Título: Governo admite negociação em CPI
Autor: Santos, Danielle
Fonte: Correio Braziliense, 31/10/2009, Política, p. 4

Parlamentares do PT e do PMDB marcam encontro na próxima terça-feira para fechar indicações da comissão de inquérito do MST

A disputa para saber quem vai comandar a CPI Mista do MST, que tem como objetivo fazer uma varredura nas contas de cooperativas ligadas aos sem-terra que recebem dinheiro do governo, vai esquentar na semana que vem. Apesar dos principais partidos de oposição, DEM e PSDB, já terem indicado seus nomes para a composição da chapa, são as maiores bancadas, PT e PMDB, que estão adiando ao máximo as definições para ganhar tempo e evitar perder terreno para o inimigo. As lideranças das duas legendas pretendem se reunir na próxima terça-feira para bater o martelo nos indicados e, a partir de então, tentar uma negociação(1).

A polêmica gira entre a ala petista, que defende uma investigação mais branda e que não interfira nos interesses do governo em ano pré-eleitoral, e a ala peemedebista integrante da bancada do agronegócio, que quer o comando da CPI e inspecionar as políticas de atuação do Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos assentamentos.

Apesar da indefinição dos líderes, algumas apostas já surgem extraoficialmente. Nomes como o do ambientalista Anselmo de Jesus (RO), e de parlamentares como Assis do Couto (PR) e Eduardo Valverde (RO) circulam nos bastidores como os favoritos dos petistas e refletem a preferência por uma escolha menos ofensiva e disposta a negociar.

Apostas

Valverde, por exemplo, disse apostar num bom acordo para evitar prejuízos futuros. ¿A gente ainda tem que dialogar bastante porque eles têm nomes fortes da bancada ruralista, então, não é hora de dar tiro no pé¿, defende. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT), também amenizou o embate e apostou até numa boa composição da chapa para colocar os trabalhos em andamento. Mas desconversou sobre os nomes prediletos para a presidência e a relatoria. ¿Aqueles (nomes) são apenas cogitação, mas ainda não foi nada definido. A oposição está comedida e estou achando isso bom porque já que vai haver CPI, vamos fazê-la com bom senso em sem acusações desnecessárias.¿

Confirmando o temor dos petistas, o PMDB centrou numa linha de frente mais agressiva e, nos bastidores, vem dando preferência a nomes como o do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Valdir Collato (SC), e Asdrúbal Bentes (PA) para titulares. Contrários aos parlamentares do PT, os peemedebistas querem garantir a todo custo os principais cargos para evitar o que ocorreu com a CPI da Petrobras, que teve forte controle do governo e nenhum resultado prático nas investigações. ¿Vamos para a disputa ferrenha e esperamos saírem os nomes deles para colocar o que tivermos de melhor no enfrentamento¿, adianta Valdir Collato, que também ressaltou ser a bancada ruralista a responsável em dar a cartada final dentro do partido sobre o assunto.

No PSDB, o líder Arthur Virgílio (AM) apresentou os senadores Álvaro Dias (PR) e João Tenório (AL) para os cargos de titulares. O DEM foi a primeira legenda a se manifestar oficialmente: sugeriu Abelardo Lupion (PR) e Onyx Lorenzoni (RS) ¿ também ruralistas ¿ no posto de titulares e Jorginho Maluly (SP) e Vic Pires Franco (SP) para suplentes.

1 - Ampliação A negociação entre as duas maiores legendas, PT e PMDB, sem aparente prejuízo para o governo, pode ajudar a enterrar a proposta de ampliação das investigações voltadas às entidades do agronegócio, como queria a Frente Parlamentar da Terra, da qual o presidente é o petista Dr. Rosinha (PR). Eles guardam na manga um estudo que revela o montante de recursos públicos que os grandes produtores recebem para o financiamento de entidades.