênia. O que explica este desempenho sofrível é o baixo investimento público e privado em pesquisa, as deficiências nas políticas de incentivo e a qualidade ruim da formação profissional. Tudo isso se reflete em nossa pauta de exportações. (LV)

Sobem as vendas para os EUA

Victor Martins Kleber Lima/CB/D.A Press - 16/1/08

Precisamos investir mais no mercado americano, onde nossa queda foi grande e desproporcional. A pauta de exportação com EUA é de insumos industriais, setor que foi bastante afetado pela crise¿ Welber Barral, secretário de Comércio Exterior

A balança comercial brasileira registrou saldo positivo de U$$ 1,3 bilhão em outubro, segundo pior resultado do ano, perdendo somente para janeiro, quando houve déficit de U$$ 529,4 milhões. Ainda assim, o desempenho de outubro é comemorado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Ele marca a recuperação de mercados importantes para o Brasil, principalmente dos Estados Unidos, para o qual a bandeira verde e amarela vendeu 17,6% a mais em outubro.

Dos onze maiores compradores do Brasil, somente China (- 19,6%), demais países da Ásia (-12,7%) e Oriente Médio (-14,8%) registraram retração nas exportações brasileiras na comparação entre setembro e outubro. No ranking das regiões onde o país conseguiu se recuperar, América Latina e Caribe aparecem em segundo lugar, atrás somente dos Estados Unidos.

Segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, os chineses haviam tomado espaço do Brasil, que começou a se recuperar em função de um aumento das exportações de produtos manufaturados, principalmente automóveis, peças, óleos combustíveis, açúcar refinado e aviões. ¿Realmente em outubro e setembro houve recuo de exportações por causa do fim da safra, mas houve também uma recuperação dos principais mercados¿, explicou o secretário de Comércio Exterior. ¿Provavelmente vamos continuar nessa trajetória de recuperação nos próximos meses¿, avaliou.

A despeito da melhora na exportação, no acumulado do ano o país ainda não conseguiu se restabelecer. A queda de vendas para o principal parceiro comercial brasileiro, os Estados Unidos, está negativa em 45,1% até outubro. A expectativa é que somente em 2010 esse deficit seja zerado. ¿Precisamos investir mais no mercado americano, onde nossa queda foi grande e desproporcional. A pauta de exportação com EUA é de insumos industriais, setor que foi bastante afetado pela crise¿, disse Welber Barral.