Título: Lula aposta no sim à Venezuela
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2009, Mundo, p. 17

Senado brasileiro vota adesão hoje. Cúpula do bloco rechaça eleição em Honduras

Lula abraça o presidente eleito do Uruguai, o ex-guerrilheiro tupamaro José Pepe Mujica

¿A adesão da Venezuela agrega escala e complementa nosso bloco¿, argumentou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Montevidéu, no encerramento da reunião de cúpula do Mercosul. A declaração de Lula provocou risos entre os governantes do bloco, pois o plenário do Senado brasileiro já adiou por duas vezes a votação sobre o protocolo de ingresso do novo sócio. O presidente brasileiro confia, porém, que a votação se realizará hoje, ¿enfim¿, e que será concluída a ratificação pelo Brasil ¿ restará ainda a aprovação pelo Legislativo do Paraguai para que o processo seja concluído.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, também se pronunciou sobre o tema e disse esperar que o Senado brasileiro ¿aprove logo¿ a entrada de seu país no Mercosul. ¿Depois, temos de esperar o Congresso do Paraguai¿, completou. Assim como os colegas do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai, Chávez também expressou ¿indignação¿ com a crise em Honduras(1). O comunicado final dos chefes de Estado reitera a condenação ao golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya e ¿ mais importante ¿ rechaça como ¿ilegítima, ilegal e inconstitucional¿ a eleição do último dia 29, vencida pelo direitista Porfírio Lobo.

Por outro lado, os presidentes celebraram o ¿triunfo da democracia¿ na Bolívia, que reelegeu no último domingo o presidente Evo Morales, no Uruguai, onde o ex-guerrilheiro de esquerda José Pepe Mujica foi escolhido para suceder o presidente Tabaré Vázquez. ¿Uruguaios e bolivianos disseram sim a projetos de mudança em proveito dos trabalhadores e dos excluídos. Mas também fizeram uma aposta irrevogável pelo Mercosul e por uma América do Sul mais integrada¿, destacou Lula, que teve um encontro particular com Mujica.

Os governantes do bloco concordaram também sobre a conclusão de um acordo comercial com a União Europeia, possivelmente ainda em 2010. Mas se houve consenso na política externa, o mesmo não se pode dizer quanto à política interna. O estabelecimento de um código aduaneiro e o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) ainda não saíram do papel, apesar de os presidentes terem reconhecido que é preciso ¿atacar de frente as assimetrias¿ entre os países-membros. Também não foi desta vez que se chegou a um acordo sobre a configuração do Parlamento do Mercosul a partir de 2011 ¿ data prevista para que os parlamentares sejam eleitos por voto direto. Paraguai e Uruguai temem ficar em desvantagem se houver uma representação proporcional à população de cada país.

No entanto, os líderes do Mercosul conseguiram se acertar quanto à representação permanente do bloco. O argentino Carlos Chacho Álvarez, depois de dois mandatos de dois anos à frente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, não pôde ser reeleito. O Itamaraty explicou ao Correio que o cargo continuará temporariamente vago, sob a liderança dos quatro embaixadores dos países-membros. E o principal cargo administrativo do bloco fica a cargo da Secretaria Executiva, representada pelo argentino Agustín Colombo Sierra, eleito na segunda-feira por unanimidade.

1 - Violência do tráfico A crise política em Honduras continua repercutindo na segurança do país. Ontem, o chefe da Direção Nacional de Luta contra o Narcotráfico, Julián Arístides González, foi assassinado na capital, Tegucigalpa. Os suspeitos são dois homens que dirigiam uma motocicleta e teriam baleado o general aposentado.

Evo ataca imprensa

Dois dias depois de ter sido reeleito presidente da Bolívia, Evo Morales afirmou ontem, durante entrevista na cidade de Cochabamba, que ¿existe uma liberdade de expressão exagerada¿ no país, algo que considera ¿prejudicial¿. Morales lamentou ainda não ter recebido apoio dos meios de comunicação durante a campanha eleitoral. ¿Eu sou uma vítima permanente da imprensa¿, queixou-se. Grande parte da mídia boliviana, controlada por empresários de direita, se colocou abertamente contra o presidente.

O líder boliviano acredita que a maioria dos meios de comunicação de Cochabamba é influenciada por uma jornalista de direita que, além de ser deputada, tem ligação com o ex-presidente conservador Jorge Quiroga. Ele alertou não se dar bem com a jornalista, mas preferiu não mencioná-la pelo nome.

A Corte Nacional Eleitoral (CNE) divulgou ontem o primeiro resultado oficial das apurações, contabilizando os votos de 20,6% das urnas. No próprio domingo, as projeções de todos os institutos, com base nas pesquisas de boca de urna, apontaram a reeleição de Morales com mais de 60% dos votos. Na parcial de ontem, ele apareceu com 47,8%, com vantagem de apenas 6,4 pontos sobre o segundo colocado, o conservador Manfred Reyes Villa, ex-governador de Cochabamba, que segundo as projeções obteve cerca de 25% das preferências.