Título: Bandeira verde agora está na mão da Casa Civil
Autor: Santos, Danielle; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2009, Brasil, p. 10

Lula aproveita evento em que foi anunciada a redução do desmatamento na Amazônia para lançar Dilma Rousseff como porta-voz das conquistas ambientais do governo

Lula e seus ministros: Dilma Rousseff foi a garota-propaganda do evento em detrimento de Carlos Minc

Escalada para anunciar o menor desmatamento na Amazônia dos últimos 21 anos, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, encarou ontem a primeira grande responsabilidade frente aos temas ambientais com um inesperado ¿apagão técnico¿. Por 15 minutos, ela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿ visivelmente irritado ¿ e mais três ministros esperaram, diante de 43 prefeitos, governadores e convidados, enquanto funcionários tentavam superar a dificuldade de operar o sistema que cuidava da apresentação dos números em slides.

Chefe da delegação brasileira na Conferência do Clima que será realizada em dezembro, na Dinamarca, a ministra delineou como vai encarar a questão do meio ambiente na eleição do ano que vem. A pré-candidata do PT pretende cortar emissões de gases que provocam o efeito estufa sem comprometer o crescimento econômico. Ela anuncia hoje, em São Paulo, os planos do Brasil para o combate ao aquecimento global que serão levados em dezembro para a Conferência das Partes da Convenção do Clima, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Copenhague.

A agenda ambiental do dia termina na França, onde, com o presidente Lula ¿ e sem a presença do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc ¿ ela pedirá o apoio do presidente francês, Nicolas Sarkozy, no cumprimento de metas mais audaciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa. A palavra-chave nessa questão é ¿objetivo voluntário¿ e não ¿meta¿. A estratégia foi bolada por Lula, que tenta trazer os países desenvolvidos e a China a se comprometerem com algum percentual para o encontro mundial não fracassar.

Resultados Dilma apresentou ontem resultados que foram fruto da coordenação de sua pasta frente às ações de prevenção e controle do desmatamento da Amazônia, dentro da operação Arco Verde(1). Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a queda no desmatamento foi a maior em 21 anos de monitoramento, passando de 12,9 mil km² para 7 mil km² (o equivalente a 4,6 vezes a área do município de São Paulo) entre agosto de 2008 e julho de 2009. Em 2004, a devastação chegou a consumir 27,4 mil km² de floresta. De acordo com o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, Mato Grosso foi o estado que representou resultado mais positivos, seguido por Rondônia e Amazonas.

¿Sabíamos que só uma proposta de coerção em cima de quem desmata não resolve. Por isso, estamos no esforço de garantir alternativas aos municípios, que antes eram os que mais apresentavam resistência em diminuir o desmatamento¿, afirmou Dilma, ao se referir às políticas de desenvolvimento sustentável nos 43 municípios da Amazônia Legal que vinham registrando os maiores índices de desmatamento na região.

Além das ações já previstas na operação Arco Verde, o presidente Lula propôs uma compensação financeira para estados que preservam suas áreas verdes. ¿O cidadão que está lá na sua cidade, no ar-condicionado, usando sua piscina aquecida, deve compensar aquele que está na cidade do interior, por exemplo, e que já pegou oito malárias para manter a floresta em pé¿, argumentou.

1- Sustentabilidade A operação Arco Verde envolve 13 ministérios, estados e municípios com o objetivo de desenvolver um modelo de sustentabilidade com a regularização de terras e a criação de linhas de créditos para os proprietários que queiram recompor suas áreas de reserva legal e de preservação permanente. Só no ano passado, o governo envolveu 300 servidores federais na regularização de 8 mil posseiros e na profissionalização técnica de 11,8 mil agricultores.