Título: Brasil fará 1° leilão de energia eólica
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2009, Economia, p. 20

Licitação coloca o país em situação privilegiada entre os que investem em fontes limpas

O Brasil está realizando pela primeira vez em sua história um leilão exclusivo para a compra de energia eólica, aquela produzida pelos ventos. A contratação, para reserva do sistema elétrico nacional, será feita em evento marcado para 14 de dezembro e o fornecimento deve começar a partir de 1° de julho de 2012. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 339 projetos de geração eólica, com capacidade total de 10.005 megawatts (MW), disputam o direito de fornecer energia ao país por um período de 20 anos. O preço inicial será de R$ 189 por MWh e vencerá quem oferecer o maior desconto nesta tarifa.

Ainda conforme informação divulgada pela EPE, os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte são os que tiveram mais projetos habilitados para o leilão. São 105 com capacidade de geração de 3.629 MW (36,3% do total) no Rio Grande do Norte e 108 com potência de 2.515 MW (25%) no Ceará. Em terceiro lugar, ficou o Rio Grande do Sul, com 67 empreendimentos e 2.238 MW. Também participarão do leilão outros 36 projetos da Bahia (1.004 MW), 13 do Piauí (336 MW), seis do Espírito Santo (153 MW), dois de Sergipe (54 MW) e outros dois de Santa Catarina (75 MW).

O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, afirmou, por meio de uma nota, que a contratação de energia eólica, neste momento, reforça a posição que o Brasil levará para a Conferência do Clima em Copenhague, ¿de promover a manutenção do perfil altamente renovável da matriz energética brasileira¿. Faz coro com o ele o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Hamilton Moss. ¿O Brasil já tem uma matriz energética limpa. Analisando os setores de energia e transporte, 46% de nossa matriz é limpa. E se considerarmos apenas a elétrica, esta parcela sobe para 89%, resultado de nossas usinas hidrelétricas e de biomassa¿, avalia.

Escala Segundo o técnico do ministério, o uso de fontes renováveis de energia em grande escala é uma realidade no Brasil. Mais do que isso: o país, segundo ele, valorizou o critério econômico. ¿Começamos pelas mais baratas¿, lembra Moss, referindo-se às hidrelétricas. ¿Agora, precisamos avançar no sentido de incorporar mais fontes e é neste contexto que se insere a energia eólica. Países como Alemanha e Japão não tinham outra alternativa a não ser a eólica, na qual investiram. Nós estamos bem mais confortáveis¿.

Moss avalia que a contratação da energia eólica poderá levar o Brasil a evitar a utilização das usinas térmicas a carvão. ¿Este é um investimento para dar segurança ao sistema. Isto é, se as chuvas atrasarem ou caírem em volume menor do que o necessário, acionamos a fonte eólica, tão limpa quanto a hidrelétrica, e completamos o fornecimento para a população¿, explicou. Como fonte alternativa, a energia produzida a partir do vento não pode ser armazenada, mas quando produzida, contribui para a segurança do suprimento de energia.

O diretor do MME destaca ainda que o crescimento da energia eólica no país é uma tendência irreversível. ¿O Brasil tem facilidade. Temos um grande território com bom potencial de ventos¿.

Segurança

Os leilões de reserva foram idealizados para a contratação da energia a ser usada em situações de emergência, como a da escassez de chuvas e o consequente comprometimento das hidrelétricas. A energia eólica entraria em operação antes de outras com geração mais cara e poluente. O país já contratou energia de reserva produzida a partir do bagaço de cana-de-açúcar (biomassa).

Combustão

As usinas térmicas ou termelétricas são um tipo de instalação industrial usada para geração de eletricidade a partir da energia liberada em forma de calor, normalmente por meio da combustão de combustíveis renováveis ou fósseis. No Brasil, a maioria delas funciona à base de óleo combustível ou a carvão. A tendência é que migrem para o gás natural, menos poluente.

Expansão modesta

A participação da energia eólica na oferta de eletricidade no Brasil deverá alcançar 1% em 2030, contra os 0,2% de 2005, ano com geração inferior a 100 megawatts (MW). A projeção, hoje considerada conservadora, consta da publicação Matriz Energética Nacional 2030, baseada no Plano Nacional de Energia 2030, do Ministério de Minas e Energia. De acordo com o estudo, entre 2005 e 2030, a capacidade instalada das centrais movidas a vento deverá alcançar 4.682 MW. Só para o leilão do dia 14 de dezembro, os projetos habilitados totalizam mais de 10 mil MW.

¿Ainda não sabemos qual é o volume de energia que o governo vai comprar no leilão. Não significa que será todo o montante que está sendo ofertado nos projetos. Este número só será divulgado próximo ao dia do leilão¿, disse Hamilton Moss, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia. A publicação Matriz Energética estima que, entre 2015 e 2030, a energia eólica terá uma expansão de capacidade de 3.300 MW, volume equivalente à totalidade da primeira fase do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), iniciado em 2002.

Para o sócio da Câmara Brasileira de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, o Brasil caminha para ter uma geração de energia mais distribuída. ¿Hoje, mais de 80% é baseada em água. Isso não é bom¿, diz. O consultor acredita que o país terá fontes alternativas de energia diferenciadas, de acordo com a vocação de cada região. ¿Em São Paulo, existe o bagaço da cana gerado pela produção de álcool. Esta fonte tem potencial semelhante ao da Usina de Itaipu. No Rio e no Espírito Santo, a fonte usada deve ser o gás natural, oriundo dos poços de petróleo. No Nordeste, a vocação é claramente a eólica¿, exemplifica.

Segundo Pires, o sistema elétrico estava precisando de um banho de modernidade. E o momento é agora. ¿É uma hora excelente para termos um pouco mais de ousadia, pois a tendência é de aumento substancial da demanda. A equação é produzir mais emitindo menos CO².¿ (LV)