Título: Cinema e pipoca no ABC
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2009, Política, p. 6

Lula vê, hoje, sua cinebiografia. Sessão será na cidade onde ele começou a militância

São Paulo ¿ A cidade que foi o berço da militância política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, vai parar hoje para receber o filho mais ilustre, oito ministros, incluindo Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência da República, e artistas, como a atriz Glória Pires. A trupe, liderada pelo cineasta Fábio Barreto, vai apresentar na cidade o filme Lula, o filho do Brasil, apontado como importante peça política para 2010, já que trata da cinebiografia da estrela mais brilhante do PT.

O Palácio do Planalto garante que Lula verá o filme pela primeira vez, apesar de o diretor Fábio Barreto ter distribuído a políticos do PT, patrocinadores e atores do filme cópias com marca d¿água contendo o nome dos privilegiados. Entre esses exemplares exclusivos, há um com o nome de Lula.

Em São Bernardo do Campo, a exibição do longa será no cinema mais antigo do país, o Vera Cruz, que foi reinaugurado recentemente. Espera-se cerca de 2 mil pessoas. O evento tem patrocínio da rede de cursos profissionalizantes Microlins. O presidente da instituição, José Carlos Semenzato, justifica a ajuda financeira: ¿Foi nas fábricas e nos sindicatos do ABC paulista que Lula iniciou seu engajamento em prol dos trabalhadores e passou por intensas experiências de vida¿. Semenzato não quis revelar o valor gasto com o patrocínio.

A empresa ressaltou ainda que a exibição do filme é bancada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que vai oferecer ingressos a preços populares para seus filiados, além de vender o DVD em ano eleitoral a R$ 10. A ideia é levar o filme ao maior público possível, desbancado o recorde de bilheteria de todos os tempos do cinema brasileiro, Dona Flor e seus dois maridos, que arrastou 12 milhões de pagantes às salas de exibição.

Baseada no livro homônimo de Denise Paraná, a cinebiografia de Lula conta a sua infância pobre em Pernambuco e a mudança para São Paulo. Recria a relação próxima e afetiva com a mãe, dona Lindu, e retrata o sindicalista que mobilizava multidões.

Emoção

Nas duas horas de duração, o filme tenta identificar a figura do presidente com o povo brasileiro. Em cenas feitas para emocionar, Lula aparece vendendo laranjas e engraxando sapatos quando criança. Em sequências fortes, o presidente aparece sofrendo com a agressividade do pai alcoólatra e sua família perdendo o patrimônio em uma enchente.

Após a exibição do longa, está programada uma festa com o elenco, familiares, convidados e políticos do PT, além de metalúrgicos do ABC. O próprio Lula, ao lado do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), recepcionarão os convidados para a sessão especial, prevista para as 19h. Antes, Lula e Marinho vão inaugurar o parque Cidade dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Bernardo do Campo, que será batizado com o nome da mãe do presidente, Eurídice Ferreira de Mello, a dona Lindu.

Memória Estreia confusa

A primeira exibição do filme Lula, o filho do Brasil, ocorreu na abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na semana passada. A estreia foi marcada por uma confusão, porque foram distribuídos mais convites do que a Sala Villa-Lobos, no Teatro Nacional, poderia comportar. Atrizes como Glória Pires e sua filha Cléo Pires não puderam sentar-se nas cadeiras marcadas e tiveram que ser acomodadas em outros lugares. Pelo menos 400 pessoas tiveram que assistir à projeção sentadas ao chão.

A première contou com a presença da primeira-dama Marisa Letícia, interpretada por Juliana Baroni no longa-metragem, e de inúmeros políticos. Com atraso de quase uma hora, a sessão começou quente, com o produtor Luiz Carlos Barreto recebendo vaias por pedir que as pessoas cedessem seus lugares para a equipe do filme. No fim da sessão, houve poucos aplausos. A crítica especializada vem recebendo o filme com frieza, mas destaca a grande atuação da atriz Glória Pires. (UC)

Mais um ¿Dona Lindu¿

Antes de assistir ao filme sobre sua vida, Lula vai inaugurar o Parque Dona Lindu em São Bernardo do Campo. O nome, uma homenagem à mãe do presidente, é o mesmo de uma área semelhante do Recife. Planejado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o Parque Dona Lindu da capital pernambucana, que ocupa uma área de 33 mil metros quadrados, enfrenta um novo problema: não há data certa para a inauguração das duas imponentes cúpulas em concreto que vão abrigar o teatro e o pavilhão de exposições.

Em 30 de dezembro de 2008, a pedido do então prefeito João Paulo (PT), o presidente da República inaugurou, de fato, a parte externa do parque, onde há pistas de cooper e de skate, playground infantil, equipamentos de ginástica, a quadra poliesportiva e a escultura sobre os retirantes nordestinos do artista plástico Abelardo da Hora. O monumento retrata uma mulher com os oito filhos, simbolizando os retirantes, a exemplo da mãe do presidente Lula, Eurídice Ferreira de Melo (dona Lindu).

O atual prefeito do Recife, João da Costa, pretendia inaugurar a parte interna do parque em março passado, mas não foi possível. A data foi transferida para dezembro, a pretexto de atualizar o custo final da obra. Recentemente, o prefeito anunciou novo adiamento. Ele insistiu que será preciso redefinir os preços dos equipamentos para som e iluminação do teatro e do pavilhão. Hoje, para concluir o parque, seria necessário um investimento de mais de R$ 30 milhões.

Apesar da polêmica, o Parque Dona Lindu é muito frequentado, sobretudo por crianças. Por enquanto, apenas a grama se sobressai. A arborização completa ocorrerá apenas no fim de 2010.

O número R$ 30 milhões Estimativa de quanto custará a conclusão das instalações do Parque Dona Lindu no Recife