Título: Capitalização cresce e atrai R$ 8 bilhões
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 07/12/2009, Economia, p. 12

Títulos retomam o fôlego. Há dois anos, aplicações aumentam acima da inflação

O mercado de títulos de capitalização está atraindo um número cada vez maior de brasileiros. Desde 2007, o volume aplicado nesses papéis vem crescendo acima do índice de inflação oficial, o IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostram que, somente neste ano, mais de R$ 8 bilhões foram direcionados à compra de títulos, cuja principal característica é vincular a aplicação ao sorteio de uma bolada de dinheiro.

¿Esse produto não foi afetado pela crise mundial, devido ao tipo de público a que se destina¿, explica o diretor executivo da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), Hélio Portocarrero. ¿Quem procura os títulos de capitalização tem uma certa propensão ao risco. O perfil é semelhante ao de quem joga na loteria. O diferencial é que a pessoa joga formando uma poupança, que pode ser resgatada parcial ou até integralmente no vencimento do título. É uma loteria com retorno¿, emenda.

Portocarrero atribui o sucesso do produto a sua grande acessibilidade. ¿Existem títulos de valores muito baixos disponíveis no mercado¿, afirma. Isto é, existem papéis que podem ser adquiridos por R$ 6 de única vez e outros com pagamentos mensais a partir de R$ 8. ¿Além disso, é muito simples iniciar uma aplicação como esta¿, acrescenta.

Nos casos mais simples, a pessoa compra o título de capitalização e concorre ao prêmio instantâneo, raspando as películas protetoras para encontrar três figuras iguais. O consumidor também se habilita a participar dos sorteios. Neste caso, depois de um ano, o comprador pode receber parte do que gastou. Há outras modalidades em que o aplicador paga parcelas mensais e também concorre a sorteios. Em alguns casos, a pessoa pode resgatar até a integralidade do que pagou.

Cuidados

De uma maneira geral, esses papéis são corrigidos pela Taxa Referencial de juros (TR), mas não costumam pagar rendimentos adicionais. Além disso, o diretor executivo da Fenacap observa que o aplicador pode resgatar seus recursos em até cinco anos depois do vencimento do papel. Basta que tenha o título guardado e se dirija diretamente à instituição emissora.

A participação do Distrito Federal no mercado brasileiro de capitalização não é muito expressiva. Na verdade, corresponde a menos de 3% do total nacional. ¿Durante muito tempo, o crescimento deste mercado foi vegetativo. Nos últimos anos é que tem conseguido um desempenho superior, devido ao investimento maior dos bancos neste produto¿, conclui o diretor executivo da Fenacap.

Apesar da garantia de se receber de volta parte ou a totalidade do valor aplicado em capitalização, os compradores desses títulos devem se conscientizar de que não estão fazendo um investimento tradicional, como a caderneta de poupança e os fundos de renda fixa, que garantem ganhos além da TR. O diferencial da capitalização está nos sorteios de prêmios.

Por isso, veja se realmente os títulos se encaixam no seu perfil e nas suas necessidades de caixa, pois os resgates antecipados são um péssimo negócio. A dica é não se deixar seduzir pelos gerentes de bancos, estes, sim, os maiores beneficiados pela venda dos títulos, pois garantem salários extras se cumprirem as suas metas de comercialização do produto.

Xerife atento

A Superintendência de Seguros Privados é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguros, previdência privada aberta, capitalização e resseguros. É ela que garante a lisura dos negócios. E tem a obrigação de defender o interesse de todos os participantes do mercado.

Ações não acompanham Ibovespa

Apesar de toda a euforia que vem marcando os pregões da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), nem tudo o que é negociado no pregão deve ser motivo de comemoração. Quem se dá ao trabalho de acompanhar detalhadamente cada uma das 62 ações que compõem o Ibovespa, principal índice de lucratividade do mercado paulista, verá que a maior parte delas não conseguiu acompanhar o indicador que os analistas acompanham com lupa. Do início do ano até a última quinta-feira, o Ibovespa acumulou alta de 81,9% em reais e de 148,7% em dólar. Mas, dos 62 papéis, somente 23 computaram resultados melhores do que esses.

¿Os investidores têm o péssimo hábito de só olharem para o Ibovespa quando querem ver se vale a pena entrar na bolsa. Mas, quando entram, não estão aplicando no Ibovespa. Estão investindo em papéis específicos¿, diz um especialista que não quis se identificar. Ele ressalta que aqueles que optaram por destinar seus recursos para as 10 ações de empresas do setor de energia que integram o Ibovespa não conseguiram acompanhar o retorno do índice. Comportamento semelhante se verificou entre os que compraram títulos de companhias da área de telecomunicações e entre os que investiram em papéis da Petrobras, os mais negociados do mercado. As ações ordinárias (com direito a voto) da estatal acumulam ganho de 60,42% no ano e as preferenciais, de 72,77%.

Mas isso não deve ser motivo de desânimo, alertam os especialistas. Para eles, o importante é ter em mente que os investimentos em ações são de longo prazo. E que, o mais importante, é os preços das ações superarem as taxas de juros, que estão em 8,75% ao ano. Ou seja, independentemente do desempenho inferior ao Ibovespa, a maior parte das ações negociadas na bolsa paulista estão dando retorno maior do que os juros. ¿O ano de 2009 será excepcional para quem investiu em ações e soube escolher bem os seus papéis¿, afirma o economista Clodoir Vieira, da Corretora Souza Barros. Mas, para ele, o mesmo não ocorrerá no próximo ano, quando se espera que o mercado acionário tenha um comportamento bem mais modesto.

Medo das bolhas

¿Teremos, em 2010, um ano de muita oscilação na bolsa. Por isso, os investidores deverão ter muita cautela na hora de entrar no mercado. Pelas nossas projeções, a valorização do Ibovespa não deverá passar de 20%¿, assinala Vieira. Um dos fatores que mais deixará o mercado com um pé atrás será a economia americana. A despeito dos sinais de retomada que se viu nos últimos meses, há o risco de uma nova crise devido ao alto índice de desemprego, que pode resultar em mais calote no mercado de crédito.

Não é à toa que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o economista americano Paul Krugman têm alertado para o perigo do excesso de otimismo, que sempre leva a formação de bolha ¿ uma ameaça que ronda o Brasil. Diante desses alertas, na Bolsa de Nova York, a euforia começa a dar lugar à cautela.

O número 81,9% Rendimento acumulado pelo principal índice de lucratividade da bolsa paulista