Título: Pagamento de empresários
Autor: Bernandes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2009, Cidades, p. 23

Representantes de empresa da área de educação são flagrados no gabinete de Durval Barbosa repartindo suposta propina de R$ 298 mil. Um dos homens abre pacote de dinheiro, separado em cédulas de R$ 100

Cópia de uma folha que consta no inquérito do STJ, com a suposta divisão do dinheiro

Em novo vídeo divulgado ontem, um representante da empresa Info Educacional(1) aparece em uma gravação entregando R$ 298 mil a Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais. De acordo com o inquérito em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o repasse teria a finalidade de alimentar o suposto esquema de corrupção montado por integrantes do governo local. O encontro ocorreu em 20 de outubro. Parte dos recursos teria sido repassada no mesmo dia. A outra, segundo a investigação da Polícia Federal, seria destinada ao governador José Roberto Arruda e ao vice Paulo Octávio, ambos do DEM.

Na gravação, aparecem três homens. Um deles, identificado no inquérito da Polícia Federal como representante da empresa, é apresentado como Mineirinho. O outro seria o professor Adaílton, assessor do ex-secretário de Educação José Luiz Valente. O responsável por entregar o dinheiro é identificado pela Polícia Federal como Massai Kondo.

Na gravação, Mineirinho abre uma pasta preta de onde retira pacotes de dinheiro. ¿Vim trazer aqui uma encomenda¿Pra já?¿, diz. Eles contam o dinheiro e começam a distribuição. Em um dos trechos, Durval Barbosa comenta: ¿Valente¿ sessenta pro Valente, né?¿. No depoimento à Polícia Federal, o ex-secretário de Relações Institucionais explicou que os R$ 298 mil foram divididos. Desse total, R$ 119,2 mil ¿ sendo que duas partes iguais de R$ 59,6 mil teriam sido entregues a Kondo, cuja função seria repassar os valores a Gibrail Gebrim, assessor da secretaria de Educação, e a Fábio Simão, chefe de gabinete do governador Arruda.

O restante (R$ 178 mil) da suposta propina seria distribuído entre Arruda (40%), Paulo Octávio (30%), o ex-assessor de imprensa Omézio Pontes (10%), o ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel (10%) e os 10% restantes ficariam reservados aguardando o comando. Essa suposta divisão de valores consta no inquérito do STJ em uma folha de papel. Os valores teriam sido escritos durante a reunião de Durval com Mineirinho, Kondo e Adaílton.

O governador Arruda nega todas as acusações. Por meio de nota, o advogado de Paulo Octávio, Antônio Carlos de Almeida Castro, esclarece que seu cliente não autorizou em momento algum que qualquer pessoa falasse em seu nome nem recebesse, pedisse ou exigisse dinheiro ou qualquer outra vantagem em seu benefício. José Luiz Valente disse que nunca recebeu dinheiro de assessor e jamais soube da relação de algum deles com Durval Barbosa.

Saúde A Polícia Federal também investiga cinco empresas suspeitas de pagar propina para garantir contratos milionários com o governo. Entre as secretarias envolvidas no esquema, Durval Barbosa citou a pasta da Saúde. A diretora da Uni Repro, Nerci Soares, aparece em dois vídeos. No primeiro, ela entrega pacotes de dinheiro a Durval. No segundo, conta que os recursos paravam nas mãos do então secretário Augusto Carvalho e de Fernando Antunes, ambos do PPS. Procurada, a empresa também não retornou as ligações.

No diálogo gravado em vídeo, Durval Barbosa pergunta: ¿Mas quem que recebe o dinheiro lá?¿. Nerci responde: ¿Ele mesmo. Ele e o irmão dele¿. E Durval completa a pergunta: ¿O Antunes, né?¿ e ela completa: ¿É, ele e o irmão¿. No fim da tarde, o Correio procurou a empresa Info Educacional, mas ninguém retornou as ligações.

Por meio de nota, Augusto Carvalho repudia as declarações de Durval e as classifica como falsas. Informa ter determinado auditoria no contrato da Uni Repro que comprovou irregularidades na execução do contrato. ¿Diante disso, fica claro que as acusações infundadas são nada mais que represálias às ações tomadas durante a minha gestão na Secretaria de Saúde.¿ Por telefone, Carvalho disse que vai à Justiça cobrar que Barbosa e a Uni Repro provem as denúncias feitas contra ele.

Fernando Antunes também nega ter recebido dinheiro do esquema. Segundo Antunes, o problema de Durval com ele e Augusto Carvalho teria começado em agosto passado. ¿O contrato com a empresa de informática estava prestes a expirar. Fomos aconselhados a fazer um emergencial. Mas o Augusto optou pela licitação. A partir dali, Durval ficou louco de raiva. Ele é delegado. Sabe como plantar provas. Não é à toa que montou essa bomba atômica¿, disse.

1 - Tecnologia A Info Educacional é uma empresa que atua no segmento da tecnologia educacional com fins de garantir o desenvolvimento pleno do aluno e do professor. A sede fica em Belo Horizonte e tem filiais em Brasília e em Angola. Além da Secretaria de Educação do Distrito Federal, a empresa divulga em seu site que tem contratos com as secretarias de Educação de São Paulo, do Rio Grande do Norte, do Amapá e de Minas Gerais.

PF encontra R$ 244 mil na casa de Eurides Brito

Edson Luiz

Iano Andrade/CB/D.A Press A distrital Eurides é uma das investigadas na Operação Caixa de Pandora

Segundo fontes da Polícia Federal, durante as buscas e as apreensões realizadas na residência da deputada distrital Eurides Brito (PMDB) teriam sido encontrados R$ 244 mil em espécie e US$ 9 mil. Ao todo, foram arrecadados R$ 700 mil, US$ 30 mil e 5 mil euros em 14 lugares diferentes, incluíndo empresas investigadas ¿ em uma delas havia R$ 4,8 mil. Agentes que fizeram as buscas afirmaram que a deputada estava tranquila e foi gentil em todos os momentos, inclusive chegando a oferecer café e água para os policiais. Desde segunda-feira, a PF começou a examinar os documentos e computadores apreendidos durante a operação, desencadeada na última sexta-feira. A partir dos resultados das análises, poderá haver novas buscas nos próximos dias, dependendo do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Fernando Gonçalves, presidente do inquérito judicial que resultou na operação.

Entre os documentos que estão sendo analisados pelos peritos do Instituto Nacional de Criminalística estão três recibos entregues por Durval Barbosa, que seriam supostos comprovantes de recursos para a compra de panetone. A PF informou que os papéis ainda seriam examinados para checar sua autenticidade. O trabalho também está sendo feito por agentes e delegados da Divisão de Operações de Inteligência Policial Especializada, os mesmo que conduziram as investigações, que ocorreram em segredo de Justiça por solicitação da própria PF. Em 2 de outubro, o delegado responsável pelo caso pediu ao relator do STJ que a ação fosse feita dessa forma. Durval começou a ter seus passos seguidos no dia 7 do mesmo mês.

Outro ministro do STJ, Félix Fischer, determinou a instalação de escutas ambientais, que foram utilizadas por 10 dias, mas Durval relutava em usar o aparelho fornecido pela área de inteligência da PF. Por isso, em 22 de outubro, foram instaladas as escutas ambientais no gabinete do secretário, no 10ª andar do Palácio do Buriti. A câmera oculta registrou os últimos encontros do ex-secretário de Relações Institucionais com empresários e políticos. Ao todo, a ação gerou 54 gravações, incluindo as feitas anteriormente por Durval. Temendo um vazamento, depois de um pedido de vista ao processo que estava sob sigilo, a PF deflagrou a Operação Caixa de Pandora.

Na última segunda-feira, a deputada Eurides Brito divulgou uma nota sobre a Operação Caixa de Pandora: ¿Em razão do noticiado pela imprensa, sobre as denúncias do senhor Durval Barbosa, que envolvem também a minha pessoa, quero informar aos meus eleitores e amigos a minha perplexidade com a acusação do referido senhor. Não me manifestei antes porque fiquei aguardando conhecer o processo, já que nem sabia do que era acusada. Entrega o teu caminho ao senhor e Ele tudo fará. Esta foi, é e sempre será a conduta de minha vida¿.