Título: Cidadão paga a conta
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 10/12/2009, Economia, p. 23

Pesquisa do IBGE mostra que a população gasta mais que o governo com remédios, médicos e hospitais

O governo perde para as famílias quando se trata de gastos com a saúde. O cidadão tem mais despesas com remédios, atendimento hospitalar e serviços relacionados a atenção à saúde do que o setor público. A diferença paga pela população pelos cuidados médicos é de 38% maior do que os desembolsos do Estado. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007, enquanto as famílias compraram R$ 128,9 bilhões em bens de consumo e serviços neste setor, a administração pública gastou R$ 93,4 bilhões.

Todo esse montante significa que cada brasileiro pagou, em média, R$ 673,10, para manter ou tentar recuperar a saúde. Em contraponto, as despesas do governo com cada cidadão que necessitou dos serviços públicos de saúde ficou em R$ 487,70. ¿Isso mostra que existe espaço de fato para o poder público ampliar seus investimentos. As despesas no setor privado são maiores não por esses gastos seremexcessivos, mas porque as despesas públicas não são suficientes¿, avaliou o ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e atual diretor do centro de relações internacionais em saúde da instituição, Paulo Buss.

PIB

Se forem somados os gastos dos setores público e privado, os recursos seriam equivalentes a 8,4% do Produto Interno Bruto (PIB) ¿ a soma de tudo que é produzido no país ¿, quase o mesmo volume aplicado por nações desenvolvidas, que investem, em média, 9% do PIB, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). ¿Não é tão ruim. Estamos próximos da média¿, afirmou o pesquisador do IBGE Ricardo Moraes. A despeito do otimismo de Moraes, quando os dados são separados, o investimento público fica aquém da média mundial. Nessa comparação, representa apenas 3,5% do produto interno, contra participações mais elevadas dos Estados Unidos (16%), França (11%), Alemanha (10,4%) e Canadá (10,1%).

No Brasil, mesmo com investimentos modestos, os gastos públicos com saúde subiram 32,6% entre 2005 e 2007. ¿Houve crescimento porque mais gente começou a procurar o sistema de saúde. Por outro lado, houve também uma qualificação maior no atendimento. Somos um dos países que têm o maior número de transplantes de órgãos no mundo, por exemplo¿, justificou Buss. ¿Temos apresentado melhoras no atendimento, embora não deixe de sempre existir algum grau de insatisfação.¿

Impacto

Segundo a pesquisa do IBGE, o setor de saúde no Brasil era responsável por 4,2 milhões de postos de trabalho em 2007 ¿ o equivalente a 4,4% dos empregos do país. O rendimento médio dos trabalhadores naquele ano ficou em R$ 20,5 mil anuais. O estudo levantou ainda o impacto na economia. Entre 2005 e 2007, a renda proveniente de atividades relacionadas à saúde evoluíram 8,9% e o setor movimentou R$ 137,9 bilhões no último ano analisado. Desse montante, R$ 48 bilhões corresponderam à saúde pública.