Título: Zelaya convoca boicote à eleição
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Fonte: Correio Braziliense, 28/11/2009, Mundo, p. 35

Ordem é para seguidores do presidente deposto não saírem de casa amanhã para votar

Em uma última tentativa de sabotar as eleições de domingo em Honduras, os simpatizantes do presidente deposto, Manuel Zelaya, declararam um ¿toque de recolher popular¿ no dia do pleito. A autodenominada Frente da Resistência contra o Golpe de Estado pediu aos cidadãos que não saiam de suas casas das 6h às 18h de amanhã. O próprio Zelaya já havia pedido a seguidores que boicotassem o pleito, cuja legitimidade tem divido não só o país, mas todo o continente. Ontem, o presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou que a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) não vai reconhecer as eleições, assim como o ¿bloco¿ formado por Brasil, Argentina, Venezuela, Equador e Nicarágua. Entre os que apoiam o processo, estão Estados Unidos, Peru, Panamá e Costa Rica.

O presidente costarriquenho, Óscar Arias, mediador na crise, pediu que o mundo considere válido o resultado das eleições para o retorno de Honduras à normalidade. ¿Creio que, no final, deve reinar a sensatez. Se tudo correr bem e os observadores não virem nada de mal no domingo, penso que a grande maioria dos países deve reconhecer a eleição¿, disse Arias à rede norte-americana CNN. Segundo Arias, manter o isolamento do governo só aprofundará a pobreza do país.

Correa, que ocupa atualmente a presidência rotativa da Unasul, no entanto, assegurou que o grupo já tomou sua decisão. ¿Não vamos reconhecer as eleições sob o governo de fato de Roberto Micheletti, que serão reconhecidas pelos Estados Unidos. (¿) Espero que a União Europeia (UE) adote a mesma postura que a Unasul¿, disse o equatoriano, que está em Bruxelas para uma conferência sobre as relações entre a América Latina e a UE. ¿Agora vamos ver quem é quem, quem acredita na democracia e quem não¿, provocou. Christiane Hohmann, porta-voz da comissária europeia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, disse que é preciso esperar a realização das eleições. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, reiterou ontem que ¿as eleições sob um governo instalado por um golpe de Estado não é um bom sinal¿. ¿Acho que essas eleições significam também o enfraquecimento da OEA, e é por isso que temos que trabalhar com sistemas alternativos, como a Unasul¿, ponderou.

De acordo com o jornal conservador hondurenho El Heraldo, a divisão do continente é encabeçada, de um lado, pelo Brasil, e, de outro, pelos Estados Unidos. O diário afirma que o governo interino de Honduras, liderado por Micheletti, acusa o venezuelano Hugo Chávez de apoiar o suposto radicalismo de Zelaya, mas que foi ¿o Brasil que tomou a iniciativa de intervir¿ na realização do pleito.

Toque de recolher

Em Tegucigalpa, os apoiadores de Zelaya convocaram o ¿toque de recolher popular¿ para que ninguém vote e também ¿não haja repressão¿. ¿Se houver atentados durante a votação, serão por parte dos militares e da polícia, porque as pessoas da resistência estarão em casa¿, disse o coordenador da Frente da Resistência contra o Golpe de Estado, Juan Barahona. Cerca de 30 mil militares e policiais foram mobilizados pelo regime de Micheletti para distribuir o material eleitoral e garantir a segurança nos locais da eleição. O toque de recolher foi um instrumento muito usado pelo governo de Micheletti para evitar manifestações desde o golpe que tirou Zelaya do poder, em 28 de junho.

Se houver atentados durante a votação, serão por parte dos militares e da polícia, porque as pessoas da resistência estarão em casa¿

Juan Barahona, coordenador da Frente da Resistência contra o Golpe de Estado