Título: Voo bem solitário
Autor: Paris, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2009, Política, p. 4

À revelia da cúpula do PMDB, Roberto Requião lança pré-candidatura ao Palácio do Planalto

Requião: ¿A decisão sobre os rumos do partido só pode ser tomada na convenção, e não num jantar informal¿

Sete deputados e dois senadores. Esse foi o quorum do lançamento do governador do Paraná, Roberto Requião, como pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo grupo do PMDB que é contrário ao alinhamento com o PT da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A pré-candidatura, à revelia da cúpula peemedebista, foi esvaziada pelo líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). A presidente em exercício do PMDB, Íris de Araújo (GO), não estava para receber o documento de Eduardo Pinho Moreira e Waldyr Pugliese, presidentes dos diretórios de Santa Catarina e do Paraná, respectivamente, que pedia ao Diretório Nacional para considerar o nome de Requião. A saída foi o próprio Moreira, que também é vice-presidente nacional, dar o documento como protocolado. ¿Tivemos uma surpresa quando um dos líderes tentou esvaziar nosso encontro. Eu não faria isso com ele¿, criticou Requião.

O lançamento do nome de Requião teve o aval de lideranças de 15 diretórios. Esse número, no entanto, não dá a real dimensão do apoio que o governador paranaense tem dentro do partido. Pelo Rio de Janeiro, assinou o requerimento o ex-ministro Mangabeira Unger, que não fala pelo diretório. Pelo Ceará, a adesão foi de Paes de Andrade, que também não tem os votos regionais, majoritariamente controlados pelo deputado Eunício de Oliveira. Esses dois diretórios são pró-Dilma. O presidente do diretório de São Paulo, Orestes Quércia, enviou uma carta dizendo que apoiará Requião em detrimento do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pré-candidato ao Palácio do Planalto.

Com o apoio restrito dentro do partido, Requião admitiu a dificuldade em concretizar a vontade de se lançar à Presidência da República e criticou a condução da aliança com a pré-candidata petista. ¿A decisão sobre os rumos do partido só pode ser tomada na convenção, e não num jantar informal. Nessa espécie de confraternização, só se pode decidir sobre a sobremesa e não sobre a história do partido¿, disparou Requião. A aliança entre Dilma e a ala majoritária do PMDB foi selada em jantar no Palácio da Alvorada.

Rota de choque

O governador do Paraná não poupou nem o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), condutor do pacto eleitoral e cotado para ser vice de Dilma. A briga interna de Roberto Requião o coloca em rota de choque com o PT. Com a língua afiada, rejeitou qualquer comentário sobre qual a verdadeira intenção do lançamento da pré-candidatura. ¿Não compro, não vendo e não negocio a minha posição¿, frisou. Antes da manobra presidencial, o governador cogitava disputar uma vaga no Senado. Era lembrado até para ser vice de Dilma.

Mas disse que um apoio à pré-candidata petista depende de uma mudança na orientação econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E comparou o projeto petista com o do governador de São Paulo, José Serra (PSDB). ¿A política econômica dos dois é a mesma¿, disse. Questionado sobre se apoiaria Dilma ou Serra num eventual segundo turno, respondeu: ¿Se o governo der a legenda para eu disputar a Presidência, isso não vai acontecer¿.

Patrocinada pelo senador Pedro Simon (RS), a reunião para lançar Requião teve a presença do senador Neuto de Couto e dos deputados Marcelo Almeida (PR), Darcísio Perondi (RS), Eliseu Padilha (RS), Ibsen Pinheiro (RS), Valdir Colatto (SC), Edinho Bez (SC) e Rodrigo Rocha Loures (PR).

Análise da notícia O fiel da balança

É quase quixotesca a tentativa do grupo do PMDB que é contrário ao alinhamento com o PT de lançar um candidato à Presidência da República. Por três vezes, Roberto Requião tentou convencer a legenda a disputar o cargo mais alto do Executivo. Em todas, fracassou. E fracassou porque o ímpeto congressual do partido é maior do que qualquer empreitada palaciana. Em 1989, com Ulysses Guimarães, e em 1994, com Orestes Quércia, o desempenho do partido foi pífio. Chegou-se ao ridículo de a sigla abandoná-los à própria sorte quando não deslancharam nas pesquisas de intenção de votos. Essas duas experiências tornaram-se traumáticas. E a candidatura própria tornou-se incompatível para o partido com as maiores bancadas do Senado e da Câmara. Incompatível, mas explicável. Uma federação de lideranças, sem um condutor para além da burocracia partidária, é incapaz de se unir sem levar em conta os interesses regionais. E nenhum cacique dos estados tem força nacional suficiente para agregar o partido em torno de si próprio. O PMDB, então, torna-se uma massa disforme girando em torno das duas legendas: o PT e o PSDB. E será sempre o fiel da balança para a governabilidade, seja ela qual for. (TP)