Título: Dilma na Câmara
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 14/11/2009, Política, p. 2

O país no escuro

Líder do PT sugere apresentação de requerimento para ida da ministra à comissão na Casa

Líder do PT sugere apresentação de requerimento para ida da ministra à comissão na Casa

Numa estratégia de sair da defensiva, os líderes do PT e do PSB na Câmara, Candido Vaccarezza, e Rodrigo Rollemberg (DF), respectivamente, defenderam ontem que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, vá ao Congresso para falar sobre o apagão energético da terça-feira. Desde o incidente que deixou 18 estados brasileiros no escuro, a oposição se articula na Câmara e no Senado para convocar Dilma, ex-titular de Minas e Energia. Os oposicionistas argumentam que ela teria responsabilidade pelo apagão por comandar a pasta do setor entre janeiro de 2003 e junho de 2005, momento em que a política energética do governo Lula foi definida. Mesmo fora da pasta, a ministra mantém influência sob o setor por meio de apadrinhados em postos-chave. Na prática, os oposicionistas querem desgastar a pré-candidata a presidente do PT, retirando dela a imagem de eficiente administradora.

¿Se quiserem convidar a Dilma, sou a favor¿, afirmou Vaccarezza. Para o líder do PT, é interessante que a chefe da Casa Civil entre no debate. ¿Não tem porque ela fugir¿, reforçou Rollemberg. Os dois, contudo, não tiveram qualquer orientação do governo para permitir a ida da ministra ao parlamento. O petista afirma que, além de responder às críticas, a ministra poderá mostrar o que ele considera ser realizações dela na passagem pela pasta de Minas e Energia. Ele destaca o ¿Luz para Todos¿, programa de universalização de energia elétrica lançado em novembro de 2003, e os investimentos feitos na ampliação do sistema e da rede de transmissão. ¿Isso permitiu que o sistema brasileiro voltasse a funcionar em quatro horas¿, avalia.

Sem encontrar respostas para o apagão, o governo isolou a ministra da Casa Civil durante todo o dia posterior ao acidente. Inicialmente havia o temor de que o caso tivesse repercussões negativas para Dilma. Só permitiu que ela falasse em público na quinta-feira, depois que o governo afinar o discurso e colocar a culpa no apagão no clima ¿ explicação que não convence aliados no Congresso no próprio Executivo. ¿Uma coisa é blecaute, que ninguém pode prometer que não vai ocorrer. O que eu prometi é que não haverá racionamento. Racionamento é barbeiragem¿, afirmou. Acostumada a enfrentamentos, a ministra fugiu da briga anteontem. ¿Não vou entrar em polêmica (com a oposição), não se pode politizar algo tão sério como esse assunto. Não vou comentar nada (da oposição)¿, completou.

Vaccarezza disse que pode apresentar na próxima semana um requerimento para que a chefe da Casa Civil vá à Câmara. Ela pode ir à Comissão de Minas e Energia, à Comissão de Fiscalização ou até mesmo a uma sessão conjunta de várias comissões. ¿É uma proposta interessante, pois é importante que o governo tranquilize a população e esclareça as razões desse black-out¿, afirmou Rollemberg. Contudo, a avaliação de um auxiliar presidencial é de que, por ora, ela não deverá ir ao Congresso, deixando o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, como uma espécie de escudo de Dilma. Com apoio da base aliada, a oposição aprovou convite de Lobão para falar sobre o apagão na Fiscalização e Controle. O encontro foi marcado para a próxima terça-feira.

No Senado, um veto

Diferentemente dos colegas da Câmara, senadores governistas adotam o discurso da cautela sobre uma eventual ida da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Senado. O vice-líder do governo na Casa, Gim Argello (PTB-DF), afirmou ontem que, por enquanto, não vê necessidade que a ministra fale sobre o apagão energético. Na avaliação de Argello, se necessário, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é quem deverá dar as explicações do acidente. Ele é senador licenciado. ¿O Senado é a casa dele. Ele vai lá com tranquilidade¿, afirmou.

No Senado, a oposição também trabalha para levar Dilma. Lá, embora também não tenham maioria como na Câmara, os oposicionistas atuam de forma mais coesa e, em ocasiões passadas, já deram trabalho para o governo. Em maio do ano passado, conseguiram aprovar, num cochilo dos aliados, a convocação de Dilma para depor sobre o suposto dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, no depoimento, uma declaração desastrada do líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), desmontou a estratégia da oposição. Ele tentou constrangê-la se mentiu na ditadura militar período em que esteve presa e foi torturada. Ovacionada por aliados, ela disse que foi ¿barbaramente torturada¿. ¿Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na tortura, senador¿, declarou.

Em outros dois episódios, a oposição se articulou para fustigar Dilma no Senado. Em meados de 2008, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu afirmou que a ministra da Casa Civil teria interferido no processo de venda da Varig. Recentemente, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira também esteve na Casa para reafirmar que Dilma lhe teria pedido para apressar as investigações contra empresas da família de José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado. Nos dois casos, o governo evitou a ida dela à Casa. A oposição avalia que o apagão pode enfraquecer Dilma mais do que os outros três episódios. (RB)

Numa estratégia de sair da defensiva, os líderes do PT e do PSB na Câmara, Candido Vaccarezza, e Rodrigo Rollemberg (DF), respectivamente, defenderam ontem que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, vá ao Congresso para falar sobre o apagão energético da terça-feira. Desde o incidente que deixou 18 estados brasileiros no escuro, a oposição se articula na Câmara e no Senado para convocar Dilma, ex-titular de Minas e Energia. Os oposicionistas argumentam que ela teria responsabilidade pelo apagão por comandar a pasta do setor entre janeiro de 2003 e junho de 2005, momento em que a política energética do governo Lula foi definida. Mesmo fora da pasta, a ministra mantém influência sob o setor por meio de apadrinhados em postos-chave. Na prática, os oposicionistas querem desgastar a pré-candidata a presidente do PT, retirando dela a imagem de eficiente administradora.

¿Se quiserem convidar a Dilma, sou a favor¿, afirmou Vaccarezza. Para o líder do PT, é interessante que a chefe da Casa Civil entre no debate. ¿Não tem porque ela fugir¿, reforçou Rollemberg. Os dois, contudo, não tiveram qualquer orientação do governo para permitir a ida da ministra ao parlamento. O petista afirma que, além de responder às críticas, a ministra poderá mostrar o que ele considera ser realizações dela na passagem pela pasta de Minas e Energia. Ele destaca o ¿Luz para Todos¿, programa de universalização de energia elétrica lançado em novembro de 2003, e os investimentos feitos na ampliação do sistema e da rede de transmissão. ¿Isso permitiu que o sistema brasileiro voltasse a funcionar em quatro horas¿, avalia.

Sem encontrar respostas para o apagão, o governo isolou a ministra da Casa Civil durante todo o dia posterior ao acidente. Inicialmente havia o temor de que o caso tivesse repercussões negativas para Dilma. Só permitiu que ela falasse em público na quinta-feira, depois que o governo afinar o discurso e colocar a culpa no apagão no clima ¿ explicação que não convence aliados no Congresso no próprio Executivo. ¿Uma coisa é blecaute, que ninguém pode prometer que não vai ocorrer. O que eu prometi é que não haverá racionamento. Racionamento é barbeiragem¿, afirmou. Acostumada a enfrentamentos, a ministra fugiu da briga anteontem. ¿Não vou entrar em polêmica (com a oposição), não se pode politizar algo tão sério como esse assunto. Não vou comentar nada (da oposição)¿, completou.

Vaccarezza disse que pode apresentar na próxima semana um requerimento para que a chefe da Casa Civil vá à Câmara. Ela pode ir à Comissão de Minas e Energia, à Comissão de Fiscalização ou até mesmo a uma sessão conjunta de várias comissões. ¿É uma proposta interessante, pois é importante que o governo tranquilize a população e esclareça as razões desse black-out¿, afirmou Rollemberg. Contudo, a avaliação de um auxiliar presidencial é de que, por ora, ela não deverá ir ao Congresso, deixando o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, como uma espécie de escudo de Dilma. Com apoio da base aliada, a oposição aprovou convite de Lobão para falar sobre o apagão na Fiscalização e Controle. O encontro foi marcado para a próxima terça-feira.

No Senado, um veto

Diferentemente dos colegas da Câmara, senadores governistas adotam o discurso da cautela sobre uma eventual ida da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Senado. O vice-líder do governo na Casa, Gim Argello (PTB-DF), afirmou ontem que, por enquanto, não vê necessidade que a ministra fale sobre o apagão energético. Na avaliação de Argello, se necessário, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é quem deverá dar as explicações do acidente. Ele é senador licenciado. ¿O Senado é a casa dele. Ele vai lá com tranquilidade¿, afirmou.

No Senado, a oposição também trabalha para levar Dilma. Lá, embora também não tenham maioria como na Câmara, os oposicionistas atuam de forma mais coesa e, em ocasiões passadas, já deram trabalho para o governo. Em maio do ano passado, conseguiram aprovar, num cochilo dos aliados, a convocação de Dilma para depor sobre o suposto dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, no depoimento, uma declaração desastrada do líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), desmontou a estratégia da oposição. Ele tentou constrangê-la se mentiu na ditadura militar período em que esteve presa e foi torturada. Ovacionada por aliados, ela disse que foi ¿barbaramente torturada¿. ¿Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho muito de ter mentido na tortura, senador¿, declarou.

Em outros dois episódios, a oposição se articulou para fustigar Dilma no Senado. Em meados de 2008, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu afirmou que a ministra da Casa Civil teria interferido no processo de venda da Varig. Recentemente, a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira também esteve na Casa para reafirmar que Dilma lhe teria pedido para apressar as investigações contra empresas da família de José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado. Nos dois casos, o governo evitou a ida dela à Casa. A oposição avalia que o apagão pode enfraquecer Dilma mais do que os outros três episódios. (RB)