Título: Articulações na Câmara
Autor: Sallum, Samanta
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2009, Cidades, p. 24

CAIXA DE PANDORA

DEM e outros governistas tentam recuperar o poder perdido na Câmara Legislativa. Já se discute a renúncia de Leonardo Prudente, o que resultaria na necessidade de novas eleições para a presidência

Por enquanto, o secretário Paulo Roriz permanece no GDF até uma posição do diretório nacional do DEM

Cadu Gomes/CB/D.A Press -16/8/09 A secretária Eliana Pedrosa foi eleita distrital pelo DEM e está cotada pelo partido para voltar à Câmara e entrar numa eventual disputa à presidência

O escândalo que implodiu o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Câmara Legislativa provoca agora uma rearrumação de forças políticas, passando por intensas articulações em nível local e nacional. Enquanto petistas e rorizistas se aproximam para fechar um bloco que ganhe força no Legislativo, o DEM e os governistas tentam recuperar o poder perdido na esfera distrital.

A Câmara Legislativa está em paralisia. Não houve sessão ontem, mas os deputados distritais trabalham a todo vapor fora dela, em reuniões secretas. A deputada distrital Jaqueline Roriz (PMN), o senador Gim Argello (PTB), que é vice-líder do governo federal no Senado, e os deputados distritais Érika Kokay (PT) e Paulo Tadeu (PT) se reuniram ontem para alinhavar uma possível aliança. Tentativa de construir um bloco de oposição a Arruda na Câmara Legislativa, o que fortalece o PT. Em troca, a gestão do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) seria poupada da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai apurar o suposto esquema de corrupção no Executivo local. Para Gim Argello(1), uma CPI da gestão Roriz não o deixa em situação confortável, o que o torna interessado nas articulações, ao mesmo tempo que sua proximidade agora com o governo federal petista o torna ponte para a aproximação entre o PT e rorizistas.

Enquanto isso, o DEM tenta recuperar a presidência da Câmara Legislativa perdida para o PT. O deputado Cabo Patrício (PT) assumiu o cargo com o afastamento de Leonardo Prudente (DEM) há três dias, devido ao desgaste das denúncias. Prudente aparece em imagens gravadas recebendo dinheiro e o escondendo até nas meias. Ele e outros sete parlamentares são citados no inquérito da Polícia Federal que deflagrou a Operação Caixa de Pandora na sexta-feira passada.

Para a então base de apoio ao GDF, a permanência de Patrício na presidência é no mínimo desconfortável. Para o DEM, mais uma derrota política. Por isso, na tentativa de o partido reaver o poder na Casa, Prudente estaria sendo convencido a transformar o afastamento temporário em renúncia do cargo de presidente da Câmara. Assim, seria necessário convocar, segundo o regimento interno, nova eleição para a Mesa-Diretora. Eliana Pedrosa e Paulo Roriz, distritais eleitos pelo DEM, que estão no governo como secretários de Ação Social e Habitação respectivamente, podem retornar à Câmara para entrar nessa nova eleição. Ambos estão fora do alvo das acusações. Eliana Pedrosa seria o nome com a missão de recuperar a presidência da Casa. Mas, por enquanto, ela e Paulo Roriz permanecem em seus cargos no governo Arruda até que o DEM nacional tome posição oficial sobre o caso.

Viagem

Prudente afirmou ao Correio: ¿Eu não vou renunciar. Vou continuar o bom trabalho que eu e a Mesa-Diretora estávamos realizando na Casa¿, limitou-se a dizer antes de viajar para a fazenda de um amigo ontem, de onde voltará no domingo. Pessoas ligadas a Prudente contam que, após o afastamento do cargo, 14 deputados distritais estiveram na casa dele prestando solidariedade. Ele pediu 60 dias e pretende retornar ao cargo após esse período.

A pedido do presidente em exercício, deputado Cabo Patrício (PT), a procuradoria da Câmara deve divulgar hoje o parecer jurídico sobre os seis pedidos de impeachment protocolado na terça e na quarta-feira. Patrício havia pedido ao procurador José Edmundo que apresentasse o parece em 24 horas ¿ até ontem ¿, apesar de o prazo normal para esse tipo de procedimento ser de 10 dias. Mas o procurador não teve condições de avaliar todos os requerimentos. Se considerados legais, eles seguem para a Comissão de Constituição e Justiça, cujo presidente, Rogério Ulysses (PSB) também afastou por envolvimento nas denúncias. Se aprovados, vão à plenário. Serão necessários 16 votos para afastar o governador. Dos 24 deputados, 18 ¿em tese¿ são da base aliada de Arruda e oito estão envolvidos nas denúncias de recebimento ilegal de dinheiro.

Os governistas evitam aparecer na Câmara desde que o escândalo foi detonado. Ontem, apenas estiveram na Casa sete deputados (os quatro da bancada do petista, além de José Antônio Reguffe do PDT, Miltom Barbosa do PSDB e Wilson Lima do PR). Miltom estava na Câmara quando os petistas e Reguffe tentaram abrir a sessão, que foi encerrada por falta de quórum. Se tivesse comparecido em plenário, Miltom (irmão de Durval Barbosa) poderia ter garantido o número mínimo de presença para abrir pelo menos as discussões. Mas não foi. ¿Não há clima de segurança para trabalharmos nessa Casa agora¿, justificou ao sair, evitando a imprensa.

1 - Suplente Gim assumiu o mandato no Senado Federal como suplente de Joaquim Roriz, que teve de renunciar ao cargo há dois anos por envolvimento na Operação Aquarela, do Ministério Público e da Polícia Civil do DF. A ação investigou irregularidades no Banco de Brasília (BRB). Em conversas gravadas, Roriz combinava com o então presidente do banco a partilha de cerca de R$ 2,2 milhões. Roriz explicou que o dinheiro seria parte de negociação com o presidente da Gol Linhas Aéreas, Nenê Constantino. Dos R$ 2,2 milhões, o então senador teria pedido empréstimo de R$ 300 mil para a compra de uma bezerra.

Eu não vou renunciar. Vou continuar o bom trabalho que eu e a Mesa- Diretora estávamos realizando na Casa¿

Leonardo Prudente, presidente licenciado da Câmara Legislativa

CONTAS

Dos 24 distritais

18são da base aliada de Arruda. Desses,

8 estão envolvidos nas denúncias

CPI da Corrupção está emperrada Paulo de Araujo/CB/D.A Press - 6/5/09 Reguffe: ¿É uma vergonha que a semana acabe sem que a Câmara tenha instalado esta CPI¿

Três dias depois de ser anunciada a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a corrupção no Governo do Distrito Federal (GDF), não há sinais de que ela realmente saia. A medida foi divulgada depois de acordo entre 22 deputados distritais em reunião na última terça-feira. Uma decisão unânime. Mas até agora o requerimento não ficou pronto e não há assinaturas ¿ são necessárias oito adesões para garantir a abertura do processo.

De concreto, por enquanto, existem apenas sete assinaturas colhidas ontem de um pedido de CPI específico do deputado José Antônio Refuffe (PDT). Entre elas, dois de parlamentares envolvidos na crise: Rôney Nemer (PMDB) e Rogério Ulysses (PSB). Também assinaram Paulo Tadeu (PT), Chico Leite (PT), Cabo Patrício (PT) e Claudio Abrantes (PPS). Essa não tem mais validade por ele estar deixando o cargo devido ao retorno do titular, Alírio Netto (PPS).

Alvos da apuração

A discussão sobre a abertura de CPI na Câmara esbarra, agora, principalmente no período que será alvo de apuração. O pedido de Reguffe prevê que a apuração seja feita desde o governo de Joaquim Roriz (PSC), quando Durval Barbosa já operava esquemas. Mas a aprovada pelos 22 deputados distritais, não define o período. E esse requerimento, apesar de acordado, não foi produzido ainda. ¿É uma vergonha que a semana acabe sem que a Câmara tenha instalado esta CPI¿, criticou Reguffe.

Também pouco se fala na composição da comissão. O PT quer indicar o nome de Chico Leite para presidência. ¿Esse é um momento único para sociedade separar culpados de inocentes e melhorar a escolha dos membros de nossas instituições¿, avaliou o deputado Chico Leite (PT). (SS)