Título: Inadimplência avança 7%
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2009, Economia, p. 13

Risco de calote aumenta e faz comércio abrir temporada de regularização do crédito a fim de garantir vendas robustas no fim do ano

Aumenta a inadimplência no país. Entre setembro e outubro, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) registrou crescimento de 7,08% no índice. Segundo especialistas de mercado e crédito, a taxa teria acompanhado a elevação das vendas e da oferta de empréstimos e financiamentos. Com mais pessoas adquirindo bens, estimuladas por medidas para conter a crise na economia brasileira, o orçamento de alguns consumidores teria se desequilibrado. O fim da isenção integral de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para veículos em setembro e a incerteza da continuidade da desoneração para produtos da linha branca fizeram os consumidores antecipar compras e, em alguns casos, extrapolar a capacidade de gasto.

Diante disso, e em função da proximidade do 13º salário e da restituição do Imposto de Renda nos últimos meses do ano, a tática do setor varejista foi segurar por mais tempo as dívidas não pagas de outros meses e negativar os CPFs devedores somente em outubro. ¿É uma época estratégica para o lojista porque o consumidor precisa de crédito para comprar mais no Natal¿, afirmou o presidente do SPC Brasil, Roberto Alfeu Pena Gomes. Segundo ele, a entidade abriu o período de negociações de débitos, oportunidade nas quais o consumidor pode conseguir descontos de até 70% para limpar o nome.

Para o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, o aumento do risco de calote é reflexo direto do crescimento na concessão de crédito e das vendas. ¿Embora seja uma inadimplência considerável, ela é aceitável por causa da expansão dessas duas variáveis. Por isso, essa taxa ainda não é um sinônimo de piora nas condições de pagamento¿, avalia o professor. Em setembro de 2008, o volume de crédito no Brasil correspondia a 38,7% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de tudo que é produzido no país), 12 meses depois subiu para 45,7%. As vendas também acompanharam a trajetória de alta. No acumulado do ano, o SPC registrou aumento de 2,70% no índice de consultas ao banco de dados da entidade, percentual que representa o nível de atividade no comércio.

Apesar da alta mensal no número de maus pagadores, na comparação entre outubro e igual mês do ano passado, a inadimplência ficou negativa em 1,30%. No acumulado do ano, a queda foi de 12,03%. O percentual de pessoas que regularizaram seus débitos junto ao SPC também aumentou 5,44% em outubro, em relação a setembro. ¿O brasileiro precisa de crédito para comprar. Cerca de 80% das vendas no país são feitas a prazo. Por conta do Natal, as pessoas já começaram a se preparar a limpar o nome¿, afirmou Alfeu Pena, que se disse otimista em relação aos negócios de fim de ano e espera um aumento entre 7% a 9%. Por conta da proximidade das festividades natalinas, o presidente do SPC aposta que até novembro o consumidor quitará débitos e os próximos levantamentos mostrarão números menores de maus pagadores.

O número Acumulado 12,03% Percentual de queda da inadimplência entre janeiro e outubro, em comparação com igual período de 2008

Palavra de especialista Como equilibrar as finanças

¿Com o crescimento da oferta de crédito ao longo do ano, as pessoas perdem o controle. Só voltam a se equilibrar com o 13º. Por isso, a recomendação é o uso do crédito consciente, para não cometer erros. O fim do ano é um momento propício para negociar dívidas há mais liquidez na economia, mais dinheiro circulando. Hoje, percebe-se que é uma prática do brasileiro usar parte do 13º salário para pagar débitos, outra parte para comprar e uma outra para poupar. A gente percebe uma vontade dessas pessoas de renegociarem suas dívidas no fim do ano, mas algumas não conseguem pagar tudo. Essa dificuldade nos leva a fazer campanhas de negociações para que o consumidor possa se recuperar.

O crédito antecipa sonhos, por isso, o consumidor entra em uma dívida que pode se transformar em uma dor de cabeça. Se a pessoa está usando cheque pré-datado, tem de anotar tudo no canhoto: o valor, onde deu o cheque e a data em que será descontado. Também é bom fazer uma planilha para ver tudo que há para pagar e comparar com a receita (tudo que recebe de recursos, como salário e aposentadoria). Uma boa dica é não comprometer mais do que 30% do orçamento com prestações, porque existem as contas de sobrevivência, como as de água e luz.¿

Dirlene Martins é diretora de recuperação de crédito da Telecheque