Título: Chile vai começar aumento dos juros
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 04/11/2009, Economia, p. 12

País andino deve ser primeiro a apertar política monetária e México, o último

Com o pior da crise mundial tendo ficado para trás e a retomada do crescimento se consolidando, a América Latina terá de encarar, em breve, um processo de aumento das taxas de juros. Segundo Bertrand Delgado, analista sênior para a região da Roubini Global Economics (RGE), consultoria do prestigiado economista americano Nouriel Roubini, o movimento de alta será iniciado no segundo trimestre de 2010 pelo Chile, o primeiro país latino a flexibilizar a política monetária em resposta ao estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. No Brasil, a tendência é de os juros básicos (Selic) subirem somente no fim do ano que vem.

¿Assim como foi agressivo nos cortes, para minimizar os estragos provocados pela crise, o Chile sairá na frente de novo, agora para conter possíveis pressões inflacionárias decorrentes do reaquecimento da economia¿, afirmou Delgado. A seu ver, o Chile sairá do atual quadro de deflação para o de inflação próxima a 3%, pois o crescimento no próximo ano será forte, em torno de 4,4%. A expectativa do economista é de que os juros chilenos, que, ao longo da crise, caíram 7,75 pontos percentuais, subam dois pontos, de 0,5% ao ano registrado hoje, para 2,5%. ¿Ainda assim, a taxa básica no Chile ficará abaixo dos juros neutros, de 5%¿, disse.

Na avaliação de Delgado, mesmo com a atividade econômica no Brasil tendo se retraído menos que no Chile ao longo deste ano

(-0,1% contra -1,4%, conforme previsão da RGE), o país poderá adiar mais o processo de alta dos juros, pois não há, pelo menos no cenário atual, qualquer sinal de que a inflação ficará acima do centro da meta, de 4,5%, em 2010 e mesmo em 2011. ¿Tudo leva a

crer que a Selic só subirá nos últimos três meses de 2010, de 8,75% para até 10,75%. Não se pode esquecer que haverá eleições presidenciais no Brasil. E não é comum subir juros nesse período¿, frisou.

Para Élson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, que também aposta na alta dos juros somente no fim de 2010, o que dá tranquilidade ao BC é o fato de as expectativas dos agentes de mercado indicarem inflação abaixo do centro da meta neste ano e no próximo. Isso, por sinal, ficou claro ontem depois da divulgação, pelo BC, da pesquisa semanal Focus. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2009 recuou de 4,29% para 4,27% e a de 2010, de 4,50% para 4,45%. ¿Além disso, a produção industrial de setembro cresceu 0,8%, mais um sinal de folga para a inflação¿, disse.

Segundo o analista da RGE, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) do México encolhendo 7,2% neste ano, os juros terão que subir pelo menos dois pontos no fim de 2010. O motivo: a resistência política a um ajuste fiscal mais consistente e duradouro. ¿O México deve ser o último grande país da América Latina a elevar os juros, pois foi o que mais sofreu, devido à dependência dos EUA¿, explicou. Na Colômbia, o aperto monetário deve ser de apenas um ponto, para 5% ao ano.

ROTA DE ALTA Processo de alta dos juros na América Latina

CHILE Alta de dois pontos percentuais, para 2,5% ao ano

BRASIL Alta de até dois pontos percentuais, para 10,75% ao ano

MÉXICO Alta de até dois pontos percentuais, para 6,5% ao ano

COLÔMBIA Alta de um ponto percentual, para 5% ao ano

Fonte: RGE Monitor