Título: IOF espanta especuladores
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 05/11/2009, Economia, p. 30

A taxação imposta pelo governo à entrada do capital estrangeiro no país, desde 1º de outubro, continuou a mostrar resultados até 19 do mês passado. Houve recuo de quase 75% no ingresso dos investimentos de curto prazo

As fortes retiradas de recursos da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) por investidores estrangeiros levaram o fluxo financeiro para o país a registrar um tombo de 74,89% nos últimos nove dias úteis de outubro, período impactado pela decisão do governo de taxar esse capital com Imposto sobre Operações Finaneiras (IOF) de 2%. Segundo o Banco Central (BC), o saldo médio diário da conta financeira, que ficou em US$ 919,2 milhões entre os dias 1º e 19, caiu para apenas US$ 230,7 milhões no restante no mês, revelando a falta de disposição do dinheiro externo de curto prazo de arcar com o tributo. Apesar do recuo, o superávit da conta financeira ¿ contaminado pelo lançamento de ações do Banco Santander ¿ totalizou US$ 13,1 bilhões em outubro, o maior já registrado desde 1982, início da série histórica do BC.

¿Não há dúvidas de que, num primeiro momento, os estrangeiros sentiram o baque do IOF e se retraíram. Mas não acredito que esse comportamento se manterá por muito tempo, pois as perspectivas para o Brasil são muito boas. Com o país crescendo 5% ao ano, não será um bom negócio ficar de fora da bolsa brasileira¿, disse o economista Clodoir Vieira, da Corretora Souza Barros. Segundo ele, até 19 de outubro, quando o Ministério da Fazenda anunciou a taxação do IOF, a Bovespa computou ingresso líquido (menos saques) de US$ 2,9 bilhões. Nos dias seguintes à taxação, esse saldo encolheu para US$ 700 milhões.

Mais cético, o analista Demétrius Borel Lucindo, da Prosper Corretora, não vê um retorno tão rápido dos estrangeiros para a Bovespa. A tendência, disse ele, é de o capital externo se concentrar mais da Bolsa de Nova York, onde são negociados papéis das principais empresas brasileiras. Nas contas do mercado, desde o anúncio do IOF, estima-se que o volume de transações com títulos de companhias nacional na New York Stock Exchange (Nyse) tenha aumentado até 80%. ¿É preciso admitir que, da forma como estava antes do IOF, com dólar desabando, o governo tinha que fazer alguma coisa para proteger as empresas exportadoras. E, caso os 2% não sejam suficientes para deter o fluxo de capitais, o IOF pode aumentar para algo entre 4% e 5%¿, assinalou.

Superávit

Com a conta financeira bombando, o saldo final do fluxo cambial de outubro ficou em US$ 14,6 bilhões, o segundo maior superávit mensal já computado na série histórica do BC, atrás apenas de junho de 2007 (US$ 16,5 bilhões). Desse montante, o BC arrematou US$ 6,7 bilhões, a maior compra mensal desde março de 2008, conforme os números disponibilizados pela instituição. Não fossem essas aquisições e o IOF, os preços do dólar já estariam encostando em R$ 1,60, patamar considerado desastroso para as exportações do país, por tirar a competitividade dos produtos fabricados aqui.

O restante das sobras de recursos foi parar no caixa dos bancos, que, com isso, passaram a apostar na alta do dólar. As instituições se desfizeram de dólares sem tê-los no caixa, apostando que, mais à frente, comprariam a moeda mais barata ¿ o que, de fato, aconteceu.

Não há dúvidas de que, num primeiro momento, os estrangeiros sentiram o baque do IOF e se retraíram¿

Clodoir Vieira, economista da Corretora Souza Barros

Bovespa sobe 2%

O principal índice do mercado acionário brasileiro (Ibovespa, da bolsa de São Paulo) fechou em alta pelo segundo dia consecutivo, amparado por quadro externo favorável. O ganho foi de 2,03%, sendo que o resultado da CSN, acima do esperado, ajudou (leia mais na página 27). O aguardado comunicado do Federal Reserve (banco central dos EUA) não trouxe novidades ao manter a taxa básica de juros em 0% e 0,25% ao ano, reafirmando que vai manter o patamar excepcionalmente baixo por um período longo. O fato é considerado positivo. O volume financeiro do pregão somou R$ 6,6 bilhões. Operadores disseram que o índice local persiste em um canal de alta no longo prazo. Profissionais do mercado, contudo, notaram estrangeiros tanto na venda como na compra, com igual força. A Bolsa de Nova York fechou em alta de 0,31%.