Título: Dividido, PSDB adia reunião em Teresina
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2009, Política, p. 4

Tucanos cancelam evento do partido no Piauí e mostram receio de aumentar racha interno

Rodrigues: ¿O partido está numa encruzilhada: ou vai no recall de Serra ou promove uma reflexão sobre aliança ampla com Aécio¿

Três justificativas de público e uma razão nos bastidores. Divididos e com a intriga correndo solta a respeito da candidatura do PSDB a presidente da República, os tucanos decidiram adiar a reunião do partido prevista para hoje em Teresina, no Piauí. Oficialmente, no entanto, a divisão interna ficou sob o tapete de desculpas.

A primeira delas foi a dificuldade de ¿logística¿ para que todos os integrantes da legenda pudessem chegar à capital piauiense antes das 13h desta sexta-feira. Enquanto alguns falavam da logística, outros citavam o delicado estado de saúde do presidente do partido, Sérgio Guerra, que há uma semana esteve internado em São Paulo, mas na última terça-feira já estava de volta a Brasília. Por último, alguns tucanos disseram que, como o governador de São Paulo, José Serra, e diversos parlamentares embarcaram ontem para Copenhague, onde vão participar da reunião Cop-15, o encontro de Teresina ficaria esvaziado.

Na verdade, comentam alguns integrantes do partido, a ordem foi evitar que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, colocasse a legenda na posição de escolher logo o nome do representante do PSDB na corrida presidencial do ano que vem. Aécio tem cobrado que essa definição ¿ se o candidato será ele ou Serra ¿ se dê o mais rápido possível para que haja tempo de organizar os palanques estaduais e atrair aliados, de forma a quebrar a espinha dorsal dos partidos que começam a se aglutinar em torno da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

¿Encruzilhada¿ ¿O partido está numa encruzilhada: ou vai no recall de Serra nas pesquisas ou promove uma reflexão sobre uma aliança mais ampla com Aécio¿, diz o deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), ao garantir que o governador mineiro não aceitará o papel de candidato a vice na chapa. Na última segunda-feira, na convenção do PSDB mineiro, Aécio declarou que, se o partido demorar muito a escolher um caminho, ele se voltaria para Minas Gerais.

Para muitos dos presentes na convenção mineira, ficou claro que, se a escolha do candidato a presidente não se der até meados de janeiro, o governador seria candidato ao Senado. Na mesma ocasião, Aécio declarou, num lusco-fusco entre a brincadeira e uma cobrança séria, que essa decisão sobre a candidatura presidencial poderia ocorrer ainda hoje no encontro de Teresina. Para a cúpula do partido, foi vista como a intenção de Aécio de, no caso da decisão não ocorrer no Piauí, ele lançar uma candidatura ao Senado, deixando Serra sozinho na arena.

Como Serra resiste a aceitar a definição do candidato este ano e o partido não está seguro do melhor caminho a seguir, a ordem foi cancelar a reunião e deixar a retomada das conversas para janeiro, quando o governador mineiro fará uma nova investida. A preocupação dos tucanos mineiros hoje é tentar estancar esse desfile solitário do governo no ringue da sucessão presidencial. Para os aecistas(1), está cada vez mais claro que, enquanto os tucanos se dividem em torno do candidato, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, desfila e, embalada na popularidade do presidente Lula, vai aos poucos ganhando corpo e pontos na pesquisa. A intenção deles é romper essa onda.

1- Oposição O mineiro Aécio Neves é a favor de uma definição rápida porque considera o tempo um aliado para atrair outros partidos em torno do bloco de oposição à candidata do presidente Lula, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2010. Por enquanto, estão juntos com o PSDB apenas o PPS e o DEM, que ainda tenta administrar os impactos negativos da crise causada pelas denúncias de corrupção envolvendo o único governador eleito pelos democratas, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, que ontem se desligou do partido.

Campanha na televisão

Lúcio Vaz Zuleika de Souza/CB/D.A Press/Reprodução da TV Globo-10/12/09/D.A Press Trecho do programa do PT exibido na noite de ontem: Dilma como candidata de Lula para 2010

A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi a estrela maior do programa do PT veiculado ontem no horário gratuito destinado aos partidos políticos. Em clima de campanha eleitoral, a ministra foi apontada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a responsável pelos principais programas do governo. Ela teve mais tempo na tela do que o presidente. Foram exatos 91 segundos, contra 61 destinados a Lula. O presidente do partido, o deputado Ricardo Berzoini (SP), teve 17 segundos. O novo presidente, José Eduardo Dutra, falou apenas uma frase: ¿Um tempo novo para o PT¿. O tempo total de programa foi de 10 minutos.

Dilma e Lula destacaram logo no início os três pontos centrais da campanha, ou melhor, do governo petista: os programas Minha Casa, Minha Vida, o Pré-sal e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Lula logo procurou passar os louros para a sua pré-candidata: ¿Tem gente que pensa que eu faço tudo sozinho. Mas, na verdade, eu tenho é uma excelente equipe, com ministros de vários partidos. Um belo exemplo é a ministra Dilma, que, além de coordenar o ministério, é responsável pelo PAC, pelo Pré-sal e pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Dilma confirma a regra de que mulher faz tudo com muito amor, muita dedicação e competência¿.

Um locutor acrescentou que a ministra modernizou o sistema elétrico do país e, ao mesmo tempo, criou o programa Luz para Todos, beneficiando quase 11 milhões de pessoas pobres. Começou, então, o ataque direto ao PSDB. O locutor seguiu: ¿Os brasileiros têm péssimas lembranças dos governos do PSDB. Numa pesquisa recente, 68% disseram que o governo FHC se preocupava mais com os ricos do que os pobres; 66%, que ele privatizou mal as estatais; 56%, que discriminava o Nordeste¿. Mais adiante, disse que, no governo Lula, teriam sido criados 12 milhões de empregos com carteira assinada. Com o PSDB, teriam sido cinco milhões.

O presidente Lula afirmou que ¿o mundo está admirado com esse novo Brasil que está nascendo, porque, entre outras coisas, provamos que é possível unir democracia, crescimento econômico e redução da pobreza. A gente está sendo respeitado lá fora porque a gente aprendeu primeiro a respeitar o nosso povo aqui dentro¿.

Dilma completou: ¿Presidente, eu penso igual ao senhor. Tem governo que fez pouco e acha que fez muito. Nós não. A gente fez muito, mas sabe que é preciso fazer muito mais. O Brasil melhorou, mas, como o senhor mesmo diz, devemos sempre fazer mais¿.

No final, uma breve alusão ao partido. ¿E cresce a esperança. Na maior eleição da sua história, o PT renova toda a sua direção. É tempo de avançar¿, diz o locutor. Berzoini e Dutra fazem uma saudação: ¿Um novo tempo para o Brasil¿, diz o atual presidente. ¿Um novo tempo para o PT¿, fala o presidente eleito. Lula volta a passar a bola para a ministra: ¿E o melhor, Dilma, é que construímos uma base sólida, para o país continuar avançando nos próximos anos¿. ¿Sem dúvida, presidente, o Brasil, hoje, está pronto para dar um novo salto na sua história¿, completa a pré-candidata.