Título: Investigação ao MST é blindada
Autor: Santos, Danielle
Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2009, Política, p. 11

PT e PMDB ficam com os principais cargos da CPI, mas tanto a base aliada quanto a oposição negam que o trabalho acabará em pizza

Faltando pouco mais de um mês para o recesso dos trabalhos no Congresso, parlamentares da base aliada e da oposição ligados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) seguem num ritmo conciliatório em relação às investigações sobre repasses públicos feitos aos sem-terra. Após mais de 30 dias da apresentação do requerimento e muito barulho dos dois lados, o governo saiu ganhando e conseguiu fazer uma blindagem na direção da comissão. O PT e o PMDB escolheram o deputado petista Jilmar Tatto (SP) para a relatoria e o senador governista Almeida Lima (PMDB-SE) para a presidência.

A ideia é evitar que as denúncias respinguem nas atuações do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O ¿acordão¿ que pode ajudar a esvaziar a comissão e evitar, assim, desgastes para ambos os lados em ano pré-eleitoral teve aval até da oposição.

¿A demora em torno dos nomes se deve a um entendimento com os parceiros da base do governo sobre o comando. Não havia alternativa. Se fôssemos para uma queda de braço, aí, sim, a CPI ia naufragar antes da hora¿, justifica o deputado ruralista Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), também admite que os nomes indicados para o comando da CPI foram um ¿bom negócio¿ para o governo. ¿É um acordo natural entre os partidos para que a condução dos trabalhos seja possível. Vamos instalar a comissão já na semana que vem e dar início aos trabalhos o quanto antes¿, sustenta o parlamentar.

O líder peemedebista Henrique Alves (RN) também disfarça quando o assunto é segurar a polêmica das denúncias que recaem sobre os sem-terra e a ligação do movimento com o governo. ¿Nós (o PMDB) também somos governo. Mas, apesar disso, queremos ver os trabalhos começando. Não existe manobra para frear as investigações¿, salienta.

Desgastes

A tentativa dos líderes em minimizar os desgastes ao governo desagradou à ala mais radical do PMDB. ¿Os nomes dos dois indicados não estão ligados aos setor do agronegócio. Não me senti contemplado, mas vamos esperar o início dos trabalhos para saber qual a intenção deles e que linha devemos tomar¿, revela o deputado ruralista Valdir Colatto (PMDB-SC).

O deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR) também foi categórico. Disse não concordar com qualquer acordo que beneficie o governo em questões agrárias. O parlamentar, inclusive, é autor de uma Proposta de Fiscalização e Controle, aprovada na Comissão de Agricultura, com o objetivo de fiscalizar a atuação do Incra nos assentamentos. O documento será, segundo ele, uma espécie de ¿mini-CPI¿, e contribuirá para dar sustentação à CPI do MST com o levantamento de casos de superfaturamento, irregularidades administrativas e arrendamentos irregulares que envolvam os sem-terra. ¿Não podemos associar a nossa imagem a um governo que lida dessa maneira com a questão agrária e que é permissivo no que diz respeito às invasões de terra.¿