Título: Socialização dos prejuízos
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 17/11/2009, Política, p. 2

Para diluir responsabilidades, líder petista quer convocar ao Congresso todos os comandantes do setor de energia, dos governos Lula e FHC Cândido Vaccarezza, líder do PT na Câmara: ¿A Dilma não virá sozinha. Esse jogo nós viramos¿

O PT volta à semana política nesta terça-feira jogando para dividir com a oposição as responsabilidades das mazelas do setor elétrico brasileiro e do apagão. O líder do partido na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), que na sexta-feira defendeu a convocação, no Congresso, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para falar sobre o blecaute, deseja agora ver todos os ministros que comandaram o setor de Minas e Energia nos últimos 10 anos. ¿Vou apresentar esse pedido. Se a oposição não quiser, tudo bem. A Dilma virá sozinha¿, diz Vaccarezza.

O objetivo do líder é criar um ambiente de discussões sobre quem fala a respeito do tema, para que o governo tenha tempo de concluir os relatórios sobre o blecaute e, de quebra, dar uma esfriada no assunto. Assim, se Dilma for chamada a depor, o clima estará mais ameno no Parlamento. Além disso, calculam os petistas, o líder conseguiria com esse pedido o óbvio: tirar o PSDB e o DEM da posição de atacantes e colocá-los na defensiva, na obrigação de explicar o racionamento de energia ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001, quando um grande período de seca deixou os reservatórios das usinas hidrelétricas quase vazios. Feito isso, acredita o PT, as responsabilidades estariam diluídas.

Em conversas no fim de semana, os petistas avaliaram ainda que, se houver uma recusa da oposição em convidar os ex-ministros, o partido poderia então usar o discurso de que eles não aceitam debater quem fez mais pelo Brasil no setor de energia. ¿Esse jogo nós já viramos. A Dilma tem todas as condições de fazer esse debate porque nós temos mais o que mostrar em termos de investimentos¿, diz Vaccarezza.

A idéia de Vaccarezza conta hoje apenas com o apoio de seu partido. Em conversas reservadas, os peemedebistas, escaldados pela participação nos dois governos, têm dúvidas sobre o sucesso dessa empreitada. Eles concordam com a avaliação do Palácio do Planalto, de que o tema deve ficar restrito à seara técnica. Pelo menos por enquanto (leia mais na página 3). O PMDB calcula que, se todos fossem chamados, as atenções estariam mesmo voltadas para Dilma, a única que concorrerá à Presidência da República no ano que vem. Até porque, embora o governo fosse de Fernando Henrique, essa área era dominada pelo DEM.

De 1999 a 2002, por exemplo, o Ministério de Minas e Energia foi comandado por dois ex-senadores do partido, Rodolpho Tourinho (BA) e José Jorge (PE), atualmente ministro do Tribunal de Contas da União. Quando José Jorge saiu, o cargo foi ocupado por Francisco Gomide, ex-secretário executivo. Em 2003, já no governo Lula, Dilma assumiu e ficou até 2005, sendo substituída por Silas Rondeau, que ficou até 2007. Quando saiu, o cargo foi ocupado interinamente por Nelson Hubner, até Edison Lobão ser nomeado.

Bombardeio Antes mesmo de a ideia de Vaccarezza chegar às mãos do DEM, o líder do partido na Câmara, deputado Ronaldo Caiado (GO), bombardeia a proposta: ¿É como se um sujeito atropelasse outro na rua e quisesse chamar o avô e o tataravô para saber se causas genéticas levaram a vítima a atravessar a rua naquele momento. Isso não existe¿, afirma Caiado, lembrando que, se cada ministro falar por uma hora, serão sete, só de exposição. ¿O PT é assim: os méritos, eles concentram. O que é ruim, eles querem diluir e colocar a culpa nos outros. Ora, assim é fácil governar¿, critica o líder do DEM.

O PSDB, da sua parte, continua criticando as ações do governo sobre o apagão: ¿Não acho que devemos tirar o apagão das suas circunstâncias e levá-lo para o palanque, mas acho que a falha maior do governo, e não estou falando ainda da ausência de investimentos, foi na comunicação. Acho que houve um açodamento muito grande do governo, querendo dar explicações, sem ter a serenidade adequada para enfrentar o problema na sua complexidade¿, comenta o governador de Minas Gerais, Aécio Neves.

Análise da notícia Na boca do povo

A ideia de Cândido Vaccarezza de ouvir todos os ministros de Minas e Energia soa como a velha estratégia que o governo tentou adotar nas últimas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), de ampliar os períodos a serem investigados. Na CPI da Petrobras, por exemplo, foi assim. Houve propostas para investigar a empresa nos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso e, assim, tentar minar a ofensiva dos tucanos sobre a administração petista. Ocorre que nem sempre essa manobra dá certo.

Quem passou o fim de semana no sofá, de olho nos programas populares da TV aberta saiu com a sensação de que o blecaute está na boca do povo. Em todos os auditórios e estúdios, o assunto foi tratado, sempre vinculado ao governo, ao presidente e à ministra Dilma Rousseff. E ainda que o líder do PT queira agora diluir responsabilidades colocando todos os ex-ministros nessa roda da fortuna para ver quem se sustenta, não será assim que o governo sairá do corner nesse tema. (DR)

Falha no site do ONS

Tiago Falqueiro

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) admitiu, ontem, que falhas de segurança foram encontradas, na última quinta-feira, na parte corporativa de seu site (www.ons.org.br). Segundo a assessoria de imprensa, um hacker encontrou as falhas e avisou ao órgão, mas não se aproveitou da brecha, que dava detalhes do banco de dados dos usuários cadastrados.

O analista de sistemas Maycon Vitali publicou em seu blog, em um post intitulado A verdade sobre o apagão, que uma falha na página de validação do site continha o erro. Já no site do Ministério das Minas e Energia, um comunicado, divulgado ontem, reiterou que o apagão que afetou 18 estados na última semana foi causado por curtos-circuitos.

¿Pouco depois das 22 horas da terça-feira passada, curtos-circuitos próximos à subestação de Itaberá, em São Paulo, provocaram o desligamento de três linhas de alta tensão que transportavam energia da usina de Itaipu e do sistema Sul. No momento da interrupção, a região enfrentava descargas atmosféricas, ventos e chuvas intensas.¿

Segundo o ONS, a falha no site não dá acesso ao sistema operativo, que é conduzido por sistema de voz, e não por senhas. O problema no portal do órgão teria sido corrigido na sexta-feira. A rede norte-americana CBS divulgou, no último domingo, no programa 60 minutes, que, segundo informações de investigações policiais dos EUA, os apagões de 2005 e 2007 no Brasil teriam sido causados por crackers.

Heróis e vilões

Os hackers acabam levando a culpa por ataques a sites e sistemas de empresas e governos, mas, os responsáveis levam outro nome: crackers. ¿Hackers já está na cabeça das pessoas como quem faz esse tipo de coisa, mas, na verdade, são pessoas que entendem muito de informática e usam isso para o bem. Quem abusa desses conhecimentos para conseguir vantagens são o crackers¿, explica César Domingos, gerente de treinamento da 4linux, empresa que oferece cursos a distância para novos hackers. Entre as disciplinas oferecidas, os alunos aprendem ética. Um dos preceitos é só divulgar as falhas encontradas depois que os responsáveis forem avisados.