Título: CPI deixará os distritais de fora
Autor: Sallum, Samanta
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2009, Cidades, p. 27

Deputados ¿se esquecem¿ de que seus pares estão citados nas gravações do suposto esquema de corrupção e decidem investigar apenas o governo

A CPI foi aprovada por unanimidade em reunião realizada ontem à tarde

Os deputados distritais de todas as cores partidárias se uniram ontem para tentar reduzir os prejuízos causados pelas denúncias que recaem sobre a Câmara Legislativa. A estratégia definida em reunião ontem à tarde, que durou quatro horas, foi desviar o foco sobre a Casa direcionando a munição contra o Governo do Distrito Federal (GDF). Pela primeira vez, por unanimidade, os parlamentares decidiram abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a ¿corrupção¿ no Executivo local. Algo inédito na Casa.

Houve pequena resistência de parte da base de apoio ao governo no início das discussões que reuniram 22 distritais(1). Mas os parlamentares não encontraram outra saída senão devolver a ¿batata quente¿ para o GDF. E os resistentes acabaram convencidos, sendo aprovado o requerimento da CPI da Corrupção, como ela foi batizada. A maioria dos deputados entrou e saiu da reunião evitando a imprensa, principalmente os envolvidos nas denúncias.

A pressão e a necessidade de tentar minimizar o escândalo sobre o Legislativo fizeram com que deputados do ninho arrudista se aliassem até com a oposição para não se afogarem sozinhos em meio às denúncias. Caso da líder do governo, deputada Eurides Brito (PMDB), e do presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente (DEM), que se afastou do cargo ontem (leia ao lado). Ambos aparecem em imagens gravadas recebendo dinheiro de Durval Barbosa. Eles concordaram com a CPI da Corrupção, que pretende apurar todas as transações envolvendo empresas prestadoras de serviço e o governo.

A oposição saiu fortalecida da reunião. ¿É uma vitória do Poder Legislativo a abertura da CPI. Uma resposta que a sociedade merece. É preciso apurar doa a quem doer¿, disse o deputado Cabo Patrício (PT), que agora assume a presidência da Câmara. Os governistas, constrangidos, aprovaram a CPI, mas não quiseram dar declarações. Apenas a oposição e o deputado José Antônio Reguffe (PDT) comentaram. Autor de um pedido de CPI, o pedetista comemorou a decisão dos deputados, mas demonstrou preocupação: ¿É preciso que essa CPI funcione mesmo, seja séria, trabalhe¿. Hoje se iniciam as conversas para definir a presidência e a relatoria da CPI, mas os trabalhos da comissão ainda não têm data para começar.

Salvamento

Da CPI, os parlamentares ficam de fora. Aos oito deputados envolvidos caberá responder a processo por quebra de decoro parlamentar na Comissão de Ética da Câmara Legislativa. São eles: Leonardo Prudente (DEM), Benício Tavares (PMDB), Benedito Domingos (PP), Júnior Brunelli (PSC), Eurides Brito (PMDB), Rogério Ulysses (PSB), Rôney Nemer (PMDB) e Aylton Gomes (PMN), licenciado. No entanto, também há desconfiança sobre o resultado dos processos. Outra estratégia de salvamento teria sido montada. Os deputados admitiriam, como já fez Prudente, que receberam dinheiro como caixa 2 de campanha eleitoral, em 2006. Responderiam pelo crime eleitoral, que devido à data, pode prescrever. E não seriam condenados por quebra de decoro parlamentar já que ainda não tinham sido eleitos na época da irregularidade.

A liderança do PT protocola hoje pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra o governador José Roberto Arruda. Dois advogados representando a sociedade civil entregaram ontem na Câmara pedido de impeachment de Arruda.

1 - Ausentes Os únicos distritais ausentes na reunião foram Júnior Brunelli (PSC), que está de licença médica, e Benício Tavares (PTB). Brunelli deveria voltar ao trabalho, mas renovou o pedido de afastamento por questões de saúde.

É uma vitória do Poder Legislativo a abertura da CPI. Uma resposta que a sociedade merece. É preciso apurar doa a quem doer¿

Cabo Patrício (PT), deputado que agora assume a presidência da Câmara

Prudente se afasta Iano Andrade/CB/D.A Press Leonardo Prudente (ao centro): afastamento a mando do coração

Um dia depois de afirmar que não iria se afastar da presidência da Câmara Legislativa, o deputado Leonardo Prudente (DEM) se licenciou do cargo até ¿o fim das investigações¿ sobre as denúncias de recebimento ilegal de dinheiro. Isso significa um tempo indeterminado. Depois de quatro horas de reunião com outros 21 deputados distritais, Prudente avaliou ser a melhor saída no momento. É uma tentativa de reduzir o desgaste de imagem da Casa diante dos vídeos em que diversos parlamentares aparecem recebendo maços de notas de Durval Barbosa, ex-assessor de Relações Institucionais do governador José Roberto Arruda (DEM).

As decisões que saíram da reunião foram anunciadas pelo deputado Cabo Patrício (PT), que agora assume a presidência da Câmara. Entre elas, a eleição de um corregedor especialmente para cuidar do caso. Isso porque o atual, o deputado Júnior Brunelli (PSC), é um dos envolvidos no escândalo e, automaticamente, está impedido de conduzir o processo de apuração interna na casa. A escolha do deputado que vai assumir a função será feita amanhã, por meio de votação, em plenário.

Submundo

O deputado Rogério Ulysses (PSB) voluntariamente pediu o afastamento da presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por também estar entre os citados no inquérito da Polícia Federal que apura o caso. ¿Estou vivendo o momento mais difícil da minha vida. Meu nome foi arrastado para esse submundo da política que eu não conheço. Não há imagem alguma minha, não recebi benefício algum. Meu nome é citado de forma leviana¿, disse Ulysses. Ele e mais sete deputados envolvidos vão responder a processo por quebra de decoro parlamentar na Comissão de Ética da Câmara Legislativa.

Os deputados foram convocados por telegrama para a reunião na tarde de ontem. A estratégia era evitar a sessão em plenário para não ocorrer lavagem de roupa suja na tribuna diante dos jornalistas. A reunião entre os deputados transcorreu sem confrontos. Prudente colocou em pauta seu afastamento, dizendo que ¿o coração o mandava¿ fazer isso. Como não renunciou ao cargo, apenas se afastou, podendo retornar a qualquer momento, não há possibilidade pelo regimento interno de nova eleição para compor a Mesa Diretora. (SS)