Título: PV sofre para escolher vice
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2009, Política, p. 7

Para inflar a candidatura de Marina, presidente da sigla tenta trazer nomes de outros partidos e, assim, ampliar o tempo de televisão. Fernando Gabeira prefere optar por empresários ¿verdes¿

Meta da legenda é que Marina Silva feche o ano com patamar de 10% nas pesquisas de intenção de voto

Com a candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) engatinhando, a cúpula do PV diverge sobre qual a melhor saída para a escolha do vice na chapa que entrará na disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem. O presidente da sigla, o vereador paulistano José Luiz Penna, pretende colocar o posto no balaio de negociações para atrair partidos à empreitada e aumentar o tempo de televisão durante o período de propaganda eleitoral gratuita. As pretensões do dirigente verde colocam como plano B a proposta defendida pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que prefere uma opção caseira, adotando um dos empresários recém-filiados ao partido. Três são os mais cotados: Guilherme Leal, da Natura; Roberto Klabin, da SOS Mata Atlântica; e Marcus Elias, da Parmalat.

Penna afirmou que é melhor deixar em aberto a escolha do vice e não engessar a chapa durante a pré-campanha. Segundo ele, uma opção verde poderia reforçar críticas de que o discurso de Marina será monotemático. ¿Não podemos lançar o vice antes da hora. Para frente, pode ser que o quadro partidário demonstre a necessidade de uma composição política com uma força interessante do ponto de vista programático, com um vice importante para a solidificação de uma aliança¿, disse o presidente do PV.

O problema dos verdes é que as opções são escassas. Até agora, há uma negociação com o PSol, que está dividido com uma leve tendência a favor do acordo. Mas a sigla de Heloísa Helena, vereadora em Maceió, não atende os interesses dos estrategistas de Marina, principalmente pela escassez de tempo de televisão. Juntos, os dois partidos teriam pouco menos de dois minutos nos programas eleitorais para ¿vender¿ a candidata. ¿Estamos discutindo com o PSol, mas a solução não é por aí¿, reconheceu Penna.

A saída, então, seria buscar algum partido da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. Seria uma árdua estratégia, pois passaria por desidratar a campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Há um desejo de parte dos verdes por uma coligação com o PDT. Logo que a senadora deixou o PT em busca de novos ares, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que poderia apoiá-la. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente pedetista licenciado, no entanto, não vê qualquer abertura para um acordo com o PV.

¿O nosso problema é compensar o pouco tempo de televisão que temos. Precisamos encontrar uma saída¿, disse o deputado Fernando Gabeira. O parlamentar pelo Rio de Janeiro acredita que a saída seria buscar alternativas próprias da era digital. ¿Temos que trabalhar em cima da internet, com Youtube, telefone celular¿. Para Gabeira, a tendência é a escolha de um dos três empresários.

Nômade

Gabeira e Penna rejeitam comentários de que a pré-candidatura da senadora está patinando por não ter deslanchado nas pesquisas. Para o presidente, as sondagens (1)atuais são fotografias de popularidade. ¿A gente não quer crescer desmedidamente, nem temos condições para isso¿, disse José Luiz Penna. Na última pesquisa do Instituto Sensus, a senadora verde varia de 5,9% a 10,4%. ¿Estamos dentro do planejado, encerrar o ano no horizonte de 10%. Daí em diante é acelerar para chegarmos ao 2º turno¿, disse. Para tentar acalmar insatisfeitos no partido, Marina tem acelerado as andanças pelo país. Neste fim de semana, cumprirá agenda em Belém, com entrevistas para rádios e televisões dos estados do Norte, além de visitas a Petrolina (PE) e Juazeiro do Norte (CE). Na semana que vem, ela participa, em Copenhague, da Conferência Mundial do Clima.

1 - Ceticismo em alta O desempenho da senadora Marina da Silva (PV-AC) nas pesquisas de intenção de votos ampliou o número de céticos sobre sua real possibilidade de concorrer ao Planalto. A cúpula do PSDB ainda não desistiu de tentar acordo com o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) para ele ser o candidato ao governo do Rio de Janeiro e colocar o nome tucano à Presidência com palanque forte no estado. De olho em uma vaga ao Senado, o deputado disse que, desde o lançamento da candidatura de sua correligionária, as conversas com o PSDB cessaram. ¿Mas ainda espero contar com eles¿, afirmou Gabeira.

Análise da notícia Haja internet e criatividade

A candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) tem capacidade de ser um divisor de águas. Isso se conseguir mostrar que campanha de rua na era digital, com exército de spams na internet e torpedos nos celulares, torna-se viável mesmo sem tempo de televisão e partidos aliados. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mostrou que a estratégia tem potencial: ele precisou de todo aparato digital para se solidificar internamente como candidato do Partido Democrata.

Depois de escolhido, no entanto, Obama teve ao seu dispor toda a estrutura da agremiação, inclusive a televisiva, e um forte sentimento de necessidade de mudança num país governado oito anos pelo conservador George W. Bush. Se Marina tornar-se competitiva a ponto de sonhar com o segundo turno, portanto, será um feito ainda maior do que o do norte-americano.

Até agora, ela tem no Rio seu local mais competitivo, com a pré-candidatura do deputado Fernando Gabeira ao Senado. O partido pretende contornar os obstáculos fincando bandeiras verdes em São Paulo, Minas, Bahia e Pernambuco. É uma estratégia ambiciosa, que deve vir aliada de nomes fortes. Por enquanto, os políticos que circulam como os mais prováveis candidatos ¿ Fábio Feldman (SP), José Fernando Aparecido (MG), Sérgio Xavier (PE) e Luiz Bassuma (BA) ¿ não se mostram viáveis. (TP)