Título: Torós constrange Henrique Meirelles
Autor: Nunes, Vicente; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 14/11/2009, Economia, p. 23

Diretor de Política Monetária revela detalhes de ataque especulativo e, agora, balança no cargo

Torós, do Banco Central, vaza informações e Meirelles, presidente do BC, classifica como ¿quebra de confiança¿

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Mário Torós, está a um passo de perder o cargo. Ele já havia pedido ao presidente da instituição, Henrique Meirelles, para sair, mas, segundo fontes do governo, precipitou o processo ao revelar, ao jornal Valor Econômico, detalhes considerados ¿sigilosos¿ sobre os impactos da crise mundial no país. Torós, de 46 anos, disse que, em outubro do ano passado, o Brasil enfrentou uma corrida bancária ¿ em apenas uma semana, os bancos perderam R$ 40 bilhões em depósitos ¿, e os saques começaram em Brasília, em agências do Unibanco. Ele afirmou ainda que o real foi vítima de um ataque especulativo comandado por um dos maiores hedge funds do mundo, o Moore Capital Management, cujas apostas somavam US$ 5 bilhões.

¿A sensação dentro do BC foi de desconforto. Parece que Torós fez o testamento de sua gestão de quase três anos. E, como já estava com um pé fora do banco, procurou vender a imagem de um administrador espetacular, que venceu a tudo e a todos durante a crise. Ficou estranho, pois ele sempre foi avesso a declarações polêmicas¿, contou ao Correio um graduado funcionário do BC. Segundo ele, a reação de Meirelles às declarações de Torós foi a pior possível. Primeiro, por ter confirmado a intenção do presidente Lula de demitir o presidente do BC pouco antes do estouro da bolha imobiliária americana, devido ao aumento da taxa básica de juros (Selic). Segundo, por ter vazado um e-mail endereçado a ele e a Meirelles pelo diretor de Política Econômica do banco, Mário Mesquita. Pessoas próximas ao presidente do BC disseram que ele classificou esse vazamento como ¿quebra de confiança¿.

Sabe-tudo Entre auxiliares do presidente Lula, as críticas a Torós foram gerais. Um grupo disse que o diretor do BC quis se cacifar como o ¿sabe-tudo¿ para elevar o seu salário quando voltar à iniciativa privada. Outro viu as declarações como um reforço na imagem de competente para elevar as chances de assumir o comando do BC em abril do que vem, quando Meirelles deverá sair para concorrer a um cargo público pelo PMDB. ¿Sinceramente, ele se queimou. E muito¿, ressaltou um dos assessores de Lula. ¿Se havia alguma chance de ele presidir o BC, ela sumiu por completo, pois arrumou muitos inimigos¿, emendou. O principal deles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Tóros culpou Mantega pela disparada dos preços do dólar. Ao declarar, no meio da crise e com a visível escassez de recursos no mercado, que o presidente Lula havia vetado a venda de reservas internacionais do país para suprir as necessidades de exportadores e bancos pela moeda americana, o ministro fez com que, em menos de 48 horas, o dólar passasse de R$ 2,19 para R$ 2,45. Logo depois, o uso das reservas foi autorizado, e o BC fez uma megaintervenção do mercado, inclusive para evitar a quebra de grandes empresas, como a Sadia e a Votorantim, que vinham se esbaldando em operações com derivativos na Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&F). Bancos e empresas tinham contratos de US$ 38 bilhões apostando na alta do real frente ao dólar. Mas, como a moeda americana disparou, arcaram com perdas de US$ 10 bilhões.