Título: A era dos gigantes
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2009, Brasil, p. 9

Pesquisa revela que a altura média dos brasileiros cresceu nos últimos anos. Índices são creditados à ampliação do acesso à alimentação e à cobertura dos serviços de saúde

Alex Trindade, de 1,90m, se gaba de aproveitar a estatura para conquistar mulheres. Já Edmilson da Motta, de 1,68m, gostaria de ser mais alto

Além da diferença de 48 anos entre a aposentada Wilma Teixeira, 66, e a estudante Jéssica Meira, 18, 20cm separam as duas mulheres. Enquanto Wilma mede 1,55m, Jéssica tem 1,75m. A variação na estatura da população, já perceptível entre os jovens em comparação às gerações antigas, foi confirmada pela pesquisa Saúde Brasil 2008, divulgada ontem pelo Ministério da Saúde, em Brasília. Em 14 anos, as mulheres adultas cresceram, em média, 3,3cm, enquanto os homens aumentaram 1,9cm no tamanho, passando de 1,68m, em 1989, para 1,70 em 2003. Nesse período, as mulheres ultrapassaram a média de 1,55m e chegaram aos 1,58m.

¿Tinha vontade de ser mais alta só para usar roupas que são fabricadas para as mulheres maiores. Porém, em relacionamentos, as baixinhas levam mais vantagem. Os homens não gostam de mulheres altas¿, observa Wilma, que mora na Asa Sul. Já para Jéssica, a sua estatura não chega a ser um problema, mas incomoda. ¿Se pudesse escolher, preferia ser mais baixa. Mulher pequena chama mais a atenção¿, acredita a jovem. Entretanto, o desejo de ser menor não se aplica aos homens: ¿Tem que ser da minha estatura ou mais alto¿.

Satisfeito com os seus 1,90m, o estudante Alex Trindade, 19, diz que a altura o ajudou a conquistar muitas mulheres. ¿Pelos meus cálculos, já saí com umas 15 só por conta da minha estatura¿, admite o morador de Ceilândia. Também com 19 anos, Edmilson da Motta, que tem 1,68m, gostaria de pelo menos alcançar a marca dos 1,75m. ¿Vai ser difícil, pois acho que parei de crescer no ano passado, quando me alistei no serviço militar¿, lamenta o morador de Planaltina (DF).

Segundo a pesquisa, algumas das explicações para o aumento da estatura dos brasileiros estão no maior acesso à alimentação, ao aumento das rendas familiares, da escolaridade das mães e da cobertura dos serviços públicos de saúde.

Novo padrão

Com o aumento da estatura média da população, a desnutrição caiu 85% entre as meninas com idade inferior a 5 anos de 1974 a 2007. Já entre os meninos, a redução foi de 77%. Se o Brasil continuar com o mesmo ritmo, a desnutrição deve ser extinta em 15 anos, segundo o levantamento do ministério. ¿O primeiro sinal da criança doente é que ela para de crescer. O pouco peso e a baixa estatura significam que o desenvolvimento será prejudicado. Aumentar a altura corresponde a um ganho de saúde¿, afirma a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde e uma das responsáveis pela pesquisa, Deborah Malta.

De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, a desnutrição em 1996 alcançava 13,4% das crianças com menos de 5 anos. O índice caiu para 6,7% em 2006. Entre pessoas de 10 a 19 anos, a redução foi de pelo menos 70%, em 29 anos (1974 a 2003). ¿Uma vez que se tem maior acesso a alimentos, as crianças podem crescer em todo o seu potencial genético. Assim, as novas gerações estão ganhando em altura¿, explica Deborah Malta.

¿Esse crescimento dos brasileiros também está associado aos serviços públicos de saúde oferecidos. A criação da cartela onde se pode anotar dados clínicos das crianças é muito importante para acompanhar a evolução de meninos e meninas¿, completa o presidente da Sociedade Brasileira de Endocriniologia e Metabologia (SBEM), Ricardo Martins.

O número 85% Redução da desnutrição entre meninas com idade inferior a 5 anos de 1974 a 2007

Queda na mortalidade infantil

Resultado da análise de cinco estudos realizados entre 1974 e 2007, o Saúde Brasil 2008 revelou que, de 1980 a 2005, o número absoluto de mortes infantis caiu 71,3% ¿ passou de 180.048 óbitos para 51.544. A pesquisa mostra que o número de crianças menores de um ano de idade que perderam a vida por diarreia no Brasil caiu 93,9% em 25 anos: de 32.704 (em 1980) para 1.988 (2005). Com a diminuição desse percentual, esse tipo de morte deixou de ser a segunda causa de mortalidade infantil (24,3% em 1980) no país e passou para a quarta posição (4,1% em 2005), de um total de seis principais motivos.

Apesar de o estudo citar uma tendência de queda na taxa de mortalidade infantil (TMI) em todo o país ¿ passou de 47,1 óbitos por mil bebês nascidos vivos (em 1990) para 19,3 (em 2007) ¿ há dois anos, os estados do Nordeste registraram 27,2 mortes por cada mil bebês nascidos vivos. Na Região Norte, o índice ficou em 21,7. Já o Sul apresentou 12,9 mortes, enquanto o Sudeste, 13,8.

Diabetes

Com exatos 302.682 óbitos relacionados às doenças cardiovasculares, segundo dados de 2006, as enfermidades do coração ainda são a principal causa de morte no país, representando 29,4% do total das pessoas que perderam a vida, de acordo com o levantamento do Ministério da Saúde. A boa notícia é que, entre 1990 e 2006, houve uma queda de 20,5% das mortes provocadas por esse tipo de enfermidade, que incluem o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). Na faixa etária de 20 a 74 anos, o risco de morte caiu de 187,9 por 100 mil habitantes (1990) para 149,4 (2006). Os jovens de 20 a 39 anos também estão morrendo menos por doenças do coração. Entre as mulheres, a queda, por ano, foi de 3,6%, enquanto entre os homens, ficou em 3,3%.

Ainda de acordo com o estudo, o que mais preocupa é o aumento dos óbitos provocados por diabetes. Em 16 anos (1990-2006), a taxa de mortalidade saltou de 16,3 para 24 por 100 mil habitantes. O ministério estima que 7,5 milhões de pessoas sofram da doença. (RC)

O número 71,3% Queda no número absoluto de mortes infantis entre 1980 e 2005