Título: Em defesa do exame preventivo
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2009, Brasil, p. 17

Médicos brasileiros contestam a recente orientação norte-americana de realizar mamografias apenas a partir dos 50 anos

Janice Lamas: tumor detectado tarde dificulta o tratamento

Ignorando estudos, segundo os quais o rastreamento, quando iniciado aos 40 anos, pode diminuir a mortalidade por câncer de mama em até 15%, médicos da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos passaram a recomendar a realização da mamografia preventiva a partir dos 50 anos, com intervalo de dois anos entre os exames. Apesar de a decisão ter provocado críticas na América do Norte, a polêmica chegou ao Brasil. No Instituto Nacional de Câncer (Inca) brasileiro, a orientação é igual à do órgão americano. No entanto, por aqui, grande parte dos especialistas insiste que o monitoramento das mamas deve ser feito, anualmente, a partir dos 40 anos.

Segundo dados do Inca, a doença tirou a vida de 2.741 mulheres brasileiras com idades entre 50 e 59 anos em 2007. Número não muito maior do que as mortes ocorridas na faixa dos 40 a 49 anos: 2.051. Enquanto o Inca usa os efeitos provocados pelos exames e o estresse ¿desnecessário¿ ocorrido em casos de falsos positivos como argumento para adiar o monitoramento, médicos se agarram à chance de salvar mais vidas para não seguir a diretriz oficial. E apoiam-se, inclusive, na Lei federal nº 11.664/08, que entrou em vigor em abril deste ano, que garante a realização do exame a todas as mulheres a partir dos 40 anos. Alguns médicos chegam a defender o exame preventivo ainda mais cedo: aos 35. E usam suas experiências em consultório, onde percebem um aumento de mulheres jovens com câncer de mama para justificar essa antecipação.

A médica radiologista Janice Lamas, que atua desde 1977 no diagnóstico de câncer, é uma das profissionais que acreditam no benefício da mamografia a partir dos 40 anos. ¿O número de biópsias recomendado e as taxas de câncer de mama que temos encontrado por mil mulheres assintomáticas submetidas ao rastreamento mamográfico são muito próximas, tanto na faixa etária acima e abaixo dos 50 anos: 8,6 e 8,7 casos, respectivamente¿, relata a especialista. ¿Os tumores, porém, que são detectados aos 40 anos seriam aqueles palpáveis daqui a cinco ou dez anos, onde o prognóstico é muito pior, com cirurgias mais mutilantes, necessidade de sessões de radioterapia e quimioterapia, além de outros fatores associados, como a depressão e a perda da autoestima¿, explica. Proprietária de uma das clínicas de radiologia mais experientes de Brasília, Janice diz que defender a mamografia acima dos 50 anos ¿vai contra o atual conhecimento da biologia tumoral.¿