Título: BC quer evitar bolha de crédito
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2009, Economia, p. 23

Meirelles alerta que empréstimos têm de obedecer a padrões de riscos sólidos e que bancos somente devem financiar tomadores com capacidade de pagamento

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantiu ontem que a tendência das taxas de juros cobradas dos consumidores e das empresas é de baixa, mas ressaltou que a instituição estará muito atenta à qualidade dos empréstimos e financiamentos fechados pelo sistema financeiro. O objetivo do BC, segundo ele, é evitar que o Brasil seja tragado por uma bolha de crédito, considerada a mais perigosa para uma economia.

¿A crise americana mostrou que a bolha de crédito é a mais perigosa. O estouro dessa bolha leva a crises gravíssimas¿, afirmou. Para Meirelles, no entanto, o forte crescimento do mercado de crédito no Brasil, que já voltou aos níveis pré-crise, está longe de ser considerado uma bolha, devido às exigências cada vez maiores que o BC vem fazendo aos bancos para se protegerem de possíveis calotes.

No entender do presidente do BC, é dever da instituição alertar sempre que os critérios de concessão de crédito têm que obedecer a padrões de riscos sólidos. ¿Os bancos devem emprestar para empresas ou pessoas em volumes que elas tenham condições de pagar, porque não é bom para ninguém um problema de crédito. Portanto, a boa gestão de risco é fundamental¿, frisou ele, durante a posse de Moacir Zanatta na presidência do Instituto Brasileiro de Executivos e Finanças do Distrito Federal (Ibef-DF).

Mas não é só. Segundo o presidente do BC, os bancos também necessitam constituir provisões contra possíveis perdas, o que, ressalte-se, vem sendo feito com frequência. Desde o início desde ano, essas provisões aumentaram 52%, totalizando R$ 99 bilhões, volume bem superior aos R$ 60,8 bilhões em empréstimos que estão em atraso. Outra exigência importante é a reserva de liquidez , ou seja, dinheiro disponível no caixa para uso imediato. O BC obriga que, para cada R$ 9 emprestados, os bancos tenham R$ 1 de patrimônio. ¿O BC está atento a tudo isso para que a expansão de crédito seja saudável¿, frisou.

Fartura

Apesar das ressalvas, Meirelles se mostrou confiante. ¿Deveremos ter, de fato, crédito disponível em condições melhores ainda neste Natal. Deveremos ter um Natal excelente, não só para crédito, mas para a renda, a criação de emprego e a massa salarial, que continuará crescendo.¿ No seu entender, as perspectivas para 2010 também são boas. ¿Como tenho dito, o momento é de administrar o sucesso. Não só no crédito, mas em outras áreas, de maneira que o Brasil possa continuar crescendo¿, avaliou.

¿Felizmente, a situação do crédito é positiva para o país. O crédito aumentou muito nos últimos anos em proporção do Produto Interno Bruto (PIB), passando de 21%, em 2003, para 45%. Mas temos muita margem para crescer¿, assinalou Meirelles. Esse espaço para expansão fica claro quando se olha para os países asiáticos, onde o total de empréstimos corresponde, em média, a 100% do PIB. ¿Nos EUA, passa de 200%, mas talvez seja uma relação muito elevada¿, frisou. ¿O importante é que o crédito continue farto e os juros caiam, para estimular os investimentos¿, complementou Moacir Zanatta.

Sobre a superação da crise pelo Brasil, o presidente do BC disse ter certeza de que ela ficou para trás. Admitiu, porém, que existe preocupação para o risco de uma recaída da economia americana. ¿Se houver outro problema, acredito que atingirá o Brasil. Mas o país será atingido de uma forma completamente diferente, pois está bem preparado para lidar com isso¿, concluiu.