Título: Erro virtual
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2009, Brasil, p. 10

Inep credita a problema de software a divulgação equivocada, no domingo, do gabarito oficial do Enem. Episódio é mais um arranhão na imagem do exame, que foi adiado após as provas vazarem em outubro

O mais recente capítulo do tumultuado Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicado no último fim de semana, ocorreu devido a um problema de software. Pelo menos essa foi a explicação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela elaboração dos testes, sobre o gabarito errado divulgado na noite de domingo. Como há quatro diferentes modelos de provas a cada dia com as mesmas questões, porém embaralhadas, na hora de casar as matrizes com as respostas corretas, de acordo com a assessoria de imprensa do Inep, o programa de computador falhou. Mais um atropelo a manchar a imagem do Enem, cuja taxa de abstenção nunca foi tão alta: 37,7%.

A assessoria do Inep destacou que tanto as provas como os respectivos gabaritos ficaram guardados dentro de um cofre, sob sigilo, até as 20h do domingo, último dia da avaliação. A partir desse horário, a lista de respostas corretas foi divulgada no site, ao mesmo tempo em que um grupo de funcionários fez uma checagem visual do material. Nesse momento, ainda de acordo com o Inep, professores do órgão já começaram a verificar problemas, como uma única questão com respostas diferentes. Ao mesmo tempo, reclamações de professores e alunos começaram a chegar à instituição. O portal com o gabarito teve, no primeiro minuto após a veiculação do gabarito, cerca de mil acessos. Os dados corretos só foram divulgados ontem (veja ao lado).

Elogios

A despeito desses problemas, o professor Marcelo Lasneaux, diretor pedagógico do pré-vestibular do Galois e também professor de biologia, considerou o Enem um bom teste para os alunos. Do ponto de vista do conteúdo, o docente destacou que a prova foi mais equilibrada que a última edição do Enem e também em relação à versão que vazou. ¿Dessa vez, acho que conseguiram achar o meio-termo entre cobrar do aluno a habilidade em interpretação, leitura de tabelas e gráficos e, ao mesmo tempo, exigir dele conhecimentos importantes¿, afirma Marcelo, que não defende a decoreba. ¿Nessa questão, o Enem avança. A gente não quer que o aluno saiba o nome da espécie de um vegetal. No entanto, ele deve ao menos conhecer os dois grupos de plantas existentes.¿

O Ministério da Educação (MEC) planeja aplicar duas versões do Enem por ano a partir de 2010. A ideia é fortalecer o exame, convencendo as universidades a utilizá-lo como forma de ingresso, ao mesmo tempo em que será necessário enterrar de vez as desconfianças em relação ao processo de aplicação levantadas após o episódio do vazamento. O consórcio de empresas organizadoras de seleções contratado pelo MEC para distribuir e aplicar o Enem deixou o local de impressão das provas ¿ uma gráfica em São Paulo ¿ completamente desprotegido, como mostrou investigação da Polícia Federal.

Enade

A prova de comunicação social do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), realizado em 8 de novembro, deve ter 11 questões anuladas. Na parte geral de comunicação, comum a todas as habilitações, devem ser invalidadas as questões 18 e 19. Nas específicas, quatro áreas perdem itens. São elas: jornalismo (30, 33 e 35), publicidade (33 e 37), relações públicas (34 e 36) e cinema (34 e 38).

Responsável pelo exame, o Inep aguarda o relatório da Comissão Assessora de Avaliação da Área de Comunicação Social para publicar o gabarito oficial nesta semana.

Envolvidos em fraude denunciados

Cinco pessoas envolvidas no furto, vazamento e tentativa de venda dos testes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em outubro passado foram denunciadas pelo Ministério Público Federal em São Paulo. A 10ª Vara Federal Criminal da capital paulista terá de decidir se aceita ou não a denúncia contra Felipe Pradella, Marcelo Sena Freitas e Filipe Ribeiro Barbosa ¿ que trabalhavam pela empresa Cetro no consórcio contratado pelo Ministério da Educação (MEC) para aplicar o Enem ¿ e dois intermediários do grupo ¿ o DJ Gregory Camillo Oliveira Craid e o empresário Luciano Rodrigues, dono de uma pizzaria na capital paulista.

Eles são acusados de peculato (furto praticado por servidor público), corrupção passiva (exigir vantagem indevida) e violação de sigilo funcional. O crime veio à tona porque Pradella tentou vender os exames ao jornal O Estado de S. Paulo. Constatada a autenticidade das provas vazadas, a pasta cancelou a primeira aplicação dos testes. (RM)