Título: O sistema não é 100% seguro
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2009, Política, p. 2

Pré-candidata do presidente Lula rompe a blindagem e admite que o governo não pode garantir eficiência total na rede elétrica

Ninguém promete que no sistema de transmissão, de milhares de quilômetros de rede, não vai ter apagão. Prometemos que não terá mais neste país racionamento. Racionamento é barbeiragem¿ Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil

Pressionada pelo ataque dos oposicionistas no sentido de colar a imagem dela ao blecaute que afetou 18 estados na terça-feira, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, entrou pela primeira vez na guerra política em torno do apagão. Ao mesmo tempo, admitiu que o sistema não é 100% seguro e chamou de ¿barbeiragem¿ o racionamento de energia no governo Fernando Henrique Cardoso. ¿Ninguém promete que no sistema de transmissão, de milhares de quilômetros de rede, não vai ter apagão. Prometemos que não terá mais neste país racionamento. Racionamento é barbeiragem. Por que é barbeiragem? Porque racionamento de oito meses implica que eu, com cinco anos de antecedência, não soube a quantidade de energia que tinha de entrar para abastecer o país¿, afirmou à pré-candidata de Lula à Presidência da República, comparando o blecaute ao racionamento de 2001, quando os reservatórios ficaram vazios num longo período de seca.

Ela, no entanto, não pretende enfrentar as feras do Legislativo cara a cara, como ocorreu no tempo do escândalo dos cartões corporativos(1). Lá, o governo prepara uma blitz nas comissões técnicas para evitar que Dilma seja inquirida. A ordem é rejeitar os pedidos de convocação da ministra e deixar o embate para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que é senador. ¿O blecaute acabou, o assunto está encerrado¿, disse Lobão, dando o tom do discurso que o governo pretende fazer valer daqui até a semana que vem.

Leito técnico O discurso do governo de que o blecaute passou e é hora de deixar o assunto no leito técnico foi decidido ontem, nas avaliações que o presidente Lula fez logo pela manhã, numa reunião da qual participaram Dilma e Lobão. A entrevista de Dilma também foi decidida cedo. ¿Não dá para deixar uma pré-candidata à Presidência escondida em meio a um tiroteio. Ela precisava falar, mas não irá ao Congresso nessa fase¿, afirmou um assessor do presidente, referindo-se ao uso político do blecaute pela oposição. Ontem mesmo, o governo esvaziou as comissões do Senado para evitar a convocação.

Dilma seguiu direitinho o script: ¿Não vou entrar em polêmica (com a oposição), não se pode politizar algo tão sério como esse assunto. Não vou comentar nada (da oposição)¿, afirmou a ministra. ¿Não se pode tentar fazer, deliberadamente, confusão onde não tem. E tentar apresentar o país com uma fragilidade que não existe. Este país, hoje, tem mais energia do que teve em qualquer momento anterior¿, emendou, passando a falar do nível de confiabilidade do sistema atual, que ajudou a montar como ministra de Minas e Energia. ¿A taxa de confiabilidde é de 95%. Os outros 5% estamos sujeitos a essas intempéries. O sistema é bastante robusto. Nenhum país do mundo tem um nível de probabilidade zero de blecautes. Se fosse 100%, a conta de luz seria muito mais cara¿, afirmou.

1- Dossiê de Ruth Em maio de 2008, Dilma foi chamada à Comissão de Infraestrutura do Senado para falar sobre o PAC e acabou respondendo sobre o dossiê a respeito dos gastos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Ali, o senador Agripino Maia referiu-se ao dossiê como artifício do regime de exceção e citou ainda que Dilma havia mentido no tempo da ditadura, quando esteve presa. Dilma virou o jogo e disse que o senador havia servido aos militares e não tinha ideia do que era a tortura. Saiu vitoriosa.