Título: O Julgamento em Nova York
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 14/11/2009, Mundo, p. 32

Onome da cidade que chorou seus mortos em 2001, após ser golpeada pelo terror, foi pronunciado ontem duas vezes, em uma mesma frase, pelo procurador geral dos Estados Unidos, Eric Holder. ¿Depois de oito anos de atraso, aqueles que se confessaram responsáveis pelos ataques de 11 de setembro finalmente vão encarar a Justiça. Eles serão trazidos a Nova York ¿ a Nova York ¿ para responder por seus crimes em uma corte, apenas a alguns quarteirões de onde as torres gêmeas (do World Trade Center) se erguiam¿, declarou. O kuweitiano Khalid Sheikh Mohammed, cérebro dos piores atentados da história, terá seu destino lançado nas mãos de um tribunal civil e poderá pagar com a vida pelo assassinato de 2.752 pessoas. O mesmo deve ocorrer com Walled bin Attash, Ramzi Binalshibh, Mustafa Ahmad Al-Hawasawi e Ali Abd Al-Aziz Ali, suspeitos de terrorismo também detidos na base naval de Guantánamo, em Cuba. ¿Os regulamentos federais nos autorizam a exigir a pena de morte para grandes crimes¿, afirmou Holder. ¿Vou certamente pedir aos promotores que requeiram a pena de morte para cada um dos acusados do 11 de setembro¿, acrescentou. Em visita ao Japão, o presidente norte-americano, Barack Obama, comentou a transferência dos supostos extremistas islâmicos para uma prisão federal em Nova York ¿ o que não deve ocorrer antes de 45 dias. ¿Eu estou absolutamente convencido de que Khalid Sheikh Mohammed estará sujeito às mais exatas demandas da Justiça. O povo americano insiste nisso. Meu governo insiste nisso¿, disse o chefe de Estado. A decisão causou polêmica entre a sociedade civil e os congressistas republicanos. ¿A decisão da Casa Branca de trazer os acusados ao interior de nossas fronteiras (¿), em vez de o fazer na segurança do próprio centro de detenção de Guantánamo, significa um passo atrás, representando um risco inútil para os americanos¿, afirmou o líder da minoria republicana, Mitch McConnell. Em entrevista ao Correio, Ed Kowalski, diretor da organização não governamental 9/11 Families for a Secure America (em Nova York), demonstrou preocupação com o julgamento em território norte-americano. ¿Acreditamos que é uma decisão errada. As cortes civis não são lugar para se julgarem terroristas¿, criticou. O empresário lembrou que os sete autores do primeiro atentado contra o World Trade Center, em 1993, também foram submetidos a uma corte civil entre 1994 e 1997. ¿Em troca, tivemos o 11 de setembro, que custou a vida de 3 mil inocentes¿, desabafou. Para ele, o processo em tribunais federais permitiria aos advogados dos réus realizarem uma manobra legal para terem acesso a informações importantes sobre o caso. ¿Isso seria útil para que eles analisassem as acusações e moldassem a defesa¿, acrescentou. Kowalski cita como exemplo o julgamento do xeque Omar Abdel- Rahman, condenado à pena perpétua por ter planejado a explosão de 1993. ¿O governo teve que revelar quem eram seus coconspiradores, em 1995. Um deles era Osama bin Laden. Ao permitir que pessoas sejam julgadas nos Estados Unidos, você concede a mesma proteção que civis norte-americanos teriam. Esses indivíduos são criminosos de guerra. Isso põe em perigo a segurança deste país¿, comentou. Vitória Ken Gude, analista de Segurança Nacional do Center for American Progress (em Washington), pensa de modo bem diferente. Para ele, o julgamento de Khalid Sheikh Mohammed e de outros conspiradores do 11 de setembro é uma ¿tremenda vitória¿ da lei e do sistema judicial norteamericano. ¿A principal questão será saber até que ponto a corte aceitará uma declaração de culpa dos réus. É do interesse estratégico dos Estados Unidos negar a esses terroristas o que eles mais querem: o martírio¿, aposta. Segundo Gude, a rede terrorista Al-Qaeda deve explorar uma execução como vitória significativa. ¿A pena perpétua faria com que Khalid e seus coconspiradores sejam esquecidos, lançados na obscuridade das cadeias do país.¿ De acordo com Judith Kipper, diretora do Programa de Oriente Médio do Instituto de Assuntos Mundiais (também em Washington), qualquer julgamento nos EUA resguardará o direito de defesa aos acusados. ¿Na Corte Federal dos EUA, especialmente em casos de grande importância, a lei é meticulosa

Mente Diabólica Khaled Sheikh Mohammed, que teria realizado ou planejado dezenas de atentados, entre eles o de 11 de Setembro, era considerado o número três da rede terrorista Al- Qaeda antes de sua prisão em maio de 2003 no Paquistão.Nascido em 24 de abril de 1965, no Kuweit, tinha 16 anos quando se somou ao movimento extremista Irmandade Muçulmana.Após os anos escolares, mudou-se para os Estados Unidos, onde obteve em 1986 um diploma de engenheiro na Universidade Agrícola e Técnica do Estado da Carolina do Norte.Em seguida, afirma ter cumprido uma formação militar em Peshawar (Paquistão) ao lado de islamitas afegãos. No fim da década de 1980, participou da guerra no Afeganistão contra os soviéticos. Após breve permanência no Paquistão, mudou-se para o Catar, onde trabalhou como engenheiro no Ministério das Águas e da Eletricidade.Teria participado do atentado em 1993 contra o World Trade Center e, em 1994, de um plano para explodir 12 aviões americanos sobre o Oceano Pacífico. Em 1996, refugiou-se no Afeganistão e se encontrou com Osama bin Laden. Segundo uma declaração divulgada pelo Pentágono, Sheikh Mohammed reconheceu sua total responsabilidade em 31 ataques ou tentativas de atos terroristas, entre elas as tentativas de assassinato de ex-presidentes americanos Bill Clinton e Jimmy Carter e do papa João Paulo II, durante uma viagem do pontífice às Filipinas.