Título: Deficit explosivo nas contas externas
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 25/11/2009, Economia, p. 13

Saldo negativo do balanço de pagamentos dobra e atinge US$ 2,9 bi em outubro

Maciel, do BC: aumento devido à maior demanda por produtos externos

O crescimento mais acelerado da economia e a melhoria da renda da população têm um lado perverso: a deterioração das contas externas do país. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, a conta-corrente do balanço de pagamentos ¿ que inclui as operações de comércio exterior e serviços ¿ registrou, em outubro, deficit de US$ 2,911 bilhões. É mais do que o dobro do saldo negativo registrado em igual mês do ano passado, que foi de US$ 1,239 bilhão. Para novembro, o BC projeta um deficit de US$ 3,4 bilhões.

Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Túlio Maciel, a piora das contas públicas era esperada. ¿O aumento do deficit está associado ao crescimento da demanda por produtos externos¿, observou. De acordo com Maciel, mesmo com a balança comercial contribuindo menos para o equilíbrio das contas externas, o resultado no vermelho não é alarmante. ¿Não há nenhuma preocupação com a cobertura do deficit no momento¿, assegurou.

Segundo Maciel, só o investimento direto é mais do que suficiente para cobrir o prejuízo. Além disso, ele chamou a atenção para as condições de financiamento, que estão muito favoráveis, com taxas de rolagem longas, e para o fluxo de recursos externos, classificado como altamente positivo.

O investimento estrangeiro direto em outubro foi de US$ 1,563 bilhão, inferior ao deficit em transações correntes no mês. No acumulado do ano, no entanto, o investimento direto soma US$ 19,254 bilhões, enquanto o saldo negativo em transações correntes no mesmo período soma US$ 14,788 bilhões.

O deficit em outubro foi fortemente influenciado pela conta de serviços e rendas, que registrou saída líquida de US$ 4,456 bilhões. Esse valor foi parcialmente compensado pelo resultado da balança comercial, que foi superavitário em US$ 1,28 bilhão. Também ajudou a reduzir o deficit provocado pelos serviços, as transferências unilaterais, dinheiro que os brasileiros lá fora remetem para o país. No mês, US$ 216 milhões entraram no Brasil.

Em outubro, os serviços ficaram no vermelho em S$ 1,974 bilhão. Em outubro de 2008, no início da crise, essa conta foi deficitária em apenas US$ 763 milhões. No período de janeiro a outubro, o resultado dessa conta está negativo em US$ 15,201 bilhões, superando o resultado também negativo de igual período do ano passado.

BRASILEIROS PELO MUNDO Com dinheiro no bolso e câmbio favorável, os brasileiros estão viajando como nunca. O deficit em viagens internacionais, que tinha diminuído bastante no período de crise, já recrudesceu, o que prova que as viagens ao exterior estão mais frequentes e baratas. Pelos dados do Banco Central, só em outubro as despesas deram um salto de US$ 775 milhões em 2008 para US$ 1,236 bilhão em 2009. Já as receitas, ou seja, o que os estrangeiros gastam no país, praticamente não saíram do lugar. As receitas somaram US$ 481 milhões em outubro de 2008 e, no mês passado, ficaram em US$ 451 milhões. Já o deficit (diferença entre receitas e despesas) saltou de US$ 294 milhões em outubro de 2008 para US$ 785 milhões no mês passado. (VC)

Entradas recordes

À primeira vista, parece que os investidores estrangeiros pouco ligaram para o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que o governo instituiu sobre as aplicações de renda fixa e ações. Entrou dinheiro como nunca no país em outubro, conforme mostraram os números divulgados ontem pelo Banco Central. Os investidores estrangeiros colocaram US$ 14,449 bilhões em ações brasileiras no mês passado, o maior saldo da série histórica iniciada pelo BC em janeiro de 1947.

O ingresso recorde é quase o dobro da maior entrada de recursos direcionados para ações registrado anteriormente. Em dezembro de 2007, entrou no país US$ 7,513 bilhões. O ingresso no mês passado, segundo o BC, foi fortemente influenciado pelo lançamento de ações da subsidiária brasileira do banco Santander. Só a operação respondeu por US$ 6 bilhões do volume de recursos. De acordo com o chefe-adjunto do departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, é cedo para avaliar a influência da taxação sobre o capital externo. ¿O IOF só passou a incidir a partir do dia 20¿, lembrou.

Do volume de recursos aplicados em ações por estrangeiros, a maior parte ¿ US$ 9,705 bilhões ¿ foi destinada à compra de papéis negociados no Brasil. O restante (US$ 4,744 bilhões) foi alocado em recibos de ações brasileiras (DRs) negociados em mercados estrangeiros.

O resultado de outubro mais do que reverte o movimento observado no mesmo mês do ano passado, o primeiro após o agravamento da crise global. Em outubro de 2008, os estrangeiros resgataram US$ 6,065 bilhões do mercado de ações no Brasil. No acumulado do ano, o investimento estrangeiro em ações brasileiras soma US$ 31,716 bilhões. (VC)

Dólar baixo ajuda Natal José Varella/CB/D.A Press - 20/12/03 Ajudadas pela queda da cotação do dólar, vendas de brinquedos deverão subir 12% este ano

A projeção de que o dólar feche o ano valendo cerca de R$ 1,70 leva a crer que a ceia natalina do brasileiro ficará mais em conta do que no ano passado, quando a moeda norte-americana valia R$ 2,33. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, os produtos importados, como castanha portuguesa, nozes, avelãs, amêndoas, condimentos, vinhos estrangeiros e outros tendem a ficar mais baratos. No caso dos produtos tradicionais e de importação contínua, como bacalhau, azeite e mesmo alguns tipos de frutas oleaginosas que passaram a ser vendidas no dia a dia, a variação será menor. ¿A variação (dos preços) desses produtos é menor porque, como no ano passado, o dólar subiu muito, os importadores procuraram segurar os preços, trabalhando com dólar médio, então o produto não chegou a subir tanto.¿

Para Honda, a situação neste ano é bem mais tranquila, porque há previsão de maior oferta de produtos, já que os grandes mercados consumidores ¿ Estados Unidos e Europa, por exemplo ¿ estão enfraquecidos e as empresas têm se voltado para o Brasil. O professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Giuliano Contento de Oliveira, também acredita que o Natal registre preços mais baixos, o que permitirá ampliar o consumo do trabalhador. Para ele, os preços devem cair entre 15% e 20%, levando ao aumento das vendas. ¿Isso tende a repercutir favoravelmente para as empresas, ainda que não signifique necessariamente a ampliação da margem de lucro, porque a concorrência tende a se intensificar face à entrada cada vez maior de produtos de outros países, principalmente da China¿, observou.

No caso dos brinquedos, o presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Exportadores de Brinquedos (Abrimpex), Eduardo Benevides, lembrou que no ano passado os consumidores não sentiram os efeitos do dólar, porque as compras já haviam sido feitas antes do início da crise, e os aumentos registrados foram os tradicionais, de 5% a 7%, o que deve se repetir em 2009. ¿Neste ano os importadores compraram menos porque não tinham previsão de como o Brasil ficaria com relação à crise. Mas no segundo semestre alguns importadores estão fazendo novas compras, prevendo aumento do consumo por conta da queda do dólar¿, disse. Para Benevides, as vendas devem crescer pelo menos 12%.

Para o coordenador de pesquisas do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração, da Universidade de São Paulo, Nuno Fouto, as condições do Natal deste ano não favorecem preços mais baixos do que os do ano passado, porque, naquele período, havia forte influência da crise.

O número R$ 2,33 Cotação da moeda norte-americana no final do ano passado. Atualmente, o valor gira próximo a R$ 1,70