Título: Guerra política no apagão
Autor: Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 16/11/2009, Política, p. 5

Governo quer enviar Dilma ao Congresso para criticar a atuação de FHC na área. Oposição pretende explorar fragilidades da atual gestão

Dilma fala a PMs no DF: ministra-candidata está no alvo da oposição por causa do colapso de energia elétrica

As explicações que o governo promete dar esta semana sobre o apagão que na última terça feira deixou 60 milhões de brasileiros às escuras serão decisivas para o rumos político que o assunto vai ganhar nas eleições em 2010. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prometem entregar até amanhã relatórios detalhados sobre as condições climáticas na área e sobre o funcionamento das linhas de transmissão que entraram em curto e resultaram na paralisação completa da hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, na semana passada.

A oposição fará de tudo para que o governo pague uma fatura eleitoral pela queda no fornecimento de energia, mas os petistas dão sinais de que mudarão o modo de tratar o problema a fim de neutralizar essa campanha.

A ministra da Casa Civil e candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff, antes preservada do desgaste causado pelo blecaute, será convidada pelo líder de seu partido na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), a apresentar um balanço da gestão elétrica no país nos últimos 10 anos no Congresso Nacional.

A estratégia é simples: Dilma terá nova oportunidade de dar esclarecimentos à população ¿ e amenizar o sumiço de dois dias que deu após o apagão, mesmo tendo sido ministra de Minas e Energia de 2003 a 2005 ¿ e de quebra poderá desfiar um novelo de críticas à gestão tucana, com ênfase ao racionamento em 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Mas ela não aparecerá agora, na semana seguinte ao incidente, quando ainda se recupera das avaliações negativas que recebeu por ter reagido com impaciência ao problema. ¿Vamos agendar as coisas, ela está fora do país¿, justificou Vaccarezza. O governo vai esperar o tom que será dado ao tema na propaganda política do PSDB esta semana. ¿Vamos apresentar as nossas propostas para o país, mostrar os nossos governos, e, claro, criticar a gestão atual¿, afirmou o líder do partido na Câmara, José Aníbal.

O apagão também não é um tema ameno para os tucanos. Afinal, foi durante a gestão deles que o país viveu o racionamento de energia elétrica. Ainda assim, o partido não pretende fugir do debate. Acredita que esse foi o primeiro sinal palpável de falhas na gestão de Lula. ¿Microincidente? O apagão foi um microincidente para o ministro da Justiça (Tarso Genro) que estava dormindo. Para quem ficou sem luz, e agora calcula os prejuízos, foi um desastre¿, afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra.

O governo lançará mão de muitos números para rebater críticas dirigidas à falta de investimento e má gestão no setor. Dirá que foi o responsável pela criação de um terço das linhas de transmissão que cortam o país. Apresentará balanços, como o do Ministério do Planejamento, de 2008, que aponta a pasta de Minas e Energia como a que obteve o melhor desempenho dentre os órgãos que contam com investimentos das estatais, executando naquele ano 82,9% dos recursos programados, o equivalente a R$ 50,6 bilhões.

A oposição, por sua vez, vai manter o assunto em destaque, cravando o discurso na falta de explicações técnicas para o apagão. ¿Até agora o governo não conseguiu explicar o que aconteceu. Tivemos, sim, um festival de fanfarronice, com ministros dando o assunto por encerrado¿, criticou Aníbal. ¿Duas coisas precisam ser esclarecidas: as causas do blecaute e se corremos o risco de novos incidentes dessa ordem acontecerem. O caso não está encerrado. Isso é um desejo do governo, não a realidade¿, afirmou o líder do PPS na Câmara, Fernando Coruja (SC).

O apagão só foi o `microincidente¿ de Tarso Genro para quem dormia. Para quem ficou sem luz foi um desastre¿

Senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB

O número 82,9% Foi a execução orçamentária de Minas e Energia em 1988, segundo o Ministério do Planejamento