Título: Presidente contestado
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 03/11/2009, Política, p. 7

Para ambientalistas e gestores, criar cooperativas de catadores, como sugere Lula, não resolve o problema do lixo

Em programa de rádio, Lula cobrou dos prefeitos atenção com a reciclagem

A cobrança aos prefeitos de todo o país para que formem cooperativas de catadores de material reciclável, feita ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu programa de rádio semanal, Café com o Presidente, esconde problemas mais complexos referentes ao tema. O alerta vem não só dos próprios gestores municipais, mas também da seara ambientalista. De acordo com Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios, mais uma vez o governo federal cobra dos prefeitos ações nas quais a União tem que participar, inclusive com os recursos necessários. Além disso, ele chama a atenção para as recomendações dos tribunais de contas e ministérios públicos Brasil afora em relação a cooperativas de uma forma geral. ¿É óbvio que há entidades sérias, mas muitas funcionam apenas como fachada, são empresas na realidade. Então, a criação dessas instituições, mesmo na área do lixo, não é algo assim tão rápido e simples como pode parecer¿, destaca Ziulkoski. Um estudo prestes a ser apresentado pela Confederação Nacional dos Municípios mostrará que o índice dessas unidades da Federação que realizam coleta seletiva está bem abaixo dos 56% estimados pelo levantamento mais atual da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Isso porque a pesquisa da entidade utiliza como parâmetro a quantidade de municípios que indicaram ter iniciativas de coleta especial do lixo, enquanto o estudo da Confederação promete ser uma radiografia mais detalhada.

Seja qual for o percentual real de municípios a recolherem e destinarem de forma responsável os dejetos, Gustavo Souto Maior, presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e professor da Universidade de Brasília (UnB), lamenta que a criação de cooperativas tenha de ser incentivada. ¿O ideal é que não existisse a necessidade de haver catadores de lixo. Mas, no contexto atual, temos de apoiar essas entidades. Muitas fazem um bom trabalho, inclusive no âmbito social¿, destaca. Ele ressalta, entretanto, que a formalização dos trabalhadores não pode inibir uma conscientização da sociedade.

¿As pessoas precisam entender que o lixo é um problema de todos. Até porque cada cidadão produz, em média, um quilo por dia. Não basta recolher e colocar na porta de casa. Temos de nos unir em torno das melhorias, que incluem a construção de locais apropriados para a alocação¿, destaca Souto Maior. O especialista aponta o próprio DF como ¿vergonha ambiental¿ por não contar com um aterro sanitário. A maior parte das 2 mil toneladas de resíduos produzidas por dia na capital vai para o lixão a céu aberto da Estrutural. ¿Imagino que uma forma rápida de resolver essa questão seria depositar essa quantidade de material no Eixão ou nas vias centrais dos lagos Sul ou Norte¿, provoca.

Resíduos Um dos passos para disciplinar o manejo do lixo está nas mãos do Senado. Aprovado recentemente na Câmara dos Deputados, o projeto que institui o Plano Nacional de Resíduos Sólidos cria responsabilidades aos geradores de resíduos, como indústrias, hospitais, além do cidadão comum. Pela proposta, assinada pelo presidente Lula em 2007 e encaminhada ao Congresso, os geradores de resíduos sólidos terão de adotar medidas de compensação ambiental e ações de reciclagem que gerem renda aos catadores.

Colaborou Mirella D¿Elia

O descaso com o lixo

Brasil 44% dos municípios não fazem coleta seletiva 56% dos municípios afirmam ter iniciativas de coleta seletiva

Nas regiões

Norte 57% dos municípios não fazem coleta seletiva 43% dos municípios afirmam ter iniciativas de coleta seletiva

Centro-Oeste 77% dos municípios não fazem coleta seletiva 23% dos municípios afirmam ter iniciativas de coleta seletiva

Nordeste 66% dos municípios não fazem coleta seletiva 34% dos municípios afirmam ter iniciativas de coleta seletiva

Sudeste 22% dos municípios não fazem coleta seletiva 78% dos municípios afirmam ter iniciativas de coleta seletiva

Sul 25% dos municípios não fazem coleta seletiva 75% dos municípios afirmam ter iniciativas de coleta seletiva

800 mil Número estimado de catadores espalhados no Brasil

45 mil Quantidade de catadores vinculados a cooperativas

50% Percentual das cerca de 600 cooperativas no Brasil situadas nas regiões Sudeste e Sul

Fonte: Associação Brasileira de Empresas Públicas e Resíduos Especiais (Abrelpe) e Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável