Título: Os generais de Lula
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 03/11/2009, Política, p. 4

Apesar da saída da maioria dos ministros para disputar as eleições,o núcleo decisório do governo continuará quase o mesmo em 2010 Dulci trabalha para manter os movimentos sociais próximos de Lula

Pelo menos 20 dos 37 ministros devem deixar os cargos para disputar as eleições no próximo ano. Apesar disso, haverá pouca mudança no grupo que decide os rumos do governo: a chamada coordenação política, responsável por bater o martelo sobre projetos e estratégias usadas nos embates com a oposição. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice José Alencar, esse colegiado é composto por sete integrantes do primeiro escalão. Mantido o cenário atual, só dois deles concorrerão em 2010. A fim de evitar paralisações na dministração, serão substituídos por subalternos com conhecimento da máquina.

Escolhida pelo presidente sem negociação prévia com os partidos aliados, incluindo o PT, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, participará da corrida ao Planalto. Se prevalecer a vontade de Lula, deixará o posto em 3 de abril, na data-limite fixada pela legislação, com um risco mínimo de descontinuidade das ações sob sua responsabilidade. Em 2010, a pasta será tocada, como já ocorre nos últimos meses, por Miriam Belchior, secretária executiva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e Erenice Guerra, secretária executiva da Casa Civil. Ambas são da estrita confiança da ministra (leia mais na página 5) e despontam como favoritas para sucedê-la.

Já o titular da Justiça, Tarso Genro, tende a sair do governo entre dezembro e janeiro a fim de representar o PT no páreo pelo governo gaúcho. Adepto de soluções caseiras para o último ano de mandato, Lula deve efetivar na vaga o secretário executivo do ministério, Luiz Paulo Barreto. O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) chegou a ser cotado como substituto. Foi descartado porque não abre mão de disputar a presidência nacional do partido contra o ex-senador José Eduardo Dutra, nome preferido de Lula e de Dilma. ¿Ninguém vai inventar mais nada no governo. A partir de agora, é concluir o que já foi lançado¿, diz um auxiliar do presidente.

Lula aposta nos cinco outros integrantes da coordenação política para concluir com sucesso sua gestão. Ministro de Comunicação Social, Franklin Martins é um dos principais conselheiros do presidente. Define os discursos usados nos duelos com a oposição e a mídia. Recentemente, deixou os bastidores para atuar na linha de frente de ofensivas prioritárias, como a negociação do marco regulatório do pré-sal. Na reunião com governadores contrários à mudança na distribuição dos royalties, como Sérgio Cabral (Rio) e José Serra (São Paulo), coube a Martins partir para o confronto, deixando Lula e Dilma no confortável figurino ¿paz e amor¿.

Recém-empossado na Secretaria de Relações Institucionais, o petista Alexandre Padilha trabalhará até o fim do governo de olho nas eleições. Sua prioridade é azeitar a relação com prefeitos e governadores, importantes cabos eleitorais. ¿Queridinho¿ de Dilma, Padilha já cumpria tal missão no Planalto, mas como subchefe de Assuntos Federativos. O também petista Luiz Dulci não deve sair da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ator pouco afeito aos holofotes, continuará a cumprir a espinhosa missão de manter os movimentos sociais no entorno de Lula. Hoje, há apenas um foco de tensão visível, com o MST.

Aposta nos bastidores

Os outros dois ministros com assento na coordenação política são Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento). Mantega não tem pretensões eleitorais. Volta e meia, é alvo de reclamações de Lula por sua falta de tino político. Levou um pito, por exemplo, quando disse que não havia inflação generalizada, mas apenas nos alimentos. Péssima formulação a ser apresentada a um presidente da República, ainda mais com a história de vida de Lula. Já Bernardo, ex-deputado federal, é o mais político dos integrantes da equipe econômica.

Lula pediu a ele para que não concorra em 2010. A tendência é o pedido ser aceito. A chance de isso não ocorrer reside no fato de a esposa de Bernardo, Gleisi Hoffman, ser candidata ao Senado no Paraná. Se ela precisar de ajuda na campanha, o ministro pode deixar o governo. No último ano de mandato, o presidente também conta com seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Integrante informal da coordenação política, Carvalho é o principal operador político de Lula. O homem convocado para as missões mais delicadas.

Recentemente, coube a ele comandar as articulações destinadas a esfriar a denúncia de ingerência indevida da ministra Dilma Rousseff na venda da Varig para o fundo norte-americano Matlin Patterson. Carvalho também está na linha de frente das negociações relacionadas à candidatura da chefe da Casa Civil. (DP)