Título: CPI do MST empaca
Autor: Santos, Danielle
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2009, Política, p. 7

Duas semanas após a criação da CPI mista do MST, o barulho criado em torno das investigações aos repasses de entidades ligadas aos sem-terra parece ter perdido a força. Mesmo após algumas reuniões entre os partidos encarregados de conduzir os trabalhos, os nomes que irão integrar o comando sequer foram definidos. A morosidade reflete a estratégia governista de frear o assunto. PT e PMDB detém os principais cargos da comissão ¿ a presidência e a relatoria. A oposição não tem dúvidas de que há um ¿acordão¿ na base aliada para esvaziar a CPI e evitar potenciais desgastes.

¿Temos pouco mais de um mês para encerrar as atividades do ano e, sinceramente, o caminho parecer ser o da prorrogação dos trabalhos para o ano que vem¿, afirmou o líder do PSol, Ivan Valente (SP). Segundo ele, a toada de PT e PMDB tem como foco empurrar o tema para 2010 e, diante do ano eleitoral, terminar de pulverizar a importância da comissão.

O líder petista na Câmara, Cândido Vacarezza, admite uma negociação amigável em troca de tentar restringir as investigações ao que pede o requerimento e evitar uma inspeção nas políticas de atuação do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos assentamentos da reforma agrária. ¿O que há é um acordo natural entre os partidos para que a condução seja possível de acontecer¿, diz o parlamentar.

Colateral Por vias tortas, o acordão beneficia, inclusive, a bancada ruralista, que tem representantes tanto na base aliada quanto na oposição. Isso porque, quando se sentiram acuados, os representantes ambientalistas do governo ensairam uma tentativa de ampliar o leque das investigações e chegar às entidades ligadas ao agronegócio. ¿Estamos com os ânimos acalmados depois de tanta agitação. A tendência agora é fechar um acordo para que ninguém saia perdendo¿, argumenta Dr. Rosinha (PT-PR). Ele já havia ameaçado os ruralistas de levar um estudo para a CPI que comprovaria os gastos irregulares das cooperativas do setor com dinheiro público.

Quem não está gostando da novidade é a ala mais radical do PMDB, ligada ao agronegócio. Responsáveis por emplacar a CPI após uma primeira tentativa frustrada, eles mostram desconforto com a tutela do partido na questão. Apesar de concordar que o prazo é curto para começar os trabalhos este ano, o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) promete arregimentar aliados para evitar o que ocorreu, segundo ele, com a CPI das Petrobras, que teve forte controle do governo e nenhum resultado prático. ¿É uma questão de honra moralizar a discussão da reforma agrária e eu vou fazer o que for preciso para essa CPI andar¿, afirma.

Memória Estica e puxa

A ala ruralista do PMDB e a oposição demoraram cerca de um mês para emplacar a criação da CPI do MST mesmo sob forte pressão da base aliada, contrária à ideia de investigar as cooperativas ligadas aos sem-terra. Na primeira tentativa, um número suficiente de assinaturas foi recolhido, mas o governo conseguiu convencer 45 parlamentares, na última hora, a retirarem as assinaturas do documento. Diante da derrota, a oposição fez uma nova tentativa e dessa vez ameaçou divulgar na internet os nomes de quem desistisse do requerimento. A estratégia surtiu efeito: a CPI foi criada no fim de outubro com uma margem razoável de assinaturas: 188 na Câmara e 35 no Senado. O mínimo seria 171 e 27.