Título: O maior índice desde 2005
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Fonte: Correio Braziliense, 10/12/2009, Economia, p. 28

Inflação para o mês de novembro sente efeitos dos preços das passagens aéreas e dos alimentos, superando taxas dos últimos três anos. Redução do IPCA é esperada para janeiro de 2010

Anderson Schneider/CB/D.A Press - 5/9/98 O preço da batata inglesa foi decisivo na elevação do IPCA

Maiores preços de alimentos e passagens aéreas pressionaram a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em novembro para o maior patamar desde maio. O indicador avançou 0,41% em novembro, após alta de 0,28% em outubro, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior taxa para um mês de novembro desde 2005.

¿Os números de inflação divulgados evidenciam apenas uma pausa na tendência de queda da inflação no país, que inclusive deve perdurar em dezembro em função de efeitos sazonais¿, disse Luciano Rostagno, analista na CM Capital Markets. ¿A inflação deve retomar a trajetória descendente já a partir do primeiro mês do ano que vem, quando a deflação dos IGPs (índices gerais de preços no atacado) deste ano começarem a exercer maior efeito sobre os preços ao consumidor. Além disso, projetamos continuidade de queda da inflação do setor de serviços, uma das fontes de preocupação do BC... Apesar da alta, os números do IPCA não alteram o cenário benigno de inflação.¿

O IBGE acrescentou que após quatro meses em queda, os preços de Alimentação e bebidas subiram em novembro, passando de recuo de 0,09% em outubro para alta de 0,58%, sendo a principal pressão para cima no índice, com 0,13 ponto percentual de contribuição. Segundo o instituto, os preços de diversos produtos alimentícios aceleraram-se e boa parte foi prejudicada pelo clima e por problemas de oferta.

Os destaques de alta foram batata-inglesa, com a principal contribuição individual do mês, de 0,06 ponto percentual, e cebola. ¿Em novembro, a batata, como outros produtos agrícolas (cenoura e cebola), foi pressionada pelo clima. No ano, a batata ainda sofre com a menor área plantada¿, afirmou a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos. Também tiveram aumentos produtos como frutas, açúcar, óleo de soja e farinha de mandioca, devido a problemas de oferta, além da pressão de cervejas e refrigerantes em decorrência do clima mais quente e da proximidade das festas de fim de ano.

Os combustíveis diminuíram a alta ¿ 1,74% em outubro para 1,12% em novembro¿, mas as passagens aéreas saltaram 18,03% em novembro após caírem 12,43% no mês anterior, fazendo o grupo Transportes acelerar o aumento para 0,61%, ante 0,51% antes. Outras pressões vieram de serviços de cabeleireiro, com avanço de 1,92%, e recreação, com 0,73%, ambos dentro do grupo Despesas Pessoais, cujo aumento passou de 0,20% em outubro para 0,55% em novembro. O grupo Artigos de residência aumentou a elevação de preços de 0,38% para 0,43%.

Visão de especialista De olho no futuro

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu negativamente em novembro, mas deve voltar a ter um comportamento mais ameno em dezembro e fechar o ano em 4,2%, abaixo do centro da meta oficial (4,5%). O cenário de razoável tranquilidade deve continuar durante 2010. Por isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) só precisará aumentar a taxa de juros a partir de setembro do ano que vem. O objetivo será conter os preços em 2011, ano em que um crescimento econômico mais consistente pode exercer uma pressão inflacionária um pouco mais forte. As afirmações são do economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria.

¿Mesmo que a economia cresça acima de 5% no ano que vem, essa expansão será em cima da capacidade ociosa da indústria. Será uma recuperação dos níveis de produção anteriores à crise. Haveria problema se a procura por produtos corresse numa velocidade maior do que a oferta¿, explica Barbosa. Esse descasamento pode ocorrer em 2011 caso os investimentos nas linhas industriais não sejam retomados. A projeção da Tendências é de que o Copom manterá os juros inalterados em 8,75% até setembro de 2010, quando deve começar um processo de alta e chegar a 10% em dezembro. O IPCA ficaria também em 4,2%, recuando para 4% em 2011 por causa da reação do BC.

O aumento do nível de renda dos empregados da indústria, esperado para o ano que vem com a recuperação geral da economia, deve pressionar os preços dos serviços. Mas essa influência deve ser compensada pela expectativa de queda nos preços administrados, como os de energia elétrica, telefonia, água e esgoto. Essas tarifas, controladas pelos órgãos do governo, sofrem o impacto dos índices gerais de preços, que registrarão deflação em 2009.

O principal culpado pela alta da inflação foram os alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras. Isolado, o grupo foi responsável por 0,1%. Sem esse efeito, causado pelo excesso de chuvas, o IPCA teria sido de 0,31%. ¿Esses produtos são muito voláteis. Não dá para saber como vão se comportar¿, diz Barbosa. Segundo ele, no mês passado também houve influência de itens como passagens aéreas, com crescimento de 18% nos preços. Voar deve ficar cerca de 6% mais caro em dezembro, quando a inflação ficaria em torno de 0,30%, na previsão da Tendências (Ricardo Allan).

Mesmo que a economia cresça acima de 5% no ano que vem, essa expansão será em cima da capacidade ociosa da indústria. Será uma recuperação dos níveis de produção anteriores à crise¿

Gian Barbosa, economista, da Tendências Consultoria

Pressão diminui

A inflação ao consumidor em São Paulo desacelerou no início desse mês, devido a um arrefecimento dos preços de alimentos, habitação e transportes. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,20% na primeira quadrissemana de dezembro, ante alta de 0,29% no mês de novembro, informou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) nesta quarta-feira. Os custos de Alimentação tiveram aumento de 0,17%, depois da alta de 0,30% no mês passado. Os de Transportes elevaram-se em 0,17%, contra 0,35% antes. Os preços de Habitação subiram 0,07% na abertura do mês, após alta de 0,21% em novembro. O IPC-Fipe da primeira quadrissemana mediu os preços de 8 de novembro a 7 de dezembro.