Título: Palanques aceleram posse no PT
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2009, Política, p. 6

Integrantes do partido negociam antecipar início do mandato dos eleitos para negociar alianças nos estados. Ideia ainda encontra resistência na cúpula, mas será decidida caso a caso

Parlamentares do PT negociam para antecipar a posse dos dirigentes vitoriosos em primeiro e segundo turnos no processo eleitoral direto (PED). A proposta encontra resistência na cúpula nacional que vê nela uma manobra para encurtar o mandato do presidente petista Ricardo Berzoini.

O deputado Geraldo Magela (PT-DF) disse que provocará o Diretório Nacional a decidir sobre a posse imediata dos dirigentes estaduais, municipais e nacionais eleitos no PED do último domingo e no segundo turno, marcado para 6 de dezembro. ¿É preciso pensar no partido em todos os estados. Os dirigentes eleitos não vão poder trabalhar e os que estão no cargo já não trabalham mais porque estão de saída¿, disse o parlamentar do Distrito Federal, que disputou a presidência do PT e ficou em terceiro lugar, atrás do ex-senador José Eduardo Dutra (SE) e do deputado José Eduardo Cardozo (SP).

A posse dos dirigentes nacionais está marcada para o congresso do PT, entre 18 e 21 de fevereiro. Nos estados, os dirigentes eleitos assumirão em março. A ideia tem boa aceitação nos diretórios regionais, mas é rejeitada no plano nacional. ¿Já houve essa proposta no Diretório Nacional foi rejeitada. Se alguém recolocar essa proposta, o Diretório vai dar uma olhada¿, disse Berzoini. E disse que se Dutra quiser, poderá negociar. ¿Se o novo presidente pedir, a gente pode conversar¿, emendou.

Segundo turno

A solução tem dois pesos e duas medidas. No plano nacional, a disputa foi lançada por um grupo minoritário. Nos estados, a antecipação atende aos interesses do antigo campo majoritário. No Ceará, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, eleita presidente estadual do partido, tomará posse antes do final do ano, numa composição local com o atual mandatário Ilário Marques. Há movimentos similares no Maranhão, Minas Gerais e Rio Janeiro.

Em todos, a aliança PT e PMDB depende de quem será eleito dirigente em segundo turno. No Maranhão, a cúpula nacional petista quer eleger Raimundo Monteiro, favorável à aliança com a governadora Roseana Sarney (PMDB), contra Augusto Lobato. Os dois disputam o segundo turno. Em Minas, Gleber Naime disputa uma nova rodada de negociação contra o atual presidente regional Reginaldo Lopes. No Rio, Luiz Sérgio, pró-PMDB, disputará com Lourival Casula, que deseja ter candidato próprio. Nesses estados, a antecipação tem mais chance de ocorrer se os vitoriosos forem os grupos que trabalham de acordo com os interesses do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff.

¿O PT funciona com regras, quando se tenta mudá-las dá curto circuito. O Dutra já está participando da mesa de negociação¿, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), acrescentando que, nos estados, a solução deve ser pontual, caso a caso. O presidente nacional eleito já foi incluído nas negociações com o PMDB sobre a aliança em torno de Dilma.

E EU COM ISSO Antecipar a posse dos dirigentes eleitos na disputa interna do PT atende, nos estados, aos interesses do grupo favorável a facilitar o acordo eleitoral com o PMDB. No plano nacional, além de ser vista como um braço de ferro pessoal com o atual presidente Ricardo Berzoini, a sugestão encontra pouca aceitação. O novo mandatário já atua informalmente no cargo, tem visão similar à de seu antecessor e, no fim das contas, terá papel secundário na campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Por trás dessa disputa, tem ainda um movimento para fortalecer o grupo mandante do PT, que terá 55% do novo diretório nacional.

Com a força do trator

A eleição que marcou a volta oficial do ex-ministro José Dirceu à Direção Nacional do PT mostrou a força do antigo Campo Majoritário. Movimentados pelo interesse de afinar todo o partido pela aliança nacional com o PMDB, os petistas atropelaram dissidentes e questionaram os poderes de quem tinha o comando nos estados.

O trator foi ainda mais forte nos estados considerados fundamentais para o sucesso do acordo com os peemedebistas. No Paraná e no Pará, os candidatos apoiados pela cúpula petista impuseram uma vitória devastadora a seus adversários. Ênio Verri, candidato do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ao diretório paranaense, sagrou-se presidente com 75% dos votos contra 14% de Tadeu Verri, que defendia uma candidatura própria ao governo do estado. A direção nacional jogou para conter dissidentes e salvar a tese da aliança com o PDT e com o governador Roberto Requião (PMDB).

O atual presidente do diretório paraense, João Batista, venceu com 93% dos votos. Em segundo lugar, ficou Fábio Pessoa, que teve 3,9%. Acabou escanteado Bira Rodrigues, que esperava contar com o voto de petistas inconformados com as diversas alianças feitas no estado que vão desde o PTB até o PMDB, do deputado Jader Barbalho.

Foi José Dirceu quem impôs o estilo trator dentro do PT. Mas desde que teve o mandato de deputado cassado durante o escândalo do mensalão ficou relegado aos bastidores. Nessa eleição, ele retoma um posto no diretório nacional e ajudará a compor uma ampla maioria dos postos da direção. O antigo campo majoritário estuda até retaliar adversários, deixando, por exemplo, o deputado Geraldo Magela (PT-DF) sem um posto na Executiva Nacional. (TP)