Título: DEM dá prazo para defesa
Autor: Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2009, Cidades, p. 28

Cúpula do Democratas decide que o governador Arruda terá oito dias para apresentar explicações à Executiva Nacional do partido

A reunião do DEM ocorreu nas dependências do Congresso: legenda está dividida sobre o desfecho do caso

O governador José Roberto Arruda terá oito dias para convencer os dirigentes de seu partido, o Democratas, de que é inocente. Apontado pela Polícia Federal como parte de um suposto esquema de distribuição de propina a políticos e assessores ligados ao Governo do Distrito Federal, Arruda aguardava desde a última segunda-feira decisão sobre sua permanência na sigla. Quem deu fôlego ao governador foi o presidente da legenda, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), em reunião com dirigentes do DEM, na tarde de ontem no Congresso.

Um advogado do diretório regional acompanhou a reunião da Executiva. Na última segunda, quando recebeu líderes do Democratas na residência oficial em Águas Claras, Arruda disse que tinha condições de provar sua inocência e ganhar as eleições em 2010. O governador também cobrou apoio de seus correligionários.

A legenda estava dividida. Uma ala defendia a expulsão sumária do governador. A outra dizia que esta seria uma medida drástica demais. A solução para o impasse foi dada por Rodrigo Maia, que, em vez de colocar em pauta as duas possibilidades, acabou decidindo sozinho pela abertura de processo, seguido de prazo para defesa.

Alguns parlamentares protestaram. ¿O partido precisava ter coragem neste momento, e essa coragem faltou¿, disse o senador Demóstenes Torres (GO), ao deixar a sala de reunião. Rodrigo Maia respondeu às críticas. ¿Nenhum partido agiu tão rápido em uma situação como esta. Faltou coragem a esses partidos, mas a nós, não. Nós vamos decidir. Não vamos além do dia 10 (de dezembro)¿, afirmou, ressaltando que não há possibilidade de uma prorrogação no prazo.

Antes do anúncio do resultado da reunião, Demóstenes Torres e os líderes do DEM no Senado e na Câmara, Agripino Maia (RN) e Ronaldo Caiado (GO), respectivamente, entregaram documento em que pediam a expulsão sumária de Arruda do partido. Segundo eles, a legenda estaria sofrendo desgaste com a divulgação de sucessivos escândalos, e protelar a decisão quanto ao destino de Arruda dentro da sigla apenas agravaria o quadro. ¿O desgaste já está dado. A situação é muito ruim e de difícil defesa. As imagens são chocantes. Mas estamos dando ao governador o prazo mínimo para defesa, que é de oito dias¿, respondeu Rodrigo Maia, em entrevista coletiva.

Justiça Um dos argumentos apresentados pelo presidente do Democratas contra a expulsão sumária de Arruda foi que o partido poderia ser questionado na Justiça por não ter dado ao governador a chance de se defender. A proposta apresentada por Demóstenes, Agripino e Caiado estabelecia que, após o desligamento do partido, o governador teria 60 dias para apresentar suas argumentações. Se convencesse, poderia voltar. ¿Seria como um afastamento¿, explicou Torres.

Além de Arruda, outros integrantes do DEM de Brasília são citados no inquérito da Polícia Federal. O vice-governador Paulo Octávio e o distrital Leonardo Prudente, que ontem pediu afastamento de 60 dias da Presidência da Câmara Legislativa, também foram alvos de investigação. Quanto à situação deles, o partido ainda não se manifestou. ¿Quando se tem um atropelamento, primeiro se cuida das fraturas expostas. Cortes no supercílio ficam para depois¿, explicou um dos caciques do Democratas.

O relator do processo aberto contra Arruda será o ex-deputado José Thomaz Nonô (AL). Ele foi vice-presidente da Câmara dos Deputados, e está sem mandato nesta legislatura. No fim da reunião do DEM, o deputado José Carlos Machado (SE) havia sido indicado para a relatoria do caso, mas abriu mão do cargo. Nonô avaliará apenas a defesa do governador. Ele não terá acesso ao inquérito da PF ou às gravações feitas pelo delator do esquema, o ex-secretário Durval Barbosa.

Mesmo com opinião diferente de Rodrigo Maia, Caiado, líder do DEM na Câmara, negou que haja um racha na legenda. ¿O que existe são posições diferentes, mas o debate é saudável para a democracia. O direito de defesa é uma das maiores conquistas da nossa sociedade. Essa situação será definida até o dia 10¿, afirmou.

O desgaste já está dado. A situação é muito ruim e de difícil defesa. As imagens são chocantes. Mas estamos dando ao governador o prazo mínimo para defesa, que é de oito dias¿

Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM

Revoada dos tucanos

O PSDB se juntou aos partidos que decidiram deixar a base do Governo do Distrito Federal. Após reunião ontem na sede da liderança da legenda no Congresso, o presidente nacional dos tucanos, senador Sérgio Guerra (PE), determinou que todos os integrantes da sigla renunciem aos cargos que ocupam. O PSDB conta com três secretarias, além de cerca de outros 100 postos na administração.

Entre os tucanos que terão de deixar os cargos estão o secretário de Obras e presidente regional do partido, Márcio Machado, o de governo, José Humberto, e o de Fazenda, Valdivino Oliveira. As baixas são significativas. Márcio Machado era cotado para concorrer à Câmara Legislativa em 2010. José Humberto é muito ligado ao governador José Roberto Arruda e ao vice Paulo Octávio. Valdivino está na administração pública desde o governo de Joaquim Roriz. ¿Nós não queremos mais participar do governo de Brasília. Quem decidir ficar com o governo terá que sair do partido¿, disse Sérgio Guerra.

A decisão causou polêmica entre os dirigentes do Democratas, partido de Arruda. Questionado sobre o afastamento dos tucanos, Rodrigo Maia, presidente do DEM, respondeu: ¿Afastamento do governo da Yêda (Yêda Crusius, governadora tucana do Rio Grande do Sul)?¿, esbanjando ironia. Yêda foi apontada como parte de um esquema de corrupção em seu estado.

PV ¿Nós não precisamos de conselhos ou recomendações de nenhum partido¿, ressaltou o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (GO). O PSDB decidiu deixar a base do governo, mas ainda não abriu processo interno contra integrantes da legenda que são citados no inquérito da Polícia Federal, que culminou com a Operação Caixa de Pandora, deflagrada na última sexta-feira. Entre os citados está Márcio Machado. ¿Esse é um episódio local. Nosso papel é não aprovar mais a conduta do governo do DF¿, disse Sérgio Guerra.

O PV também saiu da base do governo. O partido contava com um cargo no segundo escalão. Eduardo Brandão, secretário-nacional da legenda no país, era subsecretário de Meio Ambiente. Com a saída do PV e do PSDB, chega a cinco o número de partidos que deixaram a base do governo desde a última sexta-feira. (DL)

Lula evita críticas Ricardo Stuckert/PR Lula, em Portugal, declarou que a avaliação final caberá à Justiça

De Portugal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou os desdobramentos da Operação Caixa de Pandora, deflagrada, sexta-feira última, pela Polícia Federal. Lula declarou que é preciso aguardar o término das investigações para fazer algum ¿juízo de valor¿ sobre a conduta dos acusados. O presidente disse ainda que ¿imagem não fala por si¿, em referência à série de vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Intitucionais do GDF Durval Barbosa, delator de um suposto esquema de pagamento de propina a políticos e assessores ligados ao governo local.

¿Vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final. Aí, você pode fazer juízo de valor. E, mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça¿, afirmou o presidente, que participa, na cidade de Estoril, da reunião da Cúpula Ibero-Americana.

O tom sereno adotado por Lula é repetido pelas lideranças do PT no Congresso Nacional. ¿As denúncias são fortes. Há evidências de corrupção, mas é preciso investigar e se dar amplo direito de defesa¿, disse ao Correio o líder do partido na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

Nos bastidores, duas análises são feitas sobre o posicionamento público dos petistas. A primeira é de que com essa fala Lula dá a Arruda o mesmo tratamento que receberam todos os seus aliados que foram alvo de algum tipo de acusação. A outra é a de que, para o PT, eleitoralmente, é melhor manter o governador do DF em sangria, do que vê-lo fora do Executivo local. Arruda, assim como o resto de seu partido, é aliado do PSDB nas próximas eleições. Os dois partidos farão oposição à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República. Por essa leitura, quanto mais durar o desgaste na oposição, melhor. (DL)

Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação¿