Título: Apuração dos votos é suspensa
Autor: Almeida, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2009, Política, p. 6

Direção nacional determina a continuação do processo para definição do novo presidente do partido, mas contagem das urnas é congelada. Racha de grupos fica cada vez mais evidente

Berzoini tenta minimizar os rachas nos diretórios regionais que podem prejudicar os palanques de Dilma

Um dia depois de antecipada a reeleição de Reginaldo Lopes à Presidência do PT em Minas Gerais, o diretório do partido interrompeu a apuração dos votos do processo de eleição direta (PED), adiando assim o resultado das eleições e intensificando o racha do partido no estado. O argumento oficial para a interrupção foi a necessidade de avaliar uma série de recursos que informavam a não realização das eleições em alguns municípios. São conflitantes as versões sobre o motivo do adiamento.

Na segunda-feira, Reginaldo comemorou, ao lado do ex-prefeito de Belo Horizonte e seu pré-candidato ao governo do estado, Fernando Pimentel, o resultado parcial da apuração que se aproximava do fim e já apontava uma vantagem de cinco pontos percentuais em relação a Gleber, que por seu lado apoia a candidatura do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, ao Palácio da Liberdade. Uma hora após o anúncio, às 18h, o PT mineiro divulgava oficialmente a segunda parcial, na qual Reginaldo aparecia na frente, com 53,22% dos votos válidos (21.148), contra 47,78% de Gleber (19.351).

A antecipação do resultado por Reginaldo antes de um anúncio oficial provocou a reação do bloco opositor, o que culminou na paralisação das apurações previstas para começarem hoje, a partir das 9h. Gleber enviou, então, um comunicado à direção nacional do PT, relatando a situação no PED mineiro e solicitando o restabelecimento do processo eleitoral. Diante do impasse, a direção nacional estabeleceu, por meio de carta do atual presidente, Ricardo Berzoini (SP), que a contagem fosse restabelecida, e afirmou que só reconheceria o candidato apontado pelo resultado oficial das urnas. Até as 20h, contudo, a apuração continuava suspensa.

Mais que uma eleição acirrada e polêmica, os episódios expõem o racha do PT em Minas, segundo colégio eleitoral do país e importante palanque para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, nas eleições presidenciais de 2010. A polarização no PED mineiro entre os dois blocos que apoiam a candidatura de Pimentel e de Patrus ao governo do estado recoloca em jogo o projeto do PT nacional de coligação com o PMDB.

Cabeça de chapa A novela facilita um eventual apoio à candidatura do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), em Minas. De um lado, Pimentel não abre mão da cabeça de chapa nas eleições ao Palácio da Liberdade e diz que o PT tem os melhores candidatos para formar o palanque para Dilma. Por sua vez, Patrus, que também reitera sua pré-candidatura, adota um discurso mais alinhado com o do PT nacional e mantém conversas adiantadas com o peemedebista Hélio Costa, segundo o próprio ministro. Se os dois lados não se entenderem e o PT continuar desunido, quem vai decidir a questão será o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pressionado pelo PMDB, pode baixar a ordem de apoio a Costa.

¿Estamos trabalhando no caminho da coligação. Estou em sintonia com a direção nacional e tive uma reunião muito positiva com toda a bancada do PT e do PMDB. O próprio PMDB, aliás, está no processo interno e temos que respeitar isso, mas acredito que temos condições¿, disse o ministro Patrus Ananias, sem perder a esperança de vitória no PED.

Para Gleber, a antecipação do resultado pelo adversário repetiu o comportamento do primeiro turno ao ignorar o percurso natural do processo eleitoral e tentar adiantar um resultado que ainda não existe. ¿Isso é um desrespeito aos militantes petistas que foram às urnas registrar seus votos. O que eu estou pedindo é que siga o processo normal.¿ Na opinião de Reginaldo, o resultado é o mesmo. ¿Eu reafirmo a minha reeleição, nós estamos eleitos. Queremos total transparência e a legitimidade do processo, mas a comissão está analisando os recursos. Foi só por isso que paralisamos a apuração¿, explica.

O número 53,22% Resultado da segunda parcial, que apontava a percentagem de preferência por Reginaldo Lopes

Panos quentes sobre disputas internas

» tiago pariz

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), tentou minimizar o impacto do resultado das eleições internas do partido nas conversas sobre candidaturas regionais próprias e o acordo com o PMDB. Para ele, os resultados apertados no Rio de Janeiro e em Minas Gerais no segundo turno não impedirão projetos pessoais. A avaliação tem duas leituras. Não enterra a tentativa do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, de sair candidato ao governo do Rio de Janeiro contra o peemedebista Sérgio Cabral, nem a de uma aliança com o PMDB em Minas Gerais. Internamente, petistas apontavam as eleições para os diretórios como uma prévia da corrida pelos governos estaduais. O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), favorável à aliança com Cabral, venceu a disputa. E o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), partidário da candidatura própria do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, deverá ser reeleito em Minas Gerais. Esses resultados, no entanto, não acabam com os rachas internos. Berzoini acredita que essa guerra entre vencedores e derrotados vai continuar. O Diretório decidiu estipular a próxima segunda-feira como prazo para recursos sobre as eleições internas.

Estrela No programa partidário que vai ao ar amanhã, na televisão, o PT reforçará a comparação entre as realizações do governo Lula com o de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A estrela do programa será a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que explicará as ações federais e será apresentada como a coordenadora de governo.

Há uma cena gravada com Dilma discursando e todos os ministros petistas atrás dela. Ela dividirá o tempo com Lula. O presidente recém-eleito do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) também participam do vídeo.