Título: Gigante sem limites
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2009, Economia, p. 18

Pão de Açúcar compra Casas Bahia, reforça liderança e contabiliza receita de R$ 40 bilhões. Meta é manter expansão e atingir todo o país

Klein (e), das Casas Bahia, e Diniz, do Pão de Açúcar: negócio com 1,8 mil lojas, 137 mil funcionários e o quarto maior faturamento do Brasil

O varejo brasileiro assistiu ontem ao nascimento de mais um gigante. Depois de dois meses de negociação, o grupo Pão de Açúcar (dono do Ponto Frio e do Extra) anunciou a compra das Casas Bahia em uma fusão que envolve a troca de ações e a criação de uma terceira empresa que vai unificar as operações de comércio eletrônico e as vendas de bens duráveis. Com a aquisição, o império administrado por Abílio Diniz passará a contar com 1.807 estabelecimentos em todo o país ¿ entre super e hipermercados, postos de combustíveis e drogarias ¿, 137 mil funcionários e terá um faturamento anual de R$ 40 bilhões. A incorporação, conforme levantamento da Consultoria Economática, transforma o grupo no quarto maior entre as companhias de capital aberto no Brasil, ficando atrás somente de Petrobras, Vale e Gerdau.

Pelo porte e pela rapidez, a associação surpreendeu até mesmo os concorrentes. Em junho deste ano o Pão de Açúcar havia adquirido o Ponto Frio e não dava sinais de que voltaria às compras tão cedo. A explosão do mercado interno e a expansão do setor de eletroeletrônicos, no entanto, fizeram com que Diniz refizesse as contas e avançasse sobre a tradicional rede varejista. ¿É um jogo de ganha, ganha, ganha¿, resumiu o empresário que, ao lado de Michael Klein, diretor executivo das Casas Bahia, oficializou o casamento das marcas.

Os planos de Diniz são ambiciosos. Embora a nova empresa ¿ ainda sem nome ¿ já chegue ao mercado com 1.015 lojas, faturamento estimado de R$ 18,1 bilhões e tenha presença em 337 municípios e 18 estados, além do Distrito Federal, o grupo Pão de Açúcar quer mais: ¿A intenção é ocupar não só todos os estados, mas se possível todos os municípios do país. O grande beneficiado será o consumidor final¿, completou Abílio Diniz. A sociedade deverá ser concluída em 120 dias. Depois da integração, o Pão de Açúcar terá 50% mais uma ação na nova empresa.

Líder no comércio de eletros e móveis para as classes C, D e E, as Casas Bahia terão papel fundamental na estrutura organizacional das demais redes e no conjunto do grupo. O modo como cada uma das redes passará a atuar ainda não está definido, mas a tendência é que lojas sejam unificadas, outras fechadas e algumas abertas. Os controladores não deram detalhes sobre se haverá ou não demissões, mas especialistas do setor advertem que em negociações dessa natureza a dispensa de mão de obra é inevitável. ¿A expectativa dos administradores é conseguir sinergia em muitas áreas e isso envolve reduzir custos¿, explica Paulo Pacheco, coordenador do Ibmec-MG.

Riscos

A concentração de mercado também preocupa os analistas. Consultados pelo Correio, alguns acreditam que as redes ganharão mais do que os clientes e que a parceria de mercado tende a revelar uma tendência que vem se consolidando no país nos últimos anos. ¿Quando concentrações desse tipo surgem no Brasil os consumidores sempre ficam apreensivos e eles têm razão em ficar. O mesmo acontece com os fornecedores, que passam a ter menos opções para quem vender suas mercadorias¿, reforça Gilson de Lima Garofalo, professor de Economia da PUC-SP.

Na disputa pela preferência dos consumidores, as pequenas redes também terão de se adaptar. Em algumas regiões do Brasil, a união do Pão de Açúcar com as Casas Bahia é uma ameaça real a empresas tradicionais que, sem ter como barganhar preços com fornecedores ou logística adequada, acabarão amargando prejuízos. Segundo Garofalo, as empresas familiares ¿ mesmo as de grande porte ¿ correm riscos semelhantes de serem atingidas. ¿Por isso é importante preparar os sucessores e ficar atentos à globalização e aos movimentos de mercado¿, justifica o especialista.

É um jogo de ganha, ganha, ganha¿

Abílio Diniz, presidente do grupo Pão de Açúcar

Memória Doceira é 1º negócio

A origem do maior grupo varejista do país remonta à primeira metade do século passado, quando o português Valentim dos Santos Diniz abre as portas da Doceira Pão de Açúcar em 1948, em São Paulo. Os serviços inovavam por oferecer buffet, doces e salgados que possuíam embalagens diferenciadas direcionadas a empresas e eventos sociais como casamentos e batizados. Em 1952 é aberta uma filial. Os negócios se expandem ao longo dos anos e, em 1959 o empresário decide investir em auto-serviço e adquire alguns estabelecimentos antigos, criando o primeiro supermercado da rede Pão de Açúcar. Em maio de 1971 é inaugurado o primeiro Jumbo, em Santo André (SP). O Grupo Pão de Açúcar consolida-se como uma grande potência varejista, outras aquisições são feitas e, no fim dos anos 80, o grupo inaugura uma nova geração de hipermercados, o Extra. Um dos últimos lances do grupo em seu plano de expansão foi a compra da rede Ponto Frio, em junho último.