Título: Acordo com a UE será prioridade
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2009, Mundo, p. 23

Presidentes sul-americanos se encontram na capital uruguaia com foco no comércio.

Os chefes de Estado dos países do Mercosul ¿ Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai ¿ reúnem-se hoje para tentar destravar as negociações comerciais com a União Europeia, um dos assuntos principais da reunião de cúpula do bloco. No primeiro semestre de 2010, a UE terá sua última presidência rotativa ocupada por um país-membro (a Espanha). Uma fonte da diplomacia espanhola revelou ao Correio que o acordo com o Mercosul será uma das prioridades do governo de Madri, para fechar o mandato na UE com ¿chave de ouro¿.

O presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, o argentino Carlos ¿Chacho¿ Álvarez, declarou que o próximo semestre será uma ¿boa oportunidade¿ para fechar o acordo. ¿Temos de aproveitar a presidência da Espanha na Europa e da Argentina no Mercosul¿, disse. Para Álvarez, para o bloco sul-americano ¿conviria muito avançar com a UE, porque elevaria as possibilidades de investimento na região¿.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também manifestou otimismo quanto à conclusão do acordo, durante o programa semanal de rádio Café com o presidente. ¿Porque nós já temos uma base sólida, que é o acordo sobre a Rodada de Doha, que não foi concluído, mas a base entre a UE e o Brasil estava mais ou menos certa¿, ressaltou. Lula encontrou-se na semana passada, durante a Cúpula Ibero-americana, com o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero. ¿Houve uma boa discussão sobre a necessidade de que se assine rápido esse acordo¿, disse Lula. No sábado, a UE e o Mercosul firmaram uma cooperação para o desenvolvimento sustentável, avaliada em 18 milhões de euros, dois terços bancados pelos europeus.

A reunião do Mercosul foi aberta ontem pelos ministros da Economia. Hoje, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez(1), passará a presidência rotativa do bloco à colega argentina, Cristina Kirchner. Entre os temas na pauta está a ampliação do Sistema de Pagamento em Moedas Locais (SML). Atualmente, o Brasil já comercializa com as moedas nacionais da Argentina e recentemente, do Uruguai. O ministro argentino da Economia, Amado Boudou, prometeu dar ¿um grande impulso¿ ao mecanismo em 2010, para ampliar o comércio dentro do bloco regional. ¿Nossos países, que tradicionalmente estiveram sujeitos ao dólar e às tensões que ele gerou nos anos 1970 e 1980, e muito mais nos anos 1990, agora temos uma nova ferramenta, que é o intercâmbio em moedas locais¿, destacou Boudou.

Estabelecer um código aduaneiro comum e a eliminar a dupla tributação no bloco continuará a ser o grande desafio para a presidência argentina. Segundo o porta-voz do Planalto, Marcelo Baumbach, Lula criticará o protecionismo e dirá que o Brasil tem condições de impulsionar o crescimento regional, principalmente nas áreas de petróleo, gás, alimentos e setor automotivos, além do setor de serviços, com a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Os presidentes do Mercosul deverão conversar ainda sobre o ingresso da Venezuela e a crise política de Honduras ¿ a eleição presidencial do domingo retrasado não foi reconhecida pelo bloco.

1 - Convidado ilustre O presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, chega à reunião de cúpula com um convidado especial: o próximo presidente do Uruguai, José ¿Pepe¿ Mujica, de 74 anos. Ele venceu o segundo turno no final do mês e será uma das estrelas do encontro. ¿Estou ansioso para chegar a Montevidéu. Foi eleito presidente dessa irmã e grande nação, Uruguai, um grande lutador, o `Pepe¿ Mujica¿, anunciou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. ¿Comandante de colunas guerrilheiras, em outras épocas, para que vejam como os tempos estão mudando¿, completou. Mujica também planeja se encontrar com Lula e a presidenta argentina, Cristina Kirchner.

Senado vota adesão

Apesar dos últimos adiamentos com o aval do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), os senadores não devem escapar amanhã da votação sobre a entrada da Venezuela no Mercosul. É o que espera o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), que conta com a aprovação do país no bloco. O tema foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado depois da insistência do Planalto, mas ficou travado no plenário por causa das polêmicas declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de preparar-se para uma guerra contra a Colômbia. Os senadores que já viam a entrada da Venezuela no Mercosul com ressalvas postergaram a votação em duas ocasiões.

No fim de novembro, Sarney revelou que a adesão dependia de um acordo. ¿Essa matéria precisa de um novo acordo entre todas as lideranças. Embora tenha um acordo preliminar de votar logo, o assunto está numa fase em que os partidos não querem que ele seja levado a plenário. Isso porque é uma matéria muita polêmica¿, disse.

A questão também está paralisada no Congresso paraguaio. Este ano, o presidente Fernando Lugo retirou a ratificação do novo membro da votação no Parlamento, ao ver que seria rejeitada. O fato de não ter a confirmação de Brasil e Paraguai não inibiu Chávez de participar da reunião de cúpula do Mercosul. ¿A Venezuela forma parte da tomada de decisões de muitas iniciativas que se executaram no Mercosul¿, disse Chávez, lembrando o projeto de cooperação energética e do Banco do Sul. ¿Dos pontos de vista moral, econômico e político, a Venezuela já é território do Mercosul¿, concluiu. (VV)