Título: Fogo paulista contra petistas
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 14/11/2009, Política, p. 2

Integrantes do governo Serra cobram realização de obras e investimentos em energia

Serra: críticas sobre a manutenção no sistema elétrico do país

São Paulo ¿ A secretária de Abastecimento e Energia do governo de São Paulo, Dilma Pena, voltou a criticar o governo federal pelo apagão que deixou 19 estados no escuro na terça-feira. Ela cobrou do Ministério de Minas e Energias a realização de 14 obras emergenciais que, segundo ela, se estivessem concluídas, poderiam evitar que São Paulo ficasse sem energia elétrica. Dilma também, não ¿engoliu¿ a desculpa de que fenômenos naturais tenham causado a interrupção de energia elétrica.

A secretária reconhece que a quantidade de energia fornecida no governo de Luiz Inácio Lula da Silva aumentou no país, mas, segundo ela, o sistema de transmissão é precário e a qualidade da energia é inferior. Atualmente, ingressam no sistema brasileiro 10 mil megawatts de energia térmica poluente. ¿Mas a operação e a manutenção desse sistema precisam de mais eficiência para dar mais confiabilidade. O resultado da gestão desse sistema foi essa pane¿, ressalta.

No ofício que o governo de São Paulo enviou ao governo federal cobrando as obras no setor, consta que todos os empreendimentos são prioritários para evitar interrupção de energia e melhorar a distribuição. Duas referem-se ao sistema interligado e consistem na aquisição de um transformador. Outras duas obras tratam da construção de bancos de reatores para a subestação no município de Tijuco Preto. ¿A falta desses equipamentos restringe a transferência de energia do Sistema Sul e de Itaipu para São Paulo¿, explica a secretária.

¿Fragilidade¿ As outras 12 obras elencadas pelo governo de São Paulo tratam da expansão da carga, da otimização e confiabilidade da transmissão de energia em São Paulo, aumentando a segurança do sistema e dando maior flexibilidade e agilidade na recuperação do fornecimento de energia quando acontecem eventos internos.

O governador de São Paulo, José Serra, também voltou a cobrar investimentos do governo federal no setor energético. Ele criticou ainda a manutenção da rede elétrica brasileira. ¿Um raio ou uma ventania derrubar a energia elétrica em 18 estados por tanto tempo significa que há, sem dúvida nenhuma, uma fragilidade do sistema e a necessidade de investimentos e de melhorarias na qualidade da manutenção¿, ressaltou.

Mau humor e irritação

São Paulo ¿ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou uma investigação rigorosa para saber com detalhes o que realmente causou o apagão que deixou 18 estados no escuro na terça-feira. Ao contrário do que disse o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ¿o caso não está encerrado¿. O presidente demonstrou mau humor e irritação quando falou sobre o tema. ¿Uns dizem que foi raio, outros dizem que não houve raios naquela região¿, afirmou ontem na capital paulista.

Para desassociar o blecaute de terça do racionamento do governo Fernando Henrique Cardoso, no fim da década de 1990, Lula voltou a dizer que não há falta de energia elétrica no Brasil. ¿O sistema é robusto, mas não estaria livre de ser atingido por intempéries ou falha humana¿, ressaltou. Ele também descartou possibilidade de sabotagem.

O presidente não quis especular sobre as verdadeiras causas do apagão e se limitou a dizer que as investigações vão determinar o que, de fato, deixou a população no escuro. Quando questionado se há chances de um novo apagão, Lula disse irritado que ¿as coisas só não têm chance de acontecer se Deus não quiser¿.

Segundo Lula, todas as hipóteses apontadas para as causas do blecaute são ¿achismos¿. Lula afirmou que a análise das causas não é uma questão política, e sim técnica. ¿Se foi sobrecarga de energia vinda de Itaipu, nós vamos ver. Se foi uma falha humana, nós vamos ver. Se foi um raio, nós vamos ver.¿

Ontem, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), voltou a criticar as explicações do governo federal para o apagão. ¿Precisa identificar a causa. A causa não pode ser ventania ou raio. O problema é por que o sistema é tão vulnerável a isso¿, ressaltou, referindo-se à explicação dada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto. (UC)