Título: Politização lesa a Amazônia
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Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2009, Opinião, p. 22

O processo de combate ao desmatamento na Amazônia é mensurável por equação construída a partir da intensidade do fenômeno ao longo do tempo. Os números absolutos da devastação, malgrado de grandeza expressiva, costumam ser festejados no universo governamental se menores na comparação com os registros de períodos anteriores. Entre agosto de 2008 e julho de 2009, a perda da cobertura vegetal na região foi de 7 mil quilômetros quadrados, a menor dos últimos 21 anos, desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passou a monitorar os tratos amazônicos.

No cotejo com agosto de 2007 a julho de 2008, a redução do desflorestamento foi de 45%. Não escapa, porém, ao observador isento que a derrubada de 7 mil quilômetros da paisagem arbórea corresponde a área equivalente à do Distrito Federal e à do município de São Paulo juntas. Trata-se de destruição de espaço com dimensões consideráveis, em todos os sentidos prejudicial à política destinada à preservação da maior biomassa do mundo. Pode-se recebê-la, todavia, como indicação de que atuação mais severa dos agentes públicos e a mobilização social para os deveres preservacionistas tendem a colher resultados mais consistentes.

Se, apesar de tudo, o desastre ecológico refluiu, como atestado pelo Inpe, não é o caso de os gestores públicos deixarem de imprimir mais dinamismo às ações preventivas. Mudar o curso e o conteúdo das metodologias adotadas até o momento parece, pelo menos na visão de muitos especialistas, o caminho mais eficaz para apressar o resgate da Amazônia da histórica ofensiva devastadora. Não basta, porém. O desafio exige da autoridade estatal, nos três níveis da Federação, medidas concebidas e executadas segundo modelo de planejamento orgânico e articulado.

No cenário atual é visível a desarticulação dos órgãos públicos, em particular no âmbito do Executivo federal, na condução e implementação das diretrizes ambientalistas. A proteção aos recursos naturais da Amazônia, como as insurgências minerais, hídricas e florais, tem amplitude de estratégia nacional. Não é atribuição apenas do Ministério do Meio Ambiente, mas do conjunto das instâncias políticas que informam a estrutura do governo. Sobre o caso específico da diminuição do vandalismo ambiental, convém registrar que sucedeu, na maior parte, em razão das repercussões da crise econômica nas atividades madeireiras.

Para destoar das expectativas mais sensatas, o anúncio de que houve declínio no desmatamento ensejou ruidosa festa no auditório do Centro Cultural Banco do Brasil perante convidados especiais e prefeitos. Deu-se à ministra Dilma Roussef, candidata in pectore de Lula à Presidência da República, o crédito pelo desempenho. Um ato, explique-se, com a nítida intenção política de respaldar-lhe a corrida na sucessão de 2010. Grave é que a politização das ações ambientais na conduta do governo tende a desmoralizá-las e infundir ânimo aos predadores da Amazônia.