Título: Abismo entre negros e brancos diminui
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 21/11/2009, Economia, p. 24

Cresce participação da população negra em cargos de direção, gerência e planejamento no mercado de trabalho

As desigualdades entre negros e brancos no mercado de trabalho ficaram menores entre 2004 e 2008, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para seis regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador, Recife e Porto Alegre). De modo geral, os números apontam maior inserção no mercado e ampliação real da renda em proporção maior que a dos brancos.

Um dos indicadores é o aumento da participação de negros em postos de direção, gerência e planejamento. Essa maior ocupação dos cargos qualificados foi identificada pelo Dieese em Belo Horizonte, Recife e São Paulo. Em Salvador, o percentual se manteve estável, no DF caiu e em Porto Alegre se manteve estável.

A despeito do aumento na maior parte das regiões, ainda há grande diferença entre negros e brancos em relação aos postos de chefia. Em São Paulo, por exemplo, apenas 5% dos negros ocupados estavam em funções de direção, gerência e planejamento em 2008, aumento de 0,3 ponto percentual em relação a 2004. Entre os trabalhadores brancos, o percentual é de 17,4%.

Em Salvador, onde a população negra representa mais de 85% da População Economicamente Ativa, a presença de trabalhadores negros em postos de comando é três vezes menor que a de brancos. A maioria dos afrodescendentes está em funções de execução, grande parte sem qualificação profissional.

Rendimento

O rendimento médio da população economicamente negra também continua inferior ao dos brancos, ainda que tenha havido aumento da renda real dos primeiros, de 2004 a 2008, nas seis regiões pesquisadas. Em Belo Horizonte, a renda média dos negros avançou 15,7% no período, metade da ampliação de 29,7% registrada pelos brancos. ¿A discreta redução da diferença entre valores tão díspares não significou melhora consistente daqueles que ganham menos¿, diz o relatório do Dieese.

O rendimento médio por hora de trabalho entre os negros na região metropolitana da capital mineira é de R$ 5,03, ante R$ 8,80 recebidos pelos brancos. Em Salvador, a diferença é ainda maior. Enquanto a hora de trabalho dos negros equivale a R$ 4,75, a dos brancos é de R$ 9,63. De acordo com as análises regionais do Dieese, a diferença entre valores recebidos por negros e brancos é menor entre os trabalhadores menos escolarizados.

Serviço doméstico

O percentual de negros nos serviços domésticos e na construção civil ainda é maior que o de trabalhadores brancos nas mesmas funções. De 2004 a 2008, houve redução do número de afrodescendentes nesses setores, mas a participação entre as raças ainda é desigual. Segundo o Dieese, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas observou-se maiores percentuais de empregados negros em postos de trabalho de menor qualificação, nos quais as jornadas costumam ser maiores e os rendimentos, menores.

Em São Paulo, o levantamento apontou redução dos negros nos serviços domésticos, de 8,7% em 2004 para 7,7% em 2008. No DF, 11,4% dos negros ocupados trabalham em atividades domésticas, contra 5,6% entre os não negros. Na construção civil, a tendência é semelhante, apesar da maior proximidade entre a participação de trabalhadores negros e não negros no setor.