Título: Palanques & cargos
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 23/11/2009, Política, p. 4

Antes mesmo de conhecida a composição final do diretório nacional e estaduais do PT, os peemedebistas ligaram o desconfiômetro. A sensação geral entre eles é a de que ninguém no seio petista atuará com todas as forças para a composição de palanques estaduais amplos encabeçados pelo PMDB. Basta ver as primeiras declarações do presidente Lula a respeito dessas composições nos estados. Para o PMDB, foi um banho de água fria.

Lula declarou que o PT deve pensar no projeto nacional, para não atrapalhar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas, em nenhum momento se mostrou disposto a intervir, de forma a prejudicar seu partido ou evitar que os petistas tenham candidatos onde acharem por bem seguir em raia própria.

A impressão do PMDB é a de que o jogo interno do PT está combinado: Lula vai reclamar dos palanques estaduais pulverizados, o PT fará de conta que buscou esses palanques únicos nos estados, mas, no fundo, fará ouvidos de mercador. E o PMDB, por sua vez, não terá como estrilar porque, na Bahia, onde o PT concorre à reeleição, o PMDB também foi cuidar da própria vida. O mesmo deve ocorrer no Pará, onde o grupo de Jader Barbalho está cada vez mais distante da governadora-candidata Ana Júlia Carepa (PT).

O comando petista, da sua parte, não tem muito poder de fogo para intervir nos diretórios estaduais. Teme que intervenções traumáticas resultem numa má vontade para com a cúpula. Afinal, está muito claro na cabeça de muitos petistas o caos que virou o PT do Rio de Janeiro em 1998, quando houve a intervenção para que Vladimir Palmeira não disputasse o governo e a senadora Benedita da Silva fosse candidata a vice na chapa de Anthony Garotinho. Somente agora, 11 anos depois, que o PT fluminense começou a se recuperar daquele processo.

A linha inicial do PT é evitar essas intervenções capazes de destruir o partido. O desafio da atual direção será conseguir montar palanques amplos pró-Dilma indo pela conversa. E esse diálogo com as instâncias partidárias vitoriosas ontem será direto. Sem meias-palavras.

Nos bastidores do PT, as seguintes perguntas estão na boca de alguns dirigentes: qual é o objetivo do partido? Continuar no poder com todos os cargos e vantagens que a Corte de Brasília proporciona ou voltar para a oposição, com adeus aos DASs da Esplanada? Se a opção for seguir no poder, é melhor o PT não montar um cavalo de batalha nos estados.

Este será um dos principais argumentos que petistas prometem usar nas conversas mais reservadas, no sentido de tentar dissuadir aqueles que pretendem dar as costas ao PMDB ¿ ou pensam primeiro no seu umbigo, como disse Lula.

Afinal, o PT que emergiu das urnas ontem sabe que tem fôlego para vencer a eleição em 2010, com Lula no papel de grande cabo eleitoral. Mas não dá para confiar apenas nos votos que virão do choro presidencial ao se despedir do povo pelo país afora. É preciso agradar aliados e fazer com que a maioria deles, em especial os peemedebistas desliguem o desconfiômetro. E quanto mais rápido isso acontecer, melhor para todos aqueles que hoje têm cargos no governo e vontade de continuar por ali em 2011.