Título: Onze novos indenizados
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2009, Política, p. 13

Governo estende o benefício a familiares de militantes da esquerda durante congresso do PCdoB. Dívida histórica inclui 30 mil pessoas. Coordenador da comissão de anistia, Paulo Abrão lamenta que muitas vezes é difícil reunir provas 30 anos depois

São Paulo ¿ A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu ontem mais 11 indenizações a militantes do PCdoB que foram perseguidos por agentes do regime militar e a familiares de mortos e desaparecidos políticos. O julgamento ocorreu durante o 12º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em São Paulo, e teve a presença do ministro da Justiça Tarso Genro.

Desde que foi instituída a comissão, em 2001, houve 65 mil pedidos de indenização. Desses, 30 mil foram deferidos, sendo que 10 mil receberam indenização e 20 mil ganharam do governo apenas uma carta com pedidos de desculpas. Pelo menos 15 mil pedidos foram indeferidos por falta de provas ou ausência de documentos necessários. A cada ano chegam mais 4,4 mil solicitações.

Todo mês, o governo federal gasta cerca de R$ 2,5 bilhões em pagamentos de pensões vitalícias a vítimas da ditadura e a familiares de mortos e desaparecidos políticos. A média da quantia paga por família é de R$ 2,1 mil. O coordenador da comissão, Paulo Abrão Pires, diz que existem dois tipos de indenização: a que é paga em cota única e a que é oferecida em forma de pensão mensal. ¿Muitas vezes é difícil reunir provas porque já se passaram 30 anos¿, ressalta Pires.

¿Atropelado¿ A psicóloga Maria Ester Cristelli Drumond, 65 anos, veio de Paris especialmente para ver o seu pedido sendo julgado pela comissão de anistia. Seu marido, João Batista Drumond, comunista, morreu aos 34 anos, logo depois que foi preso por militares do Destacamento de Operações de Informações ¿ Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de inteligência e repressão do governo durante o regime militar. ¿Ele foi preso enquanto seus amigos eram metralhados. Depois, entregaram o corpo dele dizendo que ele fugiu da cadeia e foi atropelado¿, relembra, emocionada.

Maria Ester também militava no PCdoB . Ela conta que usava vários codinomes e que fugiu do Brasil logo depois de enterrar o marido. ¿Saí do Brasil com nome falso porque tinha medo de morrer¿, relata. Há 15 anos mora em Paris e tem cidadania francesa. Ontem, ela recebeu R$ 244,9 mil e mais uma pensão vitalícia de R$ 3.472,34.

Para o ministro Tarso Genro, a reparação financeira é simbólica. ¿O que a repressão militar fez no passado é impagável e impossível de ser reparado¿, afirmou. ¿Os militantes que lutavam contra o regime gostam de se exibir publicamente porque não têm vergonha do que fizeram no passado. Já os agentes da ditadura que exerciam um dever maldito não se expõem porque têm medo e vergonha da família e da sociedade¿, ressaltou o ministro.

Tarso rebateu as críticas de que as indenizações que o governo paga é uma espécie de ¿bolsa ditadura¿. ¿Não se trata disso. É uma visão equivocada. Trata-se de um processo indenizatório previsto na Constituição. E quem falar mal desse pagamento desconhece a dívida que a sociedade tem com essas pessoas¿, ressaltou.