Título: Saída é a ampliação da matriz de energia
Autor: Pereira, Daniel; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2009, Política, p. 2

Especialistas defendem o aumento do uso de outras fontes, como as térmicas a gás

Para Goldemberg, a expansão do sistema tem de implicar sua descentralização. ¿Se para Itaipu, para tudo¿

Depois dos transtornos e prejuízos do apagão em 18 em estados, o que fazer para que o sistema elétrico brasileiro não entre em colapso novamente? Especialistas ouvidos pelo Correio são unânimes: não existe sistema infalível, mas é preciso diversificar a matriz energética nacional, mesmo que a mudança resulte em uma tarifa maior para o consumidor. Seria o custo a arcar a fim de minimizar os riscos de novo blecaute. Ainda mais em um cenário de aumento de consumo de energia, potencializado pela realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas do Rio de 2016. Para blindar o efeito salgado dessa eventual conta no bolso do consumidor, está nas mãos do governo a possibilidade de reduzir os impostos cobrados nas faturas de luz.

Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), defende a inclusão de geração térmica na base do Sistema Interligado Nacional (SIN), apesar de ser mais cara do que a energia oriunda das usinas hidrelétricas. ¿Não defendo térmica a óleo, que tem o preço muito volátil e polui muito. Mas está sobrando gás no Brasil. Temos um potencial do tamanho de Itaipu¿, diz Pires. Ele admite que a água continuará sendo a maior base da matriz energética brasileira, mas pondera que não se pode ficar refém dela como fonte de energia. ¿O consumidor brasileiro tem de entender que a tarifa pode ficar mais cara (para aumentar a segurança do sistema). Mas ela pode ficar mais ou menos cara. Depende do governo, pois metade da conta de luz é encargo setorial.¿

Para Pires, se usinas térmicas estivessem no sistema, o impacto do apagão teria sido bem menor. Ele acrescenta ser preciso investir em segurança. ¿Hacker existe mesmo.¿

Coro Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), José Goldemberg também defende que a vulnerabilidade do sistema de energia do Brasil pode ser reduzida com a inclusão de várias fontes de energia. ¿Daqui para a frente, o sistema tem de crescer de forma que a vulnerabilidade seja menor. Para que seja menor, é preciso ter muitas fontes de energia, e não colocar todos os ovos em uma cesta só.¿ Goldemberg considera Itaipu magnífica, mas, devido à alta dependência da usina, se seu sistema cai, interrompe o fornecimento de energia em vários estados, a exemplo do que ocorreu na última terça-feira.

¿É preciso, então, que o sistema se expanda daqui para a frente usando várias usinas hidrelétricas, térmicas, eólicas, de modo a descentralizá-lo, porque hoje, se para Itaipu, para tudo¿, relata Goldemberg. A tese da diversificação da matriz energética é defendida por Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. Ele chama a atenção para o sistema de transmissão do setor elétrico e põe em xeque o modelo adotado atualmente, que custaria R$ 8 bilhões por ano para o consumidor. Segundo Sales, a energia gerada nas usinas hidrelétricas é mais barata, mas, quando depende de longas linhas de transmissão, o custo aumenta bastante. Isso porque, para dar mais segurança às linhas, é preciso duplicá-las ou triplicá-las, como no o caso de Itaipu.

¿É um investimento ocioso. Não seria melhor fazer um investimento diluído?¿ Sales lembra que o Brasil, historicamente, tem uma tendência natural de grandes linhas de transmissão, desde a época do presidente Getúlio Vargas. Ele considera Itaipu espetacular, mas, como está localizada na Região Sul do país, necessita de grandes linhas de transmissão, que são mais vulneráveis a falhas. ¿Em 1999 e 2001, tivemos problemas semelhantes, o que prova que o sistema não é tão robusto como se propaga. Será que não bastou para o governo ficar atento?¿, questiona.

Em 1999 e 2001, tivemos problemas semelhantes, o que prova que o sistema não é tão robusto como se propaga. Será que não bastou para o governo ficar atento?¿

Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil