Título: Battisti diz que é troféu para Berlusconi
Autor: D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2009, Brasil, p. 18

A poucas horas de ter o futuro decidido pelo STF, o ex-ativista de esquerda fala ao Correio que não há provas contra ele

Cesare Battisti na época em que chegou a Brasília, em 2007: expectativa sobre os votos dos ministros do Supremo

O italiano Cesare Battisti, que terá o futuro decidido hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF), jura inocência. E diz que sua extradição seria apenas um triunfo político para o governo de Silvio Berlusconi. ¿Eu represento hoje o troféu para uma Itália abalada por escândalos e forte crise econômica.¿ Acusado de quatro homicídios cometidos na década de 1970, quando integrava a organização extremista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), o ex-ativista de esquerda alega que não há a ¿mínima prova técnica¿ contra ele. E atribui à ¿histeria¿ de adversários, agora no poder, o empenho para conseguir que volte à Itália para cumprir pena. Ele foi condenado à revelia pela Justiça italiana à prisão perpétua.

Preso em Brasília desde 2007, Battisti não vai assistir à sessão do Supremo. No máximo, acompanhará a transmissão pelo rádio. Nos dias anteriores ao julgamento, recebeu poucas visitas, entre elas, a das filhas. Sua defesa nega que tenha feito greve de fome. Mas a ansiedade é grande ¿ o italiano tem medo de morrer numa cadeia italiana. E admite: está deprimido. ¿O meu estado de ânimo não poderia ser outro¿, diz.

O ex-ativista aceitou o pedido do Correio e, por meio dos advogados, respondeu a algumas perguntas de próprio punho. Apesar de estar em situação desfavorável até agora, já que há quatro votos a favor da extradição e três contrários, Battisti se mostra confiante. Ele foi considerado refugiado político pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Mas a decisão ¿ principal entrave ao pedido de extradição ¿ foi derrubada pelo plenário. O governo italiano diz que se trata de crime comum.

Expectativa Iniciada em setembro, a discussão no Supremo será retomada hoje com a posição do ministro Marco Aurélio Mello, que pediu vista do processo. Além dele, falta colher o voto do presidente Gilmar Mendes. A grande dúvida é sobre a participação do novato Dias Toffoli, que poderá ser decisiva. A expectativa é que Marco Aurélio se posicione contra a extradição, empatando o placar em 4 x 4. Caberia a Mendes o desempate.

A defesa do italiano diz que os crimes já prescreveram e apela para argumentos técnicos e humanitários para que o presidente do STF não vote ¿ o que dificilmente ocorrerá. Se ele votar, o pedido é que o voto de minerva, em caso de empate, favoreça o acusado.

Já o governo da Itália questiona a participação do ex-advogado-geral da União no julgamento. Dias Toffoli pode se livrar da ingrata tarefa de ter que se declarar impedido ou não. Os próprios colegas poderão bater o martelo sobre isso e solucionar o impasse.

{ Entrevista } Cesare Battisti Clima de otimismo

Qual a sua expectativa em relação ao julgamento? Eu não posso acreditar que, no fundo, a verdade não prevaleça. Acho o STF uma instituição séria e responsável. Estou certo que meu caso será examinado com justiça.

O senhor espera que o refúgio concedido pelo Ministério da Justiça seja mantido pelo STF? O refúgio foi concedido pelo ministro da Justiça (Tarso Genro), autoridade competente para outorgá-lo. Está bem fundamentado.

O senhor se considera inocente, mas foi julgado à revelia. Por que não se defendeu à época? Eu não me ¿considero¿ inocente, eu sou inocente. Não existe, nos autos, a mínima prova técnica contra mim, além do ouvir-se dizer, que tanta anima a imprensa. Na época desse processo, estava refugiado no México. Não estava informado da existência desse segundo processo. Mesmo que soubesse, o clima de tensão, as leis e a caça às bruxas, nada era convidativo para apresentar-me.

A que o senhor atribuiu o empenho do governo italiano na defesa de sua extradição? Os nossos adversários políticos da época ocupam hoje cargos governamentais. Temos visto as reações histéricas de alguns deles. Represento hoje o troféu para uma Itália abalada por escândalos e forte crise econômica.

Há relatos de que o senhor estaria deprimido. É verdade? Depois de mais de 32 meses de reclusão, me parece normal sentir algum problema psíquico.