Título: Desafio do PT será costurar os palanques
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 22/11/2009, Política, p. 6

Levantamento do Correio indica que apoio a candidatura de Dilma nos estados está baseado em muitas promessas e poucas garantias. Os partidos têm priorizado as alianças regionais em detrimento do cenário nacional: Dilma terá que esperar

O futuro presidente do PT terá que correr para fechar palanques de peso para manter a candidatura da ministra Dilma Rousseff presente em todos os estados no período eleitoral. Um levantamento feito pelo Correio com os partidos mostra que hoje há muitas promessas de apoio, mas, na prática, a ministra tem poucos lugares para aportar fora do leito petista. ¿Ela hoje tem um noivado com o PMDB e com o PDT. Um namoro com o PR e o PP. E um flerte com o PSB. E olha que até noivado se desmancha na porta da igreja¿, comenta o deputado Márcio França (PSB-SP), atento aos movimentos eleitorais de todos os aliados do presidente Lula.

Como não dá para esperar o cenário nacional ficar mais claro para definir os candidatos a governador, a maioria dos partidos deixou de lado a sucessão presidencial e passou a tratar das alianças de 2010 sem levar em conta o quadro da corrida ao Palácio do Planalto. O resultado desses movimentos revelam uma colcha de retalhos partidária e o risco de deixar a eleição presidencial descolada da estadual em mais da metade do território brasileiro.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, o DEM acenou essa semana com o apoio a uma candidatura do deputado Vieira da Cunha (PDT) ao governo do estado. Se essa aliança vingar, arrastará o PTB e deixará o candidato do PT, Tarso Genro, isolado dos demais partidos da base (veja quadro). Por isso, o governo espera que o deputado Pompeu de Mattos consiga evitar essa parceria, de forma a colocar os pedetistas ao lado do ministro na sucessão gaúcha.

Avanços

Em muitos estados, as alianças estão bem avançadas. Em Goiás, por exemplo, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já defendeu a candidatura do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB), está difícil aglutinar toda a base governista. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), fechou com o PSDB, que terá o senador Marconi Perillo disputando o governo. Os tucanos não descartam sequer uma reaproximação de Perillo com o atual governador, Alcides Rodrigues (PP). Corre o risco de Meirelles reunir apenas o PT e o PMDB numa coligação.

Em Alagoas, o senador Fernando Collor (PTB), que ainda tem um bom tempo de mandato no Congresso, não apoiará o PT e nem concorrerá ao governo estadual. Ele tem mais quatro anos pela frente no Senado e, em 2010, trabalhará pela reeleição do senador Renan Calheiros (PMDB) e, assim, cumprir uma dívida política contraída há 20 anos. Naquela época, Renan saiu candidato ao governo do estado pelo PRN e Collor, presidente da República, apoiou Geraldo Bulhões.

Por enquanto, os dois ainda não definiram o que fazer para o governo do estado e nem se movimentam no sentido de abrir um palanque para a ministra Dilma Rousseff. Nos bastidores, há um consenso: se Dilma tiver fôlego de sobra, terá tapete vermelho por todo o país. Caso ocorra o inverso, essa tarefa ficará mesmo com o PT.

Ela (Dilma) hoje tem um noivado com o PMDB e com o PDT. Um namoro com o PR e o PP. E um flerte com o PSB. E olha que até noivado se desmancha na porta da igreja¿

Márcio França, deputado do PSB-SP

Cenário indefinido

Nos bastidores, os deputados revelam que a principal razão de a maioria deles optar por palanques longe do PT nos estados é simples: ninguém quer ficar totalmente comprometido desde já, de forma umbilical, com a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Palácio do Planalto. Dia desses, numa reunião, um representante do PR abriu o jogo: ¿Hoje, quem tem os votos é Lula, que não será candidato. Dilma ainda não nos disse a que veio e nem tem uma ligação direta com a classe política. Tudo está embasado em Lula. E Dilma não é Lula¿.

Os partidos têm hoje duas incertezas em relação à ministra petista: primeiro, não têm segurança sobre a capacidade de Lula de transferir todos os votos e a popularidade para a sua candidata. No geral, os partidos não têm dúvidas de que, se Dilma apresentar fôlego nas pesquisas, em agosto do ano que vem, haverá tapete vermelho estendido para ela em todos os estados aliados do governo.

Na hipótese de Dilma estacionar no patamar que está hoje, os palanques, em sua maioria já desvinculados do PT, vão minguar a olhos vistos. Isso já ocorreu no passado com Anthony Garotinho, candidato à Presidência da República pelo PSB em 2002, e com Ulysses Guimarães (PMDB), em 1989. Ambos patinaram nas pesquisas de intenções de voto em agosto e terminaram abandonados à própria sorte pelos seus correligionários.

Além disso, os parlamentares querem saber como será essa relação com Dilma quando Lula não estiver no Planalto e a ministra assumir o papel de comandante suprema. Mesmo que ela venha a vencer com Lula chorando pelos quatro cantos do Brasil, despedindo-se do povo e pedindo a continuidade de seus programas ¿ pelo menos é nisso que apostam os palacianos ¿ , a classe política vê em Dilma uma incógnita.

Discurso

Ciente desse problema, a ministra começará, agora, a formatar seu discurso, de forma a atrair aliados. Quem está cuidando desse trabalho aconselha o mundo político a ficar de olho nos pronunciamentos dela ao longo das próximas solenidades do governo. Daí virá um rascunho da plataforma pós-Lula que ela pretende empreender e deixar pronta para quando chegar a hora de sair do governo e cair na campanha. E, de agora em diante, ela fará reuniões constantes com grupos de políticos para se aproximar dos parlamentares e mostrar um lado mais afável. Se conseguir, só ficará faltando o item pesquisa para empolgar os aliados do governo com a sua candidatura ao Planalto (DR).

Alianças regionais

Saiba como estão as movimentações em alguns estados e a possibilidade de Dilma conseguir palanques:

Rio Grande do Sul O único palanque definido em favor da ministra é o de Tarso Genro. O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), se quiser sair candidato, terá o apoio do DEM. O PMDB ruma para a oposição numa possível aliança com o PSDB.

Santa Catarina A eleição promete pulverizar a base governista. O PT tem como nome mais forte a senadora Ideli Salvatti, que não terá muitos aliados. O PSB terá candidato próprio. PP, PR, PTB e PMDB não fecham com o PT.

Paraná O PSB ocupa a vice-prefeitura de Beto Richa e não terá como deixar de apoiar o tucano, se ele sair para o governo do estado. O governador Roberto Requião (PMDB), candidato ao Senado, também não tem aliança com o PT local.

São Paulo O PP está fechado com José Serra e apoiará o candidato que for indicado pelo PSDB. O PTB local também não pretende seguir com Dilma.

Rio de Janeiro Os aliados do governo estão totalmente pulverizados. O governador Sérgio Cabral (PMDB) concorrerá à reeleição. Terá o apoio do PTB e do PP. O PR lançará Anthony Garotinho. Os dois já prometeram palanque para Dilma. Mas há quem diga que ela corre o risco de ficar só com o PT.

Minas Gerais É o mais indefinido da política nacional e estadual. Todos esperam a decisão do governador Aécio Neves (PSDB), que aglutina quase todos os partidos em torno de seu governo.

Bahia Os aliados se dividem, mas é um dos poucos estados onde Dilma tem assegurado desde já dois palanques. O do governador Jaques Wagner, candidato à reeleição, e o de Geddel Vieira Lima (PMDB), que já fechou o apoio do PTB.

Rio Grande do Norte A base de Lula estará dividida. Iberê Ferreira (PSB), vice-governador, assume o cargo em abril e deve ser candidato à reeleição. O PR pretende lançar a candidatura do deputado João Maia ao governo. O PMDB ensaia uma parceria com o DEM da senadora Rosalba Ciarlini para o governo.

Distrito Federal O governador José Roberto Arruda (DEM) tem ao seu lado diversos aliados do governo Lula, como o PR, o PTB, o PP e o PMDB. O PT terá candidato próprio e, por enquanto, ainda não conseguiu fechar os partidos de esquerda em torno de um único nome.