Título: PSDB testa chapa única
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2009, Política, p. 9

Com a crise do partido Democratas, tucanos voltam as atenções para a dupla Serra e Aécio em 2010. Mineiro já avisou que não aceita

Maia, presidente do DEM: ¿Não é o momento de tratar da aliança. O melhor é resolver a crise¿

Alaor Filho/AE - 23/3/06 Bornhausen: retorno do antigo PFL ao centro das negociações

Tucanos e democratas suspenderam temporariamente as conversas sobre a indicação do vice na chapa da oposição para a sucessão presidencial de 2010 e o primeiro reflexo foi o PSDB ¿ conforme apresentado no programa do partido na TV ¿ tentar averiguar se há uma aceitação de dupla José Serra e Aécio Neves em chapa pura. No DEM, a ordem é só retomar as conversas quando houver clareza sobre a extensão do escândalo que implodiu os projetos do DEM no Distrito Federal. ¿Não é o momento de tratar da aliança. Em meio à crise, o melhor é resolver a crise primeiro. Acho engraçado que estejam falando de vice agora se não escolheram nem o candidato¿, diz o presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Embora ninguém duvide de que os dois partidos estarão juntos em 2010, os tucanos consideram que a crise no Distrito Federal pode alterar os interlocutores dessa aliança. A sensação do PSDB é a de que o cenário hoje é de enfraquecimento da posição de Rodrigo Maia como principal ator do processo de união entre os dois partidos. Por isso, enquanto Maia cuida da crise interna, as relações do DEM com o PSDB se deslocam para os dois personagens que comandaram a aliança com Fernando Henrique Cardoso em 1994, o ex-vice-presidente da República Marco Maciel e o ex-presidente do antigo PFL Jorge Bornhausen(1). Como novidade no grupo, a estrela do DEM em ascensão, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Essa nova configuração é favorável ao governador de São Paulo, José Serra, uma vez que Maia desde outubro declara sua preferência pela candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, por considerar o mineiro mais hábil para implodir a aliança que Lula tenta montar em torno da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, do PT.

Da parte dos tucanos, sem a certeza do que o futuro reserva aos democratas, a ordem inicial do programa de TV do partido, exibido na última quinta-feira, foi apostar numa união entre Serra e Aécio. Para muitos soou como um indício de que, se o estrago no DEM não ficar restrito ao Distrito Federal, a saída será mesmo a chapa pura, com Aécio na posição de vice. Essa configuração, no entanto, tem um problema: Aécio não aceita ser candidato a vice. ¿O jogo eleitoral será pesado e temos que usar todo o nosso potencial. Acho que a ideia da chapa pura, olhando no contexto de hoje, é a solução. E, sobretudo, nos dá mais chance de vitória¿, comenta o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ).

Nos últimos 30 dias, a relação entre Aécio e Serra estremeceu. Em conversas reservadas, os tucanos comentam a respeito de um diálogo onde Aécio teria dito a Serra que se o paulista ¿amarelasse agora¿, daria tempo para que ele (Aécio) viabilizasse uma candidatura de janeiro a abril. ¿Se você amarelar em março, inviabiliza o partido¿, teria dito o governador mineiro, segundo relato dos próprios tucanos. Serra não disse nem sim nem não. Apenas afirmou que estava cedo para tratar disso, já que os dois tinham estados para governar.

Caso o partido não decida o nome do candidato até o fim deste mês, ou até 15 de janeiro, a intenção de Aécio é sair de cena e deixar Serra sozinho como o nome do PSDB à sucessão presidencial. O governador mineiro se dedicaria então à sua candidatura ao Senado e à montagem do palanque em Minas Gerais. Ou seja, se o PSDB não se decidir, Aécio tomará a decisão pelo partido.

1- Comandante Jorge Bornhausen presidiu o PFL por mais de 10 anos. Saiu em 2007, quando o partido mudou de nome para Democratas e, para provar que a ordem era mudar, entregou o bastão à ala mais jovem, a nova geração, composta, por exemplo, por nomes como Rodrigo Maia e ACM Neto. Foi Bornhausen quem, em 2006, comandou a assinatura do acordo que fez de José Roberto Arruda candidato a governador e Paulo Octávio, vice.

Análise da notícia À espera da aposta

O DEM está hoje como aquele jogador experiente que chega na mesa de pôquer e não tem dinheiro para apostar muito alto. Fica por ali, esperando uma chance para jogar apenas quando estiver com a mão boa. Hoje, o partido presidido por Rodrigo Maia, do Rio de Janeiro, não tem como pressionar o PSDB a lhe garantir a vaga de vice e nem tem essa ânsia toda em ocupar o cargo assim, a qualquer custo.

A ordem agora no partido é fazer o que for melhor para garantir a vitória dos aliados tucanos. E se as maiores chances estiverem na chapa pura do PSDB, o partido aceitará com tranquilidade. Não será aí o problema do DEM.

A dificuldade do PSDB é interna. Aécio Neves ficou no partido com o discurso dos integrantes da cúpula tucana de que haveria uma prévia para a escolha do candidato a presidente. As prévias partidárias terminaram se perdendo no horizonte do tempo.

Os ventos do momento indicam que vem por aí um jogo de pressão e contrapressão: os mineiros vão tentar empurrar para os paulistas a responsabilidade sobre não ter escolhido logo um candidato e deixar para eles a responsabilidade se vier uma derrota em 2010.

Os paulistas, por sua vez, se organizam para fazer um grande apelo para que Aécio Neves aceite a vice-candidatura. E vão tentar empurrar para o político mineiro a responsabilidade de não ter feito o que seria melhor para o partido no coletivo, se o PSDB fracassar em 2010. É o pôquer tucano, onde o DEM será apenas espectador. (DR)